A resposta
das autoridades do Rio de Janeiro (Estado e Município) no que tange ao problema
da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas se pode resumir no cínico “Não
‘tou nem aí” da contestação de conhecido político no que concerne aos seus
problemas com a Justiça.
No entanto,
importa não confundir as questões. Enquanto esta última é assunto pessoal, que
concerne ao Senhor Paulo Salim Maluf, a primeira delas diz respeito ao Rio de
Janeiro e ao próprio Brasil.
Se é
vergonhoso que se haja prometido atender a seu devido tempo o desafio da
poluição na Baía de Guanabara, para assegurar a sede da Olimpíada, e nada,
absolutamente nada, tenham Estado e município feito a propósito, e agora se
refugiem no virtual cinismo do fato consumado, como se fora solução.
É lamentável
que a inércia do Estado e de suas inúmeras administrações nada tenha feito a
propósito. Tornou-se triste característica da nacionalidade o de ser
alegadamente bom de gogó, que seria uma importação do ethos carioca para o gentílico brasileiro.
De início seja
dito que o carioca, conhecido pelo bom humor e a boa disposição, não se
caracterizou no passado por atitude tipo da vida nada se leva, e o importante
seria aproveitar e não cuidar do meio ambiente.
Recordo-me
perfeitamente que a Baía de Guanabara não era essa pocilga em que se
transformou nos últimos decênios. Como já escrevi nesta coluna, sou disso
testemunha. Levado pelos meus tios a recantos desse belíssimo anfiteatro que a
natureza nos proporcionou – e não foi sem lutas, e lá está Estácio de Sá para
confirmá-lo – essa é agradável lembrança, dessa bagagem que levamos com gosto
pela vida, dos prazerosos mergulhos no
Largo de São Francisco a que a lancha nos levava.
Dos cinzentos
tempos do presente, há dois aspectos a considerar: o respeito ético que o
pretendente à sede do festival olímpico deve levar consigo ao comprometer-se a
realizá-la. Dizer que fará a limpeza da casa e depois simplesmente faltar ao
compromisso, já é falta grave e inaceitável. Valer-se do constrangimento da
hora e sem respeito algum – mesmo a si próprio – forçar o fato consumado, é
coisa de moleque, de gente que não preza a respectiva palavra, nem a imagem da
nacionalidade. Dessarte, nessa estória da baía, o que mais me impressiona e
confrange, não é tanto a quebra da promessa, mas a desfaçatez em lidar com a
situação.
O segundo
aspecto a que me referi estaria em que, nessa situação vexaminosa, se faça pelo
menos um esforço em melhorá-la (no
caso da baía) e em atendê-la (no da Lagoa Rodrigo de Freitas).
Tenham a
coragem de mostrar algum caráter em situações adversas. No da baía, se a questão
não se pode resolver por inteiro, dada a desídia de anos a fio (de que
participa e muito a atual administração estadual), tenha-se ao menos uma
fímbria de determinação e boa vontade, tomando medidas extraordinárias para
diminuir com que se persista em tratar a baía de Guanabara como se fora ignóbil
fundo de quintal, lugar feito para despejar os restos e o lixo do dia-a-dia.
Apelemos a um caráter que se deixou esquecido por demasiado tempo.
Quanto à Lagoa
Rodrigo de Freitas, as suas dimensões tornam possível – muito possível mesmo –
esforço resoluto e generoso para corrigir-lhe a atual situação. Devemos procurar pelas bocas clandestinas de
esgoto que lhe rodeiam o natural traçado. Não são difíceis de determinar-lhes a
respectiva posição, punir os responsáveis, e corrigir, não com remendos, mas
com obras sérias e para valer, este abuso privado a um bem público.
Há decerto
outras providências menores – como manter aberto o canal oceânico – que a
desídia da prefeitura teima em deixar assorear, e tantas outras que a
autoridade – que para isto foi eleita – conhece bem.
Passamos lá
fora como gente boa de gogó, que encontra desculpa pra tudo, e que com isso
pensa esconder os próprios defeitos.
No íntimo desses
muitos indivíduos sem cultura, a que a educação não mostrou o quanto vale
preservar a própria casa – na verdade, as duas, a respectiva residência, por
mais humilde que seja, e o entorno que nos é dado pelo meio-ambiente, essa
vasta habitação que o bicho homem tanto tem maltratado e de que ora começa a
colher os amargos frutos do desamor ao mundo que nos cerca – e nos acalenta.
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