domingo, 9 de agosto de 2015

Colcha de Retalhos C 30

                                        

O Fator Donald Trump

 
       O comportamento de Donald Trump que continua imprevisível nas tiradas e observações – e que parecem sustentar a sua atual liderança no pelotão republicano – por primeira vez lhe custou caro, ao ser desconvidado para encontro de conservadores.

       O debate promovido pela Fox News – que é a porta-voz da direita extremada do GOP, i.e. o Tea Party – colheu decerto a atenção que tem seguido o multimilionário, com a sua irreverência e as tiradas fora do padrão dos demais candidatos.  Esse interesse inusitado pelo novo e pelas afirmações que fogem da correção política manifestou-se uma vez mais com uma audiência de 24 milhões de telespectadores, o que não é decerto usual nesse tipo de programa, recheado por nulidades, eternos concorrentes além daqueles como Jeb Bush a que vão os prognósticos de uma possível chegado ao ticket do GOP.

       Como semelha evidente, o catalizador dessa atenção desproporcional não é outro senão Donald Trump, que, a princípio, fora descartado como carta fora do baralho.

       Sem embargo, o multimilionário e a sua falação sem peias nem as mesuras ex-officio semelham agradar a uma larga faixa do público, que pelo visto está cansada das mediocridades falantes, ou aquele que recebe a unção do favoritismo por integrar uma família de presidentes, a começar pelo aristocrata de um só mandato, e em seguida pela mediocridade coroada de George W. Bush, o único presidente americano ‘eleito’ pela Suprema Corte.

         O ex-governador da Flórida pensa trilhar o caminho da prudência e valer-se da colateral ajuda de tanto parentesco.

         Diante de todos esses rodeios, não surpreende nem um pouco, que Don Trump, com as suas propostas-bomba (como a do muro ao sul para deter a migração dos mexicanos) e os seus murros selvagens (wild punches), com que desfez de um herói nacional, o íntegro senador (e ex-candidato à presidência derrotado por Obama) John McCain, não dão a impressão de que lhe abalaram a candidatura.

         Terá ido ele agora mais longe de o que devia, ao insinuar que as perguntas frenéticas e impiedosas da jornalista Megyn Kelly, da ultradireitista Fox News, se deveriam a problemas menstruais?  Até o presente o absurdo e o despropósito tem formado a base do discurso do anticandidato Don Trump.  Por força dessa observação fora das regras (não há trocadilho aqui!) Trump foi desconvidado para um forum conservador. Como ele afirmou outrossim que pleiteará de qualquer forma a presidência, mesmo que o Partido Republicano não o designe, houve um certo alívio entre os candidatos tradicionais, julgando que ele dera um tiro no pé ao desdenhar da nomination do GOP.

           O problema com os adversários republicanos de Trump é de tentar pautá-lo pelas regras das primárias políticas, que eles, obedientes à correção política, julgam ser de importância capital. Enquanto não perceberem que a campanha de Donald Trump se sustenta notadamente na negação de tais regras – e o quanto mais escandalosamente feito, melhor – eles continuarão a agir como que aturdidos no grupo. Não sei por quanto tempo o fator Trump continuará a preponderar, mas seria interessante e apropriado mesmo que os demais concorrentes – refiro-me, por certo, àqueles de alguma importância – tenham presente a velha máxima do box, que um lutador só vai a nocaute por um soco que ele não sabe de onde saíu...

 

A  Crise  de  Dilma  Rousseff  e  do  PT

 

              As possibilidades legais da crise desembocar na destituição da Presidenta estão elencadas na coluna de  Merval Pereira de hoje.  Espanta menos que o futuro de Dilma seja negro, do que seja tão grande e diversificado o número das prováveis motivações legais para que o país se livre desta bomba inventada pelo fazedor de postes.

              Falou-se outro dia de um Lula que irrompeu pilhado no Alvorada, a ponto de pôr em debandada os habituais aspones.

              Há gente dentre os comentaristas da imprensa – que antes passavam por argutos, - e que hoje ao cair na asneira de lê-los, o pobre leitor tem a tentação de definir essa gente como mais pilhada ainda.

              Dá para entender que o atual comandante do navio PT, o sr. Rui Falcão declare alto e bom som que o partido não tem desculpas a pedir ?

              Tais posições de negação frontal ou articulada se vêem na Revolução Francesa, entre os que se negavam a ver indícios fortes de situação revolucionária  nas ruas, quando deparavam até cabeças passeando pelas vielas e becos na ponta dos chamados ‘piques’ (paus de vassoura com aguilhão na extremidade), enquanto os alegres portadores cantavam gritando “Tudo vai bem, senhora marquesa!” [1]

             Se o deboche da oposição ao regime toma essa forma assaz agressiva, ou alguém foge para a fronteira, pela rota de Varennes (foi a escolha do Rei Luis XVI), ou fica na capital, como foi a opção dos girondinos (moderados). Nenhuma das duas ‘soluções’ funcionou, tanto que ambos acabaram na guilhotina.

 

Rio Grande do Sul – um Estado falido?

 
                A decisão do governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, de determinar o pagamento dos funcionários e aposentados de forma parcelada provocou surpresa e revolta dentre os funcionários do Poder Executivo.

                Sua Excelência, no entanto, estava diante de uma situação de fato que o seu antecessor do Partido dos Trabalhadores, Tarso Genro, não achou digna de referir ao seu eleitorado.

                  Vamos por partes. O Governador Sartori – que, como seria de esperar, cortou igualmente a própria remuneração e a de todos os dependentes do poder executivo estadual– não está vendo, no entanto, a própria iniciativa abraçada pelos demais poderes, até agora em silêncio (reporto-me ao Legislativo e ao Judiciário , em que não são pequenas as remunerações respectivas).

                   Há outros detalhes inquietantes nessa opera buffa. Causa espécie que as contas do governador Tarso Genro foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado, sem qualquer nota a respeito de que as tais contas aprovadas, por serem insuficientes para atender às despesas,  foram não obstante carimbadas com aprovo! E assinale-se que tal aprovação pelo Tribunal foi feita a toque de caixa, na semana passada.

                    Segundo noticia O Globo “há quarenta anos o Estado gasta mais do que arrecada” e acrescenta “especialistas preveem insolvência até o fim do ano”.

                    É interessante notar que o atraso na Segurança Pública é a área mais afetada pela crise, com 85% dos funcionários com salários atrasados. Como sói ocorrer, o atraso foi parar no Supremo Tribunal Federal, que ameaça o Estado com uma intervenção caso descumpra ordem para pagar em dia.

                     Aqui entram perguntas que carecem de resposta. Como um Estado pode pagar em dia os seus compromissos se não tem dinheiro em caixa? 

                      Pelo visto, há muito tempo o Estado tem tido uma posição de avestruz com relação aos próprios compromissos. Deve-se notar que apenas os funcionários do Executivo estão sendo submetidos ao sistema de quotas. Já os funcionários da Justiça e os do Legislativo, embora sejam pagos pela mesma fonte, não estão por ora submetidos a qualquer corte ou pagamento em quotas.

                     Tampouco a Lei da Responsabilidade Fiscal vem sendo cumprida. Na semana passada, o Estado ultrapassou o limite prudencial com gastos da folha de servidores recomendado pela L.R.F. com 47,3% da receita corrente líquida com salários (o gasto não deveria ultrapassar 46,5% . O limite legal, passível de sanções, é de 49%).

                      Outro dado inquietante é o gasto com a Previdência (o maior do país!). O Estado do Rio Grande do Sul dispende  31% da receita líquida com aposentados. Note-se que para cada cem servidores na ativa, o Estado computa 120 aposentados. Já computado o déficit do esquema, coberto pelo Tesouro estadual, o dispêndio líquido em 2015 deverá passar dos R$ 9,5 bilhões.

                      O limite legal, estabelecido pela L.R.F. (os ditos 49%) já deve ser alcançado e ultrapassado, segundo projeção do presidente do Centro de Auditores  Públicos Externos do TCE gaúcho, em novembro p.f. Tal se deverá aos ‘reajustes’ generosamente concedidos pela administração do PT, de Tarso Genro, que vão agir de forma escalonada até  2018.

                       Diante desse problema criado no Estado pelo Sr. Tarso Genro, o Sr. Josué Martins advoga “que o Estado lidere uma frente com outros Estados, para buscar soluções em nível federal. (meu o grifo)”    

                       A solução proposta pelo Sr. Auditor para o Estado não é por certo original.  O Rio Grande, por intermédio de seu governador Tarso Genro, agrava o problema. A causa é obviamente estadual. Mas o remédio aventado é federal...     

         

( Fontes: The New York Times, O Globo, Folha de S. Paulo )



[1] Tout va bien, Madame la Marquise!

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