domingo, 16 de agosto de 2015

Colcha de Retalhos C 31

                                      

Eleição Argentina – Primárias

 
          No complexo sistema argentino, as eleições primárias do domingo passado mostraram que os candidatos peronistas não podem ser descartados e que Cristina Kirchner, apesar de seus tropeços, continua a ser um fator com possibilidades de preponderar ao final. Ela não pode concorrer, mas tem ainda condições de influenciar o resultado.

          Assim o seu candidato, Daniel Scioli, logrou 38,4% nas primárias, contra 14,2% dados a Sergio Massa, o dissidente peronista.

           Por sua vez, o candidato conservador, Mauricio Macri, conseguiu 24,3%. 

           A existência de um racha no peronismo – que continua a ser, apesar de tudo, o movimento político predominante no país irmão – possibilitaria a vitória de Macri, desde que, na eleição para valer, ele consiga agregar votos dos dissidentes peronistas, que, nas primárias, sufragaram Massa.

 

O Itamaraty e as Nações Unidas

 

          Recentemente, Dilma Rousseff, que não tem jeito para a diplomacia, nem circula com desenvoltura entre os grandes da política externa, mais uma vez deitou falação quanto à necessidade de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

          Já faz tempo que a força inercial desse movimento diminuiu,  não só pelas dúvidas dos países que têm assento permanente, mas também pelas rivalidades dos principais pretendentes.

          Por outro lado, e desde o governo Lula da Silva, o Brasil passou a adotar uma estratégia custosa, da qual não participa a maioria dos países membros, vale dizer manter missões permanentes em todas as nações-membro da ONU.

          Além de ser muito discutível que a nossa presença em muitas dessas sedes de países pequenos possa influenciar o voto respectivo (muitos deles têm por prática delegar o sufrágio para a respectiva chefia de sua delegação em New York), é um esquema assaz oneroso, tanto mais diante da pífia dotação que o governo de Dilma dá ao Itamaraty.

          Por isso, chega a ser lúdicro que a Rousseff ora discurse quanto à urgência de as Nações Unidas tratarem de  modificar o atual esquema no CSNU. Não será agora com dívida de US$ 250,2 milhões – e também à conta de insuficiência de fundos houve incremento na nossa inadimplência de 76% em 2015 -  eis que o atraso anterior era de US$ 142,5 milhões,  que o Itamaraty terá credibilidade para fazer tal tipo de exigência.

           Ao contrário de seu mentor – que desfrutou de outro momento do Brasil no concerto internacional, inclusive em termos de contas públicas externas – dona Dilma não semelha ter possibilidades de distinguir-se dentre os cinzentos coadjuvantes na alta diplomacia. Neste palco exclusivo,  só é protagonista quem tem condições para sê-lo. Apesar de não ter olhos azuis, Lula, a seu tempo, se movimentava de modo a não ser apenas mais um do grupo amorfo dos sólitos desconhecidos.    

 
Desafio à Candidatura Hillary

 

            Em sua coluna no New York Times, Ross Douthat relativiza um tanto a crise na candidatura de Hillary Clinton. Sua posição como imbatível passou a ser questionada. A respectiva margem nas prévias caíu, mormente com a investigação  pelo seu uso do e-mail particular  quando Secretária de Estado. Por outro lado, pareceria antes provável que Bernie Sanders a superasse em uma pesquisa em New Hampshire ?

            Apesar de todos os contratempos que ora lhe embaraçam a postulação, para Douthat ‘ Hillary vai conseguir a nomination, e a corrida nem será muito apertada’.

             Para Douthat isso se deverá à circunstância de que para ter a nomination ela só precisa de sufrágios democratas.  E os democratas, segundo ele, continuam a gostar muito dela. Se ela surge agora como candidata algo enfraquecida para a eleição geral, ao contrário de seis meses atrás, o crescimento da pré-candidatura Bernie Sanders consolida o bloco anti-Clinton no partido: branco, com educação superior, e viés para a esquerda.

              A faixa anti-Hillary estaria super-representada em estados como Iowa e New Hampshire – cuja importância se situa sobretudo nos momentos iniciais da campanha, por causa de suas convenções antecipadas. Por isso, os seus principais concorrentes têm que ser examinados também consoantes as respectivas deficiências. Nesse contexto a  importância de seus principais concorrentes intra-partidários têm de ser relativizada caso a caso: Bernie Sanders, nas contestações de ativistas negros;  Martin O’Malley, nos efeitos negativos do policiamento de Baltimore, onde foi morto pela polícia um ativista afro-americano;  e o próprio Vice-presidente Joe Biden, por estar sem muito espaço político, dado o firme comprometimento de Hillary com o empurrão no direito de voto, assim como na reforma da justiça criminal.

              Além do considerável e justificável apoio que Hillary goza do bloco feminino, Douthat também aponta para a precária situação enfrentada pelos retardatários na corrida presidencial, como o foram Rick Perry e Fred Thompson.  Isso teria sido possível em 2012, contra Mitt Romney, se se tiver presente o quanto a base do GOP desejava então uma alternativa. Mas será tal agora possível  contra candidata com tais fundos, dispondo de tão largo apoio e com tal popularidade quanto ora se apresenta Hillary no partido democrata ?

               Para Douthat o único fator que lograria afastá-la da campanha, seria algum evento extra-político, algum escândalo muito maior daqueles até agora enfrentados  pelo casal Clinton. Quanto à questão do escândalo dos e-mails, o articulista reconhece que é problema sério, mas não acredita que o Departamento de Justiça de Barack Obama vá indiciar a ex-Secretária de Estado e front-runner na campanha presidencial por haver tratado informação confidencial de forma supostamente incorreta, mesmo se as infrações cometidas pudessem afundar a carreira de alguma figura política de menor estatura.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo,  New York Times )    

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