domingo, 23 de agosto de 2015

Colcha de Retalhos C 32

                                   

A Manchete da Folha

 

                   Os jornalões em geral reservam para as edições de domingo cabeçalhos que não tem a presteza temporal dos números dos dias de semana. Como que ficam na geladeira, com um mínimo de interesse, posto que não tenham a agilidade dos outros dias. Compreende-se que devam proceder dessa forma, porque as tiragens dominicais em geral já são conhecidas na tarde de sábado.

                  Dessa feita, no entanto, temos a opinião do presidente do Itaú-Unibanco, que é o maior banco privado do país. Na sua entrevista a David Friedlander, Roberto Setúbal expressa o seu parecer sobre a crise e a posição da Presidente Dilma Rousseff, em parecer que é no mínimo polêmico. Sua Senhoria assim se expressa quanto ao impeachment: “Nada do que vi ou ouvi até agora me faz achar que há condições para um impeachment. Por corrupção, até aqui, não tem cabimento. Não há nenhum sinal de envolvimento dela com esquemas de corrupção”.

                 “Pelo contrário, o que a gente vê é que Dilma permitiu uma investigação total sobre o tema (corrupção na Petrobrás).  Era difícil imaginar no Brasil uma investigação com tanta independência. A Dilma tem crédito nisso.”

                 “E as pedaladas fiscais ?” (pergunta da Folha)

                  “ Isso é grave e pode merecer algum tipo de punição. Mas não me parece ser motivo  para tirar a presidente.  Até porque presidentes anteriores a ela  passaram por situações semelhantes. Seria um artifício querer tirar a presidente neste momento. Criaria uma instabilidade ruim para nossa democracia.”

                 O Senhor Setúbal tem o direito à própria opinião. Há algumas afirmações do presidente do Itaú-Unibanco que são, contudo, no mínimo polêmicas. Diz ele nada ter visto até agora que lhe faça achar que há condições  para impeachment. De corrupção, nada! “Não há nenhum sinal de envolvimento dela com esquema de corrupção”.  Ela esteve longos anos à frente do Conselho de Administração da Petrobrás e não viu nada... Setúbal parece ter visão demasiado concessiva quanto à capacidade de investigação.  Vivemos, ao que saiba, em uma democracia, e a capacidade de investigar pertence à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. Tudo fazer depender – ou creditar ao  - do poder presidencial é visão, no mínimo, anacrônica.

                  Por outro lado, será que depois da denúncia do Ministro Gilmar Mendes, no atual julgamento do TSE, há lugar para dizer, como afirma Setúbal, ‘que não há nenhum sinal de envolvimento dela com esquemas de corrupção’? Há um problema, sim, com as suas contas no que concerne às últimas eleições, problema esse que envolveria o uso do esquema do Petrolão. A denúncia do Ministro Mendes é séria e o julgamento pelo TSE foi suspenso por um pedido de vista do Ministro Luiz Fuchs. Por isso, ainda é cedo para dizer que está tudo resolvido, como é a linha do Ministro Edinho Silva, que faz parte do Ministério de Dilma.
 

Crise chinesa

 

                     Os problemas na segunda economia mundial derrubaram as cotações mundiais de petróleo e outras commodities. Dada a circunstância de que a China é grande importadora, não só de petróleo, mas também de minérios e outros produtos de base, entende-se porque as cotações desses produtos caíram. Com a queda das compras pela China, presume-se que os preços vão cair em função da diminuição na procura.

                      A crise se origina tanto em função do sobreaquecimento dos valores das ações na bolsa de Xangai, assim como pelo enfraquecimento da produção industrial chinesa.

                      A economia da RPC tem funcionado comoma espécie de locomotiva do mercado mundial. Com o seu arrefecimento, é natural que tanto as principais bolsas mundiais, quanto as próprias cotações dos produtos caiam.

                    Nesse contexto, deve notar-se a queda nas cotações do barril de petróleo.  Com a redução na atividade chinesa, já se calcula um ulterior recuo nas compras de petróleo. A situação se torna séria para países como a Federação Russa, que sem ser uma monocultura, depende muito desse fator energético. Nesta semana, o barril ficou cotado a US$ 40,45. Para países grandes produtores como a Rússia, esse baixo valor para o petróleo faz reverter muitas expectativas.

                    Deve-se notar que as cotações do petróleo começaram a cair pela super-oferta do produto. Com os Estados Unidos, pelo aumento da prospecção e notadamente desenvolvimento tecnológico com a disponibilização de xisto (shale), além da política da Arábia Saudita de não diminuir a oferta. Em consequência, há uma grande, excessiva oferta do produto, o que determina a queda nas cotações.
 

Desemprego no Brasil

 

                       Com a recessão na economia brasileira e inclusive as quedas no PIB, foram perdidas 157,9 mil vagas de emprego formal em julho, no quarto mês seguido de queda.  

                        Em 2015, o Brasil já perdeu 494,4 mil postos com carteira assinada. A indústria foi o setor que mais se ressentiu desta crise.

 
Novas  Eleições na Turquia      

                       

                        Conforme já assinalado neste blog, nas eleições de junho último,  o partido de Recip Erdogan, o AKP,  continuou a ser aquele mais votado, porém não logrou alcançar a maioria absoluta para formar o gabinete. Esta é a primeira vez que tal ocorre desde 2002, quando chegou ao poder. Por outro lado, a despeito das tentativas, o AKP não conseguiu através da negociação política formar aliança com outra agremiação. Muito em função da agressiva política de Erdogan – que tem diminuído a atmosfera democrática naquele país – não lhe foi possível formar maioria.

                            Por outro lado,será o Partido Republicano do Povo, o CHP, de orientação social-democrata,  o  principal adversário de Erdogan.  Eles acusam o líder do AKP de haver trabalhado no sentido de inviabilizar a coalizão alternativa dos atuais partidos em oposição ao regime forte, semi-autoritário e com viés islamita de Recip Erdogan.

                             A longa estada no poder de Erdogan tem contribuído para a recaída autoritária. Se o país ainda se proclama uma democracia, se o chefe do AKP voltar ao poder sem restrições, a tendência será mais repressão, menos democracia, mais julgamentos politicamente-orientados, com campanhas de arrocho contra jornalistas, opositores, etc.

 
Morte do n° 2  do  Exército Islâmico

 

                            O  Califa Abu Bakr al-Baghdadi perdeu o seu lugar-tenente. Com efeito,  a Casa Branca anunciou nesta sexta-feira a morte de Fadhil Ahmad al-Hayali. Ele foi morto em consequência de bombardeio na terça-feira, dia dezoito de agosto.

                            Conhecido igualmente pelo nome de guerra Abu Muslim al-Turkmani, era responsável pelas atividades do ISIS  no Iraque. Atuara com realce na tomada da cidade de Mossul, no Iraque, em junho de 2014. Talvez tenha sido esta a maior vitória da facção islâmica.

                          Tinha sido coronel durante o regime de Saddam Hussein. Ultimamente, fora encarregado da coordenação do transporte de armas, explosivos, veículos e pessoas entre a Síria e o Iraque.

                         Segundo se depreendeu do anúncio de sua morte por ataque aéreo, e que ele estava dentro de um carro, tal foi interpretado por analistas como indício de que o governo estadunidense dispõe de certo grau de inteligência militar no território iraquiano.

 

Os Curdos e a Turquia

 

                      A Turquia tem provocado fricções e desentendimentos pela sua repressão aos movimentos curdos. A aliança com os Estados Unidos que possibilitou a Washington – conforme noticiado pelo blog – dispor de pistas de aeroportos bastante mais próximas de seus alvos do ISIS, do que na situação anterior,  também tem criado alguns problemas, pelo emprego de parte de Ancara dessa sua entrada na coalizão como meio para incrementar os bombardeios das bases curdas no Iraque e na Síria, sob o pretexto de reprimir a guerrilha curda.

                           Uma aliança entre Washington e Âncara, que estende à Superpotência o emprego de bases no norte da Turquia, poderá criar mal-entendidos e tensões entre aliados se Erdogan deseja, com essa composição, matar dois coelhos com uma só cajadada. A aliança com Âncara é para facilitar as missões de bombardeio da aviação da coalizão anti-ISIS, mas não tem a intenção de agilizar-lhe a repressão dos curdos, que é uma minoria sem estado (por ora) e que luta por uma inserção no grande país vizinho (a par do núcleo já constituído no norte do Iraque, por mérito dos peshmerga, as forças de militantes curdos).

 

(  Fonte:  Folha de S. Paulo )

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