Eleição Argentina – Primárias
No complexo sistema argentino, as
eleições primárias do domingo passado mostraram que os candidatos peronistas
não podem ser descartados e que Cristina
Kirchner, apesar de seus tropeços, continua a ser um fator com
possibilidades de preponderar ao final. Ela não pode concorrer, mas tem ainda
condições de influenciar o resultado.
Assim o seu
candidato, Daniel Scioli, logrou 38,4%
nas primárias, contra 14,2% dados a Sergio Massa, o dissidente peronista.
Por sua
vez, o candidato conservador, Mauricio Macri, conseguiu 24,3%.
A
existência de um racha no peronismo –
que continua a ser, apesar de tudo, o movimento político predominante no país
irmão – possibilitaria a vitória de Macri, desde que, na eleição para valer,
ele consiga agregar votos dos dissidentes peronistas, que, nas primárias,
sufragaram Massa.
O Itamaraty e as Nações Unidas
Recentemente, Dilma
Rousseff, que não tem jeito para a diplomacia, nem circula com
desenvoltura entre os grandes da política externa, mais uma vez deitou falação
quanto à necessidade de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Já faz tempo
que a força inercial desse movimento diminuiu, não só pelas dúvidas dos países que têm
assento permanente, mas também pelas rivalidades dos principais pretendentes.
Por outro
lado, e desde o governo Lula da Silva, o Brasil passou a adotar uma estratégia
custosa, da qual não participa a maioria dos países membros, vale dizer manter
missões permanentes em todas as nações-membro da ONU.
Além de ser
muito discutível que a nossa presença em muitas dessas sedes de países pequenos
possa influenciar o voto respectivo (muitos deles têm por prática delegar o
sufrágio para a respectiva chefia de sua delegação em New York), é um esquema
assaz oneroso, tanto mais diante da pífia dotação que o governo de Dilma dá ao
Itamaraty.
Por isso,
chega a ser lúdicro que a Rousseff ora discurse quanto à urgência de as Nações
Unidas tratarem de modificar o atual
esquema no CSNU. Não será agora com
dívida de US$ 250,2 milhões – e
também à conta de insuficiência de fundos houve incremento na nossa
inadimplência de 76% em 2015 - eis que o
atraso anterior era de US$ 142,5 milhões,
que o Itamaraty terá credibilidade para fazer tal tipo de exigência.
Ao
contrário de seu mentor – que desfrutou de outro momento do Brasil no concerto
internacional, inclusive em termos de contas públicas externas – dona Dilma não
semelha ter possibilidades de distinguir-se dentre os cinzentos coadjuvantes na
alta diplomacia. Neste palco exclusivo,
só é protagonista quem tem condições para sê-lo. Apesar de não ter olhos
azuis, Lula, a seu tempo, se movimentava de modo a não ser apenas mais um do
grupo amorfo dos sólitos desconhecidos.
Em sua
coluna no New York Times, Ross
Douthat relativiza um tanto a crise na candidatura de Hillary Clinton. Sua posição como imbatível passou a ser
questionada. A respectiva margem nas prévias caíu, mormente com a
investigação pelo seu uso do e-mail particular quando Secretária de Estado. Por outro lado, pareceria
antes provável que Bernie Sanders a superasse em uma pesquisa em New Hampshire
?
Apesar de todos os contratempos que ora
lhe embaraçam a postulação, para Douthat ‘ Hillary
vai conseguir a nomination, e a corrida
nem será muito apertada’.
Para Douthat isso se deverá à circunstância de
que para ter a nomination ela só
precisa de sufrágios democratas. E os
democratas, segundo ele, continuam a gostar muito dela. Se ela surge agora como
candidata algo enfraquecida para a eleição geral, ao contrário de seis meses
atrás, o crescimento da pré-candidatura Bernie
Sanders consolida o bloco anti-Clinton no partido: branco, com educação superior,
e viés para a esquerda.
A faixa
anti-Hillary estaria super-representada em estados como Iowa e New Hampshire –
cuja importância se situa sobretudo nos momentos iniciais da campanha, por
causa de suas convenções antecipadas. Por isso, os seus principais concorrentes
têm que ser examinados também consoantes as respectivas deficiências. Nesse contexto
a importância de seus principais
concorrentes intra-partidários têm de ser relativizada caso a caso: Bernie
Sanders, nas contestações de ativistas negros; Martin O’Malley, nos efeitos negativos
do policiamento de Baltimore, onde foi morto pela polícia um ativista
afro-americano; e o próprio
Vice-presidente Joe Biden, por estar sem muito espaço político, dado o firme
comprometimento de Hillary com o empurrão no direito de voto, assim como na
reforma da justiça criminal.
Além do
considerável e justificável apoio que Hillary
goza do bloco feminino, Douthat também aponta para a precária situação enfrentada
pelos retardatários na corrida presidencial, como o foram Rick Perry e Fred Thompson. Isso teria sido possível em 2012, contra Mitt Romney, se se tiver presente o
quanto a base do GOP desejava então uma
alternativa. Mas será tal agora possível
contra candidata com tais fundos, dispondo de tão largo apoio e com tal
popularidade quanto ora se apresenta Hillary no partido democrata ?
Para
Douthat o único fator que lograria afastá-la da campanha, seria algum evento
extra-político, algum escândalo muito maior daqueles até agora enfrentados pelo casal Clinton. Quanto à questão do
escândalo dos e-mails, o articulista
reconhece que é problema sério, mas não acredita que o Departamento de Justiça
de Barack Obama vá indiciar a ex-Secretária de Estado e front-runner na campanha presidencial por haver tratado informação
confidencial de forma supostamente incorreta, mesmo se as infrações cometidas pudessem
afundar a carreira de alguma figura política de menor estatura.
( Fontes: Folha de S. Paulo, New York Times )
Nenhum comentário:
Postar um comentário