Quando se
entra em processo político como o que ora atravessamos, não sei se será
prudente afirmar que já se atingiu o pior momento. Esta crise que despencou
sobre nós, ela não é só do governo Dilma, mas também do regime do PT.
Há
demasiadas trevas que carecem de ser dissipadas, e aqueles que se apressam em
aparentar uma equanimidade de que por muito ignoraram, não tem autoridade de
reclamar paz para a qual não deram contribuição alguma.
Dilma se dispôs a responder aos
questionamentos que chovem sobre a sua administração, e para tanto correu às
lonjuras de Roraima, em reunião adrede preparada, no extremo norte do Brasil,
em Boa Vista, em mais uma distribuição de moradas do programa Minha Casa Minha Vida.
Se nos
grandes centros do país, os seus oito dígitos de aprovação não aconselham decerto arrostar as forcas
caudinas da soberania popular, cabe perguntar o que significa transmitir para
os grandes e pequenos centros desses imensos Brasis que ora ruidosamente a
rejeitam em qualquer aparição, mesmo na telinha da tevê.
Ela está
nos páramos já enfrentados por dois predecessores seus – que como fantasmas
ainda assombram alguns espaços públicos.
E o que o Jornal Nacional nos transmitiu faz pensar.
Não é
decerto mais a sorridente Dilma a receber o aplauso de multidões, nem o ríspido
virago a contrariar assertivas do adversário, com a arrogância dos nobres
pré-revolução francesa.
Ora tudo mudou. Deparamos mulher emagrecida
pela crise cruel, no gesto transtornado a angústia de noites maldormidas, assombradas
por gente antes desconhecida ou desimportante.
Ela chegou com
cerimônia, gente e discurso prontos. Que ela compareça à telinha de uma tal
distância, valendo-se de sorridente entorno que é o contrário de o que a espera
nos grandes centros citadinos.
À primeira
reação, diante de um ser humano encolhido e maltratado pelas peripécias de um
drama ainda não resolvido, o coração se aperta. Se não é um fantasma, é uma
aparição de quem sofre a chamada peripeteia,
aquilo com que os gregos antigos se serviam para descrever uma reviravolta do
destino.
O seu
criador recomendou que assim fizesse. E ela obedece. Talvez até se arrependa de ter-lhe barrado o
caminho, e reivindicado o direito de reeleger-se. O mar então estava tranquilo.
Dilma terá
pensado que o segundo mandato seria como o primeiro. Hoje, com todas as suas menções aos padecimentos
da revolucionária, das torturas que sofreu, e não obstante cá está, não mais
funciona como na sua segunda campanha para a reeleição.
Então
arrotava segurança, desfazia de seus adversários. De Marina, bastou cortar-lhe o direito de contestar as
mentiras. De Aécio, foi um pouco mais difícil, mas deu pro gasto.
Agora, a
fonte secou. A festa acabou. E fantasmas do passado vão saindo de seus
tugúrios.
Agora, ela
torce as mãos, tem o rosto emagrecido, e a expressão angustiada.
No entanto,
agora as emoções não são mais como antes. Além de Roraima, ela vê expressões
duras, distantes, desconfiadas, detestáveis mesmo.
( Fontes: Rede Globo, Folha de S. Paulo, Carlos Drummond de Andrade )
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