quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Desconstruindo Dilma


                                       

       A pergunta de Miriam Leitão - como foi possível esse déficit primário  de R$ 60 bilhões? - é respondida pela própria na coluna desta 4ª feira.  Essa estória, se foi escrita por quem se intitulava a Presidenta, nós a devemos a Lula da Silva, que a inventou como candidata para sucedê-lo, malgrado ponderações de notáveis petistas que tentavam dissuadi-lo desse projeto. (V. coluna de Ricardo Noblat).

       Tenho para mim que o ex-torneiro mecânico pensava precipuamente nele mesmo ao indicar a sua chefa de gabinete. Queria uma criatura sua, que pudesse controlar e que, ao cabo do mandato, lhe cedesse a vez. Ao fazê-lo, mostrou enorme egoismo - pondo de lado nomes mais preparados para o desafio.

        Se em um país mais desenvolvido politicamente essa prestidigitação seria q  uase impossível, Lula sabia que mesmo tosca candidata teria grandes chances para sucedê-lo em Pindorama, dadas as regiões com grande aporte do Bolsa-família, como o Nordeste. Dilma virou a Mulher do Lula e não teve dificuldade em derrotar a José Serra, que em outro cenário venceria com facilidade a despreparada pupila, dado o seu traquejo, experiência executiva e brilhantismo.

       Facilitou-lhe a tarefa a discórdia no PSDB (pela surda oposição de Aécio Neves), que acabou por dar-lhe candidato a vice bastante opaco. A estória do triunfo da Mulher do Lula ainda não foi contada, e constitui triste relato do subdesenvolvimento político no Brasil.

        De tudo isso  Lula da Silva  em fim de contas é o responsável. Ao eleger a despreparada Dilma, pensando preparar a própria sucessão, cometeu enorme erro de que pensava valer-se no prazo de quatro anos, mas que, em fim de contas, e por crudelíssima ironia, a conta seria apresentada ao Povo brasileiro.

        No que o senhor Rui Falcão chama, no mais puro estilo do vitimismo petista, de "sórdida campanha da elite e da mídia" em artigo publicado pelo grande jornal midiático Folha de S. Paulo, em consequência de conjunção de fatores, o ex-presidente está colhendo a safra que plantou tanto nos seus oito anos de governo, quanto nos quatro em que as mesuras do poder se foram, de algum modo, dissipando.

         Dado o afinco reservado a tal faina, semelha difícil determinar quando realmente os ventos viraram, e o mar de almirante se foi transformando em um de grumete, tangido por borrascas e maus-tempos saídos não se sabe bem de onde.

         Se a incerteza é humana, e as dúvidas são as cordas de quem pensou que a bonança era permanente, a estória do operário que virou político que virou deputado e abominou os trezentos picaretas, que disputou eleições sem história, até lograr fazê-la, com mágica de encomendado feiticeiro o começo de outra estória, que principiaria bem e acabaria mal.

         O desastroso reino de Dilma Rousseff não se sabe quando terminará. E que ele tem voz em capítulo, ninguém ousaria negar.

          Para que se entenda o drama que a moça da algibeira acabou por criar, se nós eliminarmos o petrolão e outros escândalos ancilares, ainda permanece firme a catástrofe que é de exclusiva dílmica competência, vale dizer o déficit primário de sessenta bilhões de reais. Como  escreve Míriam Leitão "o resultado da desastrosa administração das finanças públicas (...) chegou agora, em 2015."

              Não se pode esquecer o trabalho beneditino , "o poço (sendo) cavado após ano".

               Durante o Dilma I começou a falar-se muito de opacidade fiscal. E com razão. "Depois do forte crescimento de 2010 teria sido mais sensato reverter as políticas e preparar o ajuste. O governo preferiu continuar erodindo o superávit primário". (...) Começaram também "a haver descontos na meta fiscal a ser atingida." A cada ano, a realidade fiscal se afastava: assim "aumentava o percentual de despesas que não deveriam ser computadas como despesas, de investimentos à perda de arrecadação com as desonerações."

                Não é que todas as desonerações tenham sido más: "mas a maioria dos benefícios fiscais foi concedida  a setores escolhidos, a começar pela indústria automobilística. O governo aumentou os gastos" uma constante do Dilma I, "engessou mais o orçamento e superindexou o salário mínimo", com a explosão das despesas previdenciárias. Diante "do aumento do rombo nas contas do INSS e da previdência pública", nada fez. "Nunca combateu o que tinha cara de fraude", como o vertiginoso incremento "dos gastos com seguro desemprego, mesmo em época de queda do desemprego. Com o crescimento da arrecadação tratou de gastar mais e várias despesas subiram de forma insustentável." Agora, em época de vacas magras, "tem de cortar até no  essencial."

                   Entrementes, dono da verdade, o governo rejeitava todas as críticas. A revelação de maquiagens contábeis, a indicação dos riscos envolvidos, a inchação do problema fiscal "foram tratados com desprezo e estigmatizados." Dentro de uma postura dócil, "o Banco Central não alertava suficientemente para a deterioração fiscal e em vários comunicados  dizia que esta área estava sob controle. (...) Para não enfrentar uma briga interna, o BC se omitiu muitas vezes no alerta que deveria ter feito às autoridades que administravam as contas públicas."

                    "Guido Mantega e seu secretário do Tesouro, Arno Augustin, demonstravam desprezo pelo equilíbrio fiscal. (...) Os truques repetidos e abusivos levaram a presidente à desconfortável situação de enfrentar uma possível rejeição às suas contas de 2014."

                      E para bom entendedor, frisando a gravidade do déficit fiscal : " as pedaladas  ainda não foram quitadas em 2015, nem estão computadas no déficit divulgado ontem (que é de R$ 60 bilhões!).

                     Joaquim Levy está isolado. É o único que defende um ajuste fiscal forte.  As tentativas do Dilma II tem sido desastradas: envio ao Congresso de Orçamento com déficit. O intento de abaixar os gastos públicos malogrou porque o Congresso decidiu... aumentá-los.  Houve uma MP bumerangue, a 664, que ao invés de abaixar o gasto com pensão de viúvas muito jovens, aceitou virar portadora de uma explosão previdenciária (abolição na prática do fator previdenciário, e o ingresso de outro regime de aposentadoria muito mais oneroso).

                       E qual é a cara do Dilma II? É a da confissão de um déficit primário de sessenta bilhões de reais. 

 

( Fontes:  O Globo, Coluna de Míriam Leitão, Folha de S. Paulo )

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