A competência
funcional, a firmeza e a serenidade do Procurador-Geral Rodrigo Janot Monteiro de
Barros marcaram a sua sabatina na Comissão de Constituição e Justiça, do
Senado Federal.
Dos treze
senadores investigados pela Lava-Jato,
onze compareceram. A sabatina foi bastante concorrida. Salvo o embate com o
ex-presidente Fernando Collor, não houve incômodos maiores para Janot que sempre
manteve a calma,mesmo enfrentando a
hostilidade do Senador pelo PTB das Alagoas.
Collor afirmou ser o procurador-geral “catedrático” no vazamento de informações.
Janot reagiu, sempre sem perder a compostura, negando todas as acusações e
acabou por dizer que não é ‘vazador contumaz’.
Por fim,
conforme é do seu feitio, o ex-presidente sussurrou ao microfone (que não lhe captou
as palavras) um expletivo de baixo calão e vocábulo ofensivo.
A sabatina
foi transmitida pela tevê do Senado Federal (durou dez horas). Houve afluxo
maciço dos senadores – F. Collor é suplente e sentou-se na primeira fila, com a
intenção de confrontar Rodrigo Janot – e o candidato à recondução impressionou
pelo domínio das múltiplas questões tratadas, precisão, firmeza e tranquilidade.
Os
principais senadores intervieram. José
Serra (PSDB-SP) discorreu sobre o problema dos precatórios e a necessidade
de regras mais justas e de menor sobrecarga para os estados. Humberto Costa (PT-PE) se reportou a
acusações não-consubstanciadas que tendem a dar imagens distorcidas de
políticos.
O
procurador-geral negou com veemência a existência de “acordão” com o governo Dilma. Referiu-se, no contexto, a esse tipo
de increpação como “factóide”.
Quanto ao esquema
de corrupção na Petrobrás, ele reconheceu que “a Petrobrás foi e é alvo de um megaesquema de corrupção, um enorme
esquema de corrupção. Eu, com trinta e um anos no Ministério Público, jamais vi
algo precedente. Esse esquema de corrupção chegou a roubar nosso orgulho. Por
isso que a gente investiga a fundo.”
“Não há
pais possível sem respeito à Lei. O que tem sido chamado de espetacularização
da Lava-Jato nada mais é do que a
aplicação de princípio fundamental da República: todos são iguais perante a
lei. Pau que dá em Chico dá em Francisco.”
Questionado pelos senadores se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
não se enquadraria na Lava-Jato com base na teoria
do domínio do fato, Janot respondeu em tese que é necessário ter provas da
participação da pessoa no crime.
“A teoria do domínio do fato[1] não
dispensa prova. Ela permite se alcançar a pessoa que não é o executor, que é o
mentor do delito. Mas tem que haver prova.
Não poder haver prova transitiva. A investigação está seguindo. Os
processos no Supremo Tribunal Federal
(STF) começaram em março. A Lava-Jato
dura cerca de 500 dias. Inúmeras denúncias foram oferecidas.”
Por
fim, quanto ao caso relativo ao lobista Júlio
Camargo, o procurador-geral assim esclareceu a questão: “A multa aplicada ao lobista Júlio Camargo
foi elevada porque ele inicialmente omitiu, em sua delação, o envolvimento do Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Não houve
punição maior porque a Lava-Jato acreditou na nova versão. (...) (Júlio Camargo)
não falou antes porque tinha receio por sua própria vida. Nessa retificação que
ele faz, a espontaneidade dele é visível. “Eu temo pela minha vida”, ele
disse. “Só voltei agora porque a
investigação chegou a um ponto que minha omissão está clara, mas continuo
temendo pela minha vida.”
Em
consequência da sabatina, Janot foi
aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por 26 votos a um. Já no
plenário do Senado Federal, Rodrigo
Janot Monteiro de Barros teve 59 votos
a favor, doze contrários e uma abstenção.
Reconfirmado no posto, Janot terá mais dois anos à frente do
Ministério Público Federal (MPF) e das investigações envolvendo dezenas de autoridades citadas pelo
delator Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC.
Oito senadores titulares que são
investigados no STF participaram da
votação secreta da sabatina: Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir
Raupp (PMDB-RO), Edson Lobão (PMDB-MA), Benedito de Lira (PP-AL), Ciro
Nogueira (PP-PI), Humberto Costa(PT-PE), Gleisi
Hoffman (PT-PR) e Antonio Anastasia (PSDB-MG).
Collor, suplente, registrou seu voto, mas
este acabou não sendo computado, porque os titulares de seu bloco parlamentar
também votaram. Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gladson Cameli (PP-AC) participaram da sabatina, sem votar.
Dos
Senadores investigados, apenas Renan
Calheiros (PMDB-AL) e Fernando
Bezerra (PSB-PE) não foram à sabatina.
( Fontes:
O Globo, TV Senado )
[1] Essa teoria foi utilizada
na sua Relatoria da Ação Penal 470, no Supremo Tribunal Federal, pelo então
Ministro Joaquim Barbosa. Sua Excelência, infelizmente para o STF, antecipou
sua aposentadoria.
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