segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Governo sem Rumo

                                         

          O Dilma II abusa do direito de inovar. Contudo, achando-se em posição ultra-precária em termos de contas públicas, deve-se acrescentar que a inovação não se acha exatamente no vertente da ortodoxia economico-financeira.

          Como em três dias, a CPMF – que seria a suposta salvação – acumulou recusas, e a Administração Dilma Rousseff, após em ignominiosa retirada nesse campo, veio com outra ‘novidade’, de que também o Ministro Joaquim Levy discordava frontalmente.

         Com efeito, antes de entrar na apreciação da última novidade do dílmico governo petista, repassemos a série de batalhas perdidas  pelo bem-intencionado Ministro Joaquim Levy. Há coisa de um mês, o Ministro da Fazenda foi derrotado na discussão sobre a meta fiscal.

          Essa meta fora reduzida contra a sua vontade. O seu temor é simples e de fácil percepção. Dada a precária situação orçamentária, e na falta de qualquer esforço no sentido da austeridade, para sempre mais evidente que a bola da vez com as temidas agências de avaliação de risco está na enorme probabilidade de que seja retirado do Brasil o ‘grau de investimento’. Tal constitui um carimbo de ‘bom investidor’ e mantém abertas as cancelas do investimento estrangeiro.

           Sob o pretexto de que o realismo – conjugado com a falta de qualquer esforço maior no campo da austeridade – é o aspecto a ser realçado, tudo no dílmico plano passa a ser implementado na lei do mínimo esforço. Nesse contexto, caberia às agências de Wall Street entenderem  tal postura do Dilma II.

           Todavia – o que parece escapar ao campo dos familiares da Presidente – é que essa postura já apresenta um quadro bastante negativo. Se levarmos em conta a falta de qualquer controle de Dilma e da sua entourage sobre o que antes se chamava a base de apoio – e é justamente esta falta de qualquer sustentação a seu governo que tem provocado a situação falimentar da previdência e das contas públicas – tudo isso vira samba de uma nota só.

           Chamemo-lo de incompetência política de Dilma ou de desagregação da administração petista, tangida pela rejeição da Presidente e do regime petista, temos um quadro que transmitido aos grandes mercados e às famosas agências de risco, só tende a produzir resultados negativos.

           A preocupação do Ministro Levy não é a de agradar a Presidenta (como ela ainda gosta de ser chamada), mas de fazer algo, qualquer coisa, que se encaixe no seu programa e na sua visão enquanto Ministro da Fazenda.

           Sem embargo, Dilma ainda controla as cartas – por mais que os principais figurantes se venham apartando – e ela parece dispor do inverso do dedo mágico que consegue, de algum modo, levantar moral e índices.

           Joaquim Levy semelha não ter ainda percebido que entrou em uma fria. Inspirou no seu ingresso grandes esperanças e expectativas, assim como o personagem de Charles Dickens no romance célebre[1]. Se não tem podido satisfazê-las e implementá-las, tal se deve à fraqueza da presidente Dilma Rousseff, que não quis ou não soube aglutinar todos os parlamentares que haviam sido eleitos debaixo de seu largo e amplo estandarte.

              Preferindo o amigo Aloisio Mercadante a alguém com efetivo trânsito junto a deputados e senadores, o resultado não poderia ser outro, começando pela desastrosa derrota na presidência da Câmara e a eleição de Eduardo Cunha. Mas essa competência que sempre patinou, em tempo recente, com a sua posição nas pesquisas com apenas sete dígitos de aprovação, há de compreender-se a extensão de sua fraqueza.

              Como se referiu acima, Levy tem sido ritualmente contrariado nas suas posições, que em geral são as boas. Dilma, se tentarmos analisar sua posição pela lógica, teria todo interesse em fortalecer o seu Ministro da Fazenda, inclusive pelas expectativas que ele congregara e que para muitos faz por merecer.

             No entanto, ele está sendo – e não tão lentamente – macerado, atingido e enfraquecido por uma oposição interna, aglutinada em torno do pensamento de Dilma Rousseff (seja ele qual for).

             Por mais respeitado que tenha sido ao tempo de sua indicação, há muitos motivos para crer que Dilma não tem particular apreço por ministros com idéias próprias (mesmo que sejam as boas). Ela parece gostar mais daqueles chamados da casa, que sentem, em qualquer circunstância – e mesmo nas atuais – pendor irresistível em apoiar o poder.

             Não foi para isso, Dr. Levy, que o senhor pensou haver sido chamado pela Presidente.

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

    




[1] Great Expectations (Grandes Esperanças, em tradução livre, que não reflete a força implícita no título em inglês).

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