A pergunta de Miriam
Leitão - como foi possível esse déficit primário de R$
60 bilhões? - é respondida pela própria na coluna desta 4ª feira. Essa estória, se foi escrita por quem se
intitulava a Presidenta, nós a
devemos a Lula da Silva, que a inventou como candidata para sucedê-lo, malgrado
ponderações de notáveis petistas que tentavam dissuadi-lo desse projeto. (V.
coluna de Ricardo Noblat).
Tenho para mim que o ex-torneiro mecânico
pensava precipuamente nele mesmo ao indicar a sua chefa de gabinete. Queria uma
criatura sua, que pudesse controlar e que, ao cabo do mandato, lhe cedesse a
vez. Ao fazê-lo, mostrou enorme egoismo - pondo de lado nomes mais preparados
para o desafio.
Se em um país
mais desenvolvido politicamente essa prestidigitação seria q uase impossível, Lula sabia que mesmo tosca
candidata teria grandes chances para sucedê-lo em Pindorama, dadas as regiões
com grande aporte do Bolsa-família, como o Nordeste. Dilma virou a Mulher do Lula e não teve dificuldade em
derrotar a José Serra, que em outro
cenário venceria com facilidade a despreparada pupila, dado o seu traquejo,
experiência executiva e brilhantismo.
Facilitou-lhe a
tarefa a discórdia no PSDB (pela surda oposição de Aécio Neves), que acabou por dar-lhe candidato a vice bastante
opaco. A estória do triunfo da Mulher
do Lula ainda não foi contada, e
constitui triste relato do subdesenvolvimento político no Brasil.
De tudo isso Lula da Silva em fim de contas é o responsável. Ao
eleger a despreparada Dilma, pensando preparar a própria sucessão, cometeu
enorme erro de que pensava valer-se no prazo de quatro anos, mas que, em fim de
contas, e por crudelíssima ironia, a conta seria apresentada ao Povo
brasileiro.
No que o
senhor Rui Falcão chama, no mais puro
estilo do vitimismo petista, de "sórdida campanha da elite e da
mídia" em artigo publicado pelo grande jornal midiático Folha de S. Paulo, em consequência de conjunção
de fatores, o ex-presidente está colhendo a safra que plantou tanto nos seus
oito anos de governo, quanto nos quatro em que as mesuras do poder se foram, de
algum modo, dissipando.
Dado o afinco
reservado a tal faina, semelha difícil determinar quando realmente os ventos
viraram, e o mar de almirante se foi transformando em um de grumete, tangido
por borrascas e maus-tempos saídos não se sabe bem de onde.
Se a
incerteza é humana, e as dúvidas são as cordas de quem pensou que a bonança era
permanente, a estória do operário que virou político que virou deputado e
abominou os trezentos picaretas, que
disputou eleições sem história, até lograr fazê-la, com mágica de encomendado
feiticeiro o começo de outra estória, que principiaria bem e acabaria mal.
O
desastroso reino de Dilma
Rousseff não se sabe quando terminará. E que ele tem voz em capítulo,
ninguém ousaria negar.
Para que se
entenda o drama que a moça da algibeira acabou por criar, se nós eliminarmos o
petrolão e outros escândalos ancilares, ainda permanece firme a catástrofe que
é de exclusiva dílmica competência, vale dizer o déficit primário de sessenta bilhões de reais. Como escreve Míriam
Leitão "o resultado da desastrosa administração das finanças públicas
(...) chegou agora, em 2015."
Não se
pode esquecer o trabalho beneditino , "o poço (sendo) cavado após
ano".
Durante
o Dilma
I começou a falar-se muito de opacidade fiscal. E com razão.
"Depois do forte crescimento de 2010 teria sido mais sensato reverter as
políticas e preparar o ajuste. O governo preferiu continuar erodindo o superávit
primário". (...) Começaram também "a haver descontos na meta fiscal a
ser atingida." A cada ano, a realidade fiscal se afastava: assim
"aumentava o percentual de despesas que não deveriam ser computadas como
despesas, de investimentos à perda de arrecadação com as desonerações."
Não é
que todas as desonerações tenham sido más: "mas a maioria dos benefícios
fiscais foi concedida a setores
escolhidos, a começar pela indústria automobilística. O governo aumentou os
gastos" uma constante do Dilma I,
"engessou mais o orçamento e superindexou o salário mínimo", com a explosão
das despesas previdenciárias. Diante "do aumento do rombo nas contas do
INSS e da previdência pública", nada fez. "Nunca combateu o que tinha
cara de fraude", como o vertiginoso incremento "dos gastos com seguro
desemprego, mesmo em época de queda do desemprego. Com o crescimento da arrecadação
tratou de gastar mais e várias despesas subiram de forma insustentável."
Agora, em época de vacas magras, "tem de cortar até no essencial."
Entrementes, dono da verdade, o governo rejeitava todas as críticas. A
revelação de maquiagens contábeis, a indicação dos riscos envolvidos, a
inchação do problema fiscal "foram tratados com desprezo e
estigmatizados." Dentro de uma
postura dócil, "o Banco Central não alertava suficientemente para a
deterioração fiscal e em vários comunicados
dizia que esta área estava sob controle. (...) Para não enfrentar uma
briga interna, o BC se omitiu muitas vezes no alerta que deveria ter feito às
autoridades que administravam as contas públicas."
"Guido Mantega e seu
secretário do Tesouro, Arno Augustin,
demonstravam desprezo pelo equilíbrio fiscal. (...) Os truques repetidos e
abusivos levaram a presidente à desconfortável situação de enfrentar uma
possível rejeição às suas contas de 2014."
E para bom entendedor, frisando a gravidade do déficit fiscal : " as pedaladas ainda não foram quitadas em 2015, nem estão computadas no déficit divulgado ontem
(que é de R$ 60 bilhões!).
Joaquim Levy está isolado. É o único que defende um ajuste fiscal
forte. As tentativas do Dilma II tem sido desastradas: envio ao
Congresso de Orçamento com déficit. O intento de abaixar os gastos públicos
malogrou porque o Congresso decidiu... aumentá-los. Houve uma MP bumerangue, a 664, que ao invés de abaixar o gasto
com pensão de viúvas muito jovens, aceitou virar portadora de uma explosão
previdenciária (abolição na prática do fator previdenciário, e o ingresso de
outro regime de aposentadoria muito mais oneroso).
E qual é a cara do Dilma II? É a da confissão de um
déficit primário de sessenta bilhões de
reais.
( Fontes: O Globo, Coluna de Míriam Leitão, Folha de S.
Paulo )
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