quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Pensamentos Impopulares

                                    

         A leitura dos jornais e de outras publicações nos mostra que a presente crise política e o modo petista de governar vem provocando uma série de retrocessos tanto na política quanto na economia. Tem-se a impressão de que o Brasil nos seus fundamentos econômicos, financeiros, políticos e sociais ao invés de avançar, dá a impressão de uma incôngrua viagem ao passado, onde, para nossa brasileira perplexidade, nenhum processo de ciência-ficção ou de breakthrough[1] tecnológico esteja sendo testado em Pindorama.

         Não é só a inflação que está de volta. A paridade do real com o dólar americano volta a décadas atrás. Então se corre para as empresas industriais que fabricam bens de capital ou bens de consumo durável, e alguns tem o gosto perverso de que a queda no valor do real (com as suas óbvias consequências negativas) se vê compensada por um barateamento no preço relativo dos produtos nacionais, com a consequente acrescida capacidade de exportação. Assim, o que certos países lograram no passado, como a China Comunista, de incremento na exportação por um câmbio rebaixado artificialmente, aqui no Brasil isto se consegue com a desvalorização do real e a fragilização de nossos ativos.

         Atravessamos talvez a mais séria crise política de nossa história. As causas imediatas disso estão sendo produzidas pelo despertar da democracia, com a conscientização do povo brasileiro que assim supera o processo de lavagem cerebral a que vinha sendo submetido. Sem embargo, a primeira causa (a ur-causa se me permitem o neologismo) está no plano do neo-sindicalismo de se apossar do Estado, com uma abrangente investida que,  sem valer-se de discussão na sociedade, pretendeu aparelhar esse mesmo Estado. Tudo isso com o consequente controle, pelo grande chefe e demais instâncias do Partido dos Trabalhadores. Tampouco está esclarecido por enquanto a margem das participações privadas, saidas das lideranças respectivas, nesse processo alternativo de um segundo estado dentro do Estado.

            Para sorte da sociedade brasileira, pela enormidade do projeto aquisitivo, verificaram-se vazamentos. Por primeira vez, um obscuro dirigente partidário, aninhado em diretoria dos Correios, mostraria – o que se procedeu de forma aleatória, num processo encantadoramente brasileiro – que a propina recebida podia ser embolsada como quem aufere uma gorjeta.

            Esse ur-fenômeno (desculpem a germanizada palavra de novo!) iria catalisar quase um movimento físico, eis que em uma série de revelações imprevistas, apareceu também a figura-símbolo do delator, que  comprovaria a inserção do jeitinho brasileiro de facilitar as coisas para destrinchar o enigma do Mensalão.

            Naquele tempo ainda havia o altruísmo do autêntico militante, que, acossado por revelações imprevistas de um novo delator, assumiu o quase-supremo sacrifício de apresentar-se como o ideador do esquema. Mais uma vez, com o seu aporte de atores e figurantes, em sacrifício próprio de realidades já ultrapassadas, esse ideador renunciou ao sub-governo (posto que no seu discurso tenha a sua realidade no mando).

          A primeira catarse nacional, com pretensos responsáveis indo para a cadeia, se realizou sob as câmeras da tevê justiça. Ainda que o processo tenha revestido as usuais características de Pindorama, ele foi conduzido com brilho jurídico e férrea disposição por um grande juiz, que empreendeu o estudo e sistematização de todo o processo, e, em seguida, logrou aglutinar a necessária maioria para afastar as previsiveis incursões da turma do deixa-disso. Dada a brasílica lentidão do processo, a maioria inicial não pôde ser mantida, e com inegável dificuldade o processo do chamado mensalão seria aguado em certos aspectos, mas herculeamente preservado pelo juiz-presidente.

              Foi o apoio popular que deu o respaldo necessário a que a Ação Penal 470 fosse, com uma que outra concessão, levada a cabo. A ironia ínsita no processo é que o juiz que o catalisara e liderara havia sido nomeado por quem depois se transformaria no maior crítico da empresa, que interpretou como se fora ataque ao próprio partido (então solidamente encastelado).

               No país do jeitinho esse avanço não foi dos menores, ainda que não lhe faltassem críticos, todos oriundos da faixa partidária que se pensara surgira para a instrumentalização do controle pelas grandes e muita vez ignaras maiorias.

               Não demorou muito para que o respeitável público tomasse pasmo conhecimento de outra estripulia, esta inclusive maior do que a precedente. Foi o Petrolão em que o amor já muitas vezes declamado pela Petróleo Brasileiro S.A. ganhou um mega-impulso, a ponto de que essa efusão excessiva e abrangente implicaria em uma sangria dessa empresa que é mencionada por muitos de nossos políticos, e em especial pela elite sindical que se transportara para um grêmio partidário, com tanto desvairado amor. E como se sabe de priscas datas, o excesso tende a ser pernicioso, sobretudo a utilização de ultra-aparelhamento da pobre Petrobrás. Como toda cobiça – e a máxima de Lord Acton continua válida – ela decretaria o fracasso do imaginativo modelo fundado no cartel e na propina, levado a extremos, todos eles devidamente creditados nas diversas bolsas desses amigos da Petrobrás, com a distribuição marcada pelo sacro princípio da hierarquia.

                Nesse contexto, há uma figura que integra o plano da tragédia nesse esquema que passou a ser utilizado em escala industrial. Morto nos albores do novo regime, até hoje a morte do prefeito Celso Daniel permanece não-deslindada, ou pelo menos não causou o que em outros países civilizados determinaria investigações, julgamentos e condenações.

                Mas voltemos à vaca fria. O processo de justiça continua, agora, através da crise – para alguns pré-terminal – do segundo Governo de Dilma Rousseff. Concluídas as metas do  primeiro mandato da Mulher do Lula – basicamente a volta da inflação e de todas as suas características, de que muitos brasileiros, e aí incluído o autor dessas linhas, pensavam fenômeno do passado, felizmente superado pelo Plano Real.

                 Infelizmente, o líder máximo julgara que a candidata ideal seria a sua chefa de gabinete, que com a gárrula língua transformou em Chefe de Governo, atribuindo-lhe dotes, visões e capacidade que infelizmente não possuía.

                 E, no entanto, leitor amigo, acredite, ela não só não morreu de bronquite, logrando trazer o dragão de volta com a sua vasta bagagem, bagagem essa de que poupo o leitor maiores detalhes, eis que os conhece muito bem. 

                  Por isso, não surpreenderá que, com grande cara de pau e mentiras mil, Dilma Rousseff seria reeleita, depois do sacrifício ritual da candidata Marina, que é muito temida pela hierarquia petista, e não por seus defeitos, mas por suas excessivas qualidades!

                Ora estamos atolados na crise política nascida de um governo eleito por pequena maioria e na contramão da vontade do Povo soberano, agora revoltado com a série de escândalos que o presente governo sobraça.

                Antes que isso termine – e espero que seja pacificamente, mas não na sólita maneira brasileira – gostaria de deixar um conselho (nada mais barato do que um conselho!).

                Senhores governantes, não seria o caso de esquecer por um tempo o mítico pré-sal? O petróleo caiu às funduras dos 38 e 42 dólares, dependendo de seu tipo. Ora, até mesmo a direção da Petrobrás sabe que a explotação do petróleo do pré-sal, esse deus ex-machina salvador do Brasil, não é economicamente rentável se as cotações persistirem nesse nivel. Por outro lado, o petróleo, esse combustível fóssil, é o grande fautor da poluição no Planeta Terra.

                 O Brasil com toda a sua exposição solar se mantém indiferente ao emprego dessa energia, que vem sendo aperfeiçoada pela China e outro países. Em função desses esforços, o custo das placas que armazenam a energia do astro-rei tem caído de forma a tornar a sua aplicação no Brasil assaz recomendável.

                  Além disso, o Brasil poderia dispor da energia eólica, que em outros países já está integrada na cadeia energética.

                  Por outro lado, vários países estão empenhados na produção de veículos movidos a eletricidade. Isto não tem mais nada de utópico. Imaginem, senhores passageiros, que belo quadro se o Brasil, como tantas outras nações ora empenhadas em afastar-se do combustível fóssil, que é produtor da poluição geradora de tantos magnos problemas ecológicos.

                  Não sei, senhores diretores da nave Brasil, se esse segredo já lhe chegou aos ouvidos. Combustível fóssil é coisa do passado. Carecemos de fazer um programa para introduzir no país usinas de produção de veículos movidos à eletricidade, como começa a ser feito no estrangeiro. Se se deve gastar fundos, é em preparar a infraestrutura para retirar o Brasil do atraso tecnológico em que se acha.

                 E, por outro lado, ao invés de sonharmos com a terra da Cuccagna[2], a fabulosa terra do pré-sal, devíamos pensar em que mais do que tempo de convencermos as feitorias aqui instaladas para continuar produzir carros atrasados, poluentes, e o que é também ruim, e que exportam os lucros para as ávidas matrizes sitas na Terra de Elizabeth Arden!     

                Vejam o baixo nível governamental. Ao faltar água para a produção de energia, se recorre às termoelétricas, ou até às usinas atômicas, aquelas do futuro, como a de Tchernobil, na Ucrânia, e a de Fukushima, no Japão...

               .



[1] Avanço, em geral tecnológico.
[2] A mítica terra da abundância (para os italianos).

Nenhum comentário: