Não foi decerto
por acaso que gospodin Vladimir V. Putin, Presidente de todas
as Rússias, mandou vetar no Conselho de Segurança das Nações Unidas resolução
que criaria tribunal para julgar a estranha derrubada do voo da Malaysian Airlines MH 17 que caíu sobre
campos de trigo da conflagrada (e não por própria vontade) Ucrânia oriental (V. a respeito blog de 30 de julho último).
Essa estória de
veto no CSNU – em que os membros permanentes, que são cinco (Estados
Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França) – é espinho atravessado na
garganta dos demais membros das Nações Unidas (e eventuais ocupantes de postos
temporários de dois anos no dito Conselho) porque representa resquício de
privilégio dos tempos da fundação das Nações Unidas, quando a organização ainda
demorava em Lake Success.
Não resta
dúvida que o veto foi atribuído às ditas grandes potências (quem hoje diria que
Reino Unido e França ainda fazem jus a tal direito?), como um dos atrativos encontrados pelo Presidente Roosevelt (que se vivo fora ao tempo da inauguração um
dos membros permanentes seria o Brasil e não a França) para atrair Joseph Stalin para a nova organização.
Pesavam também as
lembranças das deficiências da antiga Liga
das Nações. Por isso, Genebra cederia o lugar a New York para a sede, além
de se tornarem os cinco membros permanentes mais
iguais do que os demais. Foi o que fizeram, mas data venia erraram na dose, eis que o privilégio do veto deveria
ser qualificado para evitar-lhe os abusos (que não se limitam às ditaduras –
hoje Rússia e R.P.C. – mas também aos Estados Unidos, em que pesa o excesso de vetos protegendo o
estado-cliente Israel).
Por falar em
abusos, o presidente russo mandou vetar
a Resolução que criaria um tribunal internacional para investigar o citado voo MH-17
em que a 17 de julho de 2014 morreram 298
pessoas (i.e., a tripulação e todos os passageiros do vôo da Malaysian Airlines). A catástrofe aérea foi provocada por míssil Buk SA-11, de fabricação russa, que é
usado por doze países, mas acusações relativas à responsabilidade pelo estúpido
disparo recaem sobre a Federação Russa e a
Ucrânia.
Diga-se, de passu, que a
iniciativa do veto partiu de Moscou.
Quando do morticínio, o presidente Putin recebeu irados telefonemas de
autoridades ligadas às vítimas, em particular do Primeiro Ministro da Holanda
(cerca de dois terços dos mortos são holandeses).
O avião da Malaysian atravessou região que na época
vivia intensos combates entre o Exército da Ucrânia e as chamadas milícias
separatistas pró-Rússia. Dado o número dos mortos, coube a coordenação
internacional aos Países Baixos.
Fazem parte,
outrossim, da dita Comissão, que se reúne na Haia, representantes da Ucrânia, Rússia, Malásia,
Austrália, Reino Unido, e Estados Unidos. A esse respeito, a constituição do Tribunal
ad hoc foi proposta pela Comissão, mas denegada pelo veto do presidente
russo que, pelo visto, não deseja o aprofundamento da questão.
O peso das
maiores suspeitas recai sobre os milicianos pró-Rússia, consoante acusa o lado
Ocidental. Não surpreende, outrossim,
que o Kremlin e os ditos rebeldes-pró Rússia responsabilizem a
Ucrânia. É de notar-se que não se trata de missil de fundo de quintal, eis que
o uso respectivo implica considerável sofisticação técnica. É decerto difícil
aclarar a estupidez humana, mas semelha provável que quem lançou o míssil temia
um ataque de uma despropositada
aeronave, o que coloca o chapéu na cabeça dos invasores russos e seus acólitos,
que temeriam incursão aérea dos ucranianos...
Outro elemento
de peso na matéria é que a interdição à investigação por Tribunal ad hoc tenha partido da Rússia... De
qualquer forma, há expectativa de os técnicos neerlandeses, com as peças
recuperadas do fatídico Buk SA-11, venham a lograr reconstituir o quebra-cabeças de
quem é o responsável pela derrubada do pacífico voo MH-17.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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