Do inchado e inútil ministério
Hoje a
presidência Dilma Rousseff se caracteriza pela falta de poder, sequer logrando
coordenar uma estranha coalizão. Os 39 ministérios, segundo corre a estória da
Carochinha, existiriam para assegurar sustentação política pela chamada base de apoio parlamentar.
Na verdade,
porém, a tal base de apoio não passa de custosa ficção, eis que, mesmo em
épocas melhores, quando os partidos ainda tinham algum respeito pelo Palácio do
Planalto, jamais se viu a alegada coordenação, que tanto pesa para o Erário
Público.
E não há
negar que existe de parte do dílmico governo um fundo temor quanto a tomar
qualquer medida para assegurar maior coordenação desse ministério fantasma.
Pois quando
se sugeriu, há poucos dias atrás, que a presidente cuidasse de cortar este
ministério tão inchado quanto inútil, ela se fez de desentendida, e não
procedeu a reforma alguma.
Dilma conseguiu algo que nem
os militares haviam ousado. Durante o regime da chamada revolução, os
generais-presidentes deram prova de
senso patriótico e de apreço pelo Itamaraty. Com exceção de um chamado anfíbio
– político e também militar – nunca puseram à frente do Itamaraty um oficial
das Forças Armadas. Além disso, como também carreira de estado respeitaram a
diplomacia brasileira, que dispôs de certa autonomia para gerir a Casa.
Nada
fizeram que de longe se pareça com o dílmico tratamento, caracterizado pelo
fundo e desmoralizante corte de verbas – que colocou a Casa de Rio Branco atrás
de pequenos ministérios e por isso a colocou em uma faixa de desmoralização e
achincalhe.
O que
nossas missões ora sofrem se deve à sólida ignorância diplomática de Dilma, sem
nenhuma dúvida o Presidente mais nefasto e deletério para o Ministério que se
orgulhava de exercer diplomacia que o punha, em todos os continentes, no
primeiro nível das questões de política exterior.
A isso sucedeu o presente achincalhe, em
que os chefes de missão tem de cuidar que não lhes cortem energia e água, nem
tentem penhorar os nossos prédios de representação por falta de pagamento.
Pois a
isso chegamos. De uma certa forma, a anti-diplomacia de dona Dilma reflete o
seu Partido dos Trabalhadores. De resto, a nossa diplomacia no Continente,
depois de dois séculos de bons serviços no campo dos negócios de Estado, passou para a diplomacia de partido, como é a
prática nos países mais próximos do PT (Venezuela, Equador, Bolívia e Cuba).
Tampouco há de estranhar que o Ministro de Estado das Relações Exteriores não
tenha na prática realmente responsabilidade sobre as questões da América
Latina, de quem cuida o Comissário Marco Aurélio Garcia.
Apesar
dos meus cinquenta anos de Casa, não
me tocou, por especial favor da Deusa Túxe, ter de subordinar-me, no Itamaraty,
a alguém que não fosse da Casa, excetuados, é obvio, os ministros políticos que
nos honraram ao assumir a Cadeira de Rio Branco.
Finalmente,
se poderá dizer que nunca dantes a República esteve tão perto de engrossar a
manada dos regimes neo-sindicalistas, que ora abundam no Continente, embora não
sem resistência de boa parte das populações respectivas.
O
símbolo dessa cercania atravessa uma contestação que surpreende pela amplitude
e profundidade. Quem antes passava por estadista, agora vê a própria criatura
debater-se para não ter que renunciar. Nunca dantes alguém havia mentido tanto
para virar a mesa e arrebatar a eleição.
A
candidata Marina, cuja candidatura crescia pelo significado da respectiva campanha, de
sua honestidade e sinceridade, foi
destruída ainda no Primeiro Turno por uma barragem de acusações mentirosas e
desonestas. Havia da parte do alto comando petista, que Marina Silva, retirante, trabalhadora
braçal, mulher que com muita dificuldade estudara e se formara, e continuara,
para geral espanto, honesta e idealista, que ela, pelo perigo que trazia para a
coligação petista, deveria ser afastada da possibilidade de disputar o segundo
turno. Para tanto, sem dispor de tempo para defender-se – e ao negar-se a
justiça eleitoral a conceder-lhe direito de resposta, mesmo em se tratando de mentiras
contra ela dirigidas – não há de surpreender muito que Dilma tenha tido
como adversário no turno decisivo o candidato Aécio Neves, que por largo tempo se quedara em terceiro
lugar.
Ao
ensejo das últimas manifestações – que os figurões petistas tentaram desmerecer
como se nada significasse a presença de milhões nas ruas a reclamar a
saída de Dilma Rousseff da presidência – o Povo brasileiro colheu
uma dádiva inesperada.
Quero
referir-me à oportuna lembrança de apresentar o companheiro Lula como um boneco
inflável, envergando uniforme de presidiário.
Há tempos que o ex-presidente dorme mal ou não dorme, transido por
tremores e temores inconfessáveis. Passeia-lhe na mente imagem que também
apareceu – mas de forma diferente, eis que empunhada por populares seus
admiradores. Reporto-me ao Juiz Sergio Moro, esse magistrado ainda jovem que
surgiu de Curitiba para o bom êxito da operação Lava-Jato.
A
imagem de Lula presidiário correu mundo. Colunistas
declararam que estamos diante do fim de uma era. No Brasil, tenhamos presente a
atávica maldição que faz compreensíveis o que em outros países se afigura
incompreensível.
Até
agora, temos visto muitos subalternos irem para a cadeia. O que tem diferençado
o trabalho do MPF de Rodrigo Janot, da Polícia Federal e do Juiz Sérgio Moro, é
que ninguém ousou até hoje tentar inviabilizar o Operação Lava-Jato com as
cediças soluções do passado. A Justiça, apesar dos poderosos trancafiados,
continua a avançar.
E é
por isso que gente acima de qualquer suspeita continue a cair nas malhas da
lei, por mais que vociferem, ou, como em outro caso, por mais alto e mais
imponentes se afigurem os respectivos bastiões, muralhas e portentosas defesas,
que antes semelhavam inexpugnáveis.
Hoje no
Brasil, pela mão de um juiz honesto e de inegável mérito, Sérgio Moro, calam as
liminares e as alçadas superiores, porque um poder maior, que é o da Nação
brasileira, se alevanta afinal.
O País
do Jeitinho e do Pistolão se transforma e se torna, para felicidade geral, o
País da Lei e do Direito.
Proclama-se o fim de uma Era. Que o seja realmente, para abrir alas ao
reino da verdadeira Justiça.
( Fontes: O Globo, Folha de S.Paulo )
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