Ao deparar o
descalabro da gestão da discípula de Lula da Silva, Dilma Rousseff, me é difícil esquecer o que na época pensara fosse
um cacoete de meu bom Amigo Pedro Carlos
Neves da Rocha, que sempre se recusou em votar num candidato que não
tivesse curso superior completo.
Conforme relatei neste blog, na época do encantamento nacional
com o torneiro mecânico Lula da Silva, apesar dos instantes apelos dos amigos
Augusto Rezende e meus próprios, ele sempre declarou pelo motivo acima que
jamais votaria para presidente em quem não houvesse cursado universidade.
Hoje me dou conta o quanto de razão Pedro
tinha. Recusava-se a aderir ao oba-oba
de então em sufragar quem se tornara uma candidatura nacional.
Passados quatorze anos da consagração daquele
que julgávamos o candidato da Nação, que liderava partido com linha jacobina quanto
a princípios, que se referira aos trezentos picaretas com mandato no Congresso,
e que denunciara como corrupto, entre outros, ao então Vice-Rei do Norte, José Sarney, o que acontecerá se o
levarmos à mítica balança na qual se pesam intenções e realizações?
Transcorridos quase três lustros de
o que se prefigurava como radioso futuro de Nação a ser presidida por ex-retirante
nordestino, um operário que de dirigente sindical se alçara a líder de partido
novo, que encantava intelectualidade e a Igreja progressista, num momento ainda
de transição, no qual o regime militar tentava recusar que a hora do
discricionarismo se ía desfazendo, ao acercar-se do vintênio.
Embora abundassem os sinais, João
Figueiredo, como ele gostava que o chamassem, timbrava em não
concordar. Mas com o passar do tempo, grande parte da Nação via como símbolo de
nova era o Partido dos Trabalhadores, e sua principal estrela. O jovem PT era
um grêmio aguerrido, zeloso e doutrinário, não titubeando em abraçar inflexível
jacobinismo ao expulsar um punhado de militantes que, ouvindo o clamor
nacional, decidira sufragar Tancredo Neves. Nessa linha radical, também
recusou-se a assinar a Constituição de 5
de outubro de 1988[2].
Essas mudanças de curso foram
escusadas a título de juvenil impetuosidade. O futuro mostraria, no entanto,
que o oportunismo esteve sempre presente no PT, e se confirmaria como tendência
predominante com a tomada do poder. Ficava o dito por não dito, porque um valor
mais alto se alevantara. Só não se sabia então que essa regra era tão elástica
e cínica, quanto o futuro o demonstraria.
Tendo isso em mente, tratemos da
atualidade e de seus desafios, porque o resto a Deus pertence. Mais acompanhe o
descalabro do presente, mais me convenço de que o Brasil deve a quem se
intitulou Nosso Guia a dúbia dádiva da dupla presidência de Dilma
Rousseff, a primeira como a chamada Mulher
do Lula, eleita por indicação do Coronelão federal (e pela lamentável
campanha de José Serra, um insigne político, marcado pelo exílio e pela
anterior exação e brilho político). Grande articulista,Ricardo Noblat, já
esmiuçou o que está por atrás dessa indicação, que conduziu ao Palácio do
Planalto quem não estava preparada para tanto. Sabemos por que Lula se absteve
de sinalizar um grande nome, preferindo o de sua chefa de gabinete, a quem deu
alturas que ela não tinha.
Agora colhemos o fruto amargo dessa
jogada que o autor terá pensado getuliana
na sua habilidade. Apesar de haver tentado retomar em 2010 as rédeas do
Planalto, ironicamente quem é inexperiente em política (se a ele comparada)
logrou com certa facilidade preservar para si o suposto direito à reeleição.
Patético de certa forma foi o
naufrágio de Lula no intento de recandidatar-se. A reeleição de Dilma foi
desastrosa e não só para o candidato das oposições, Aécio Neves. É fato notório que o PT tudo fez para evitar que a
candidatura de Marina passasse ao segundo turno. Já tinha tentado fazê-lo –
com aparente sucesso – pela rejeição do seu partido pelo TSE (na terra do
multipartidismo levado a um consternador exagero) por intrincadas razões que a
razão desconhece. O que o PT não poderia imaginar é que a vice da chapa do PSB
de repente se visse guindada a cabeça de chapa pelo desastre aéreo de 13 de
agosto de 2014, em Santos com a morte do governador Eduardo Campos, jovem e promissor candidato neto de Arraes.
Perdido o sono por um tempo, cuidaram os gerarcas petistas de fuzilar a
candidatura de Marina com saraivada de mentiras.
E assim Dilma chegou ao segundo turno com o tucano Aécio Neves pela frente,
uma ameaça à petista muito menor do que a carismática, honesta, coerente e
afro-americana Marina Silva.
É de lembrar-se agora o velho dito.
Não desejes muito uma coisa, porque ela pode acontecer. E foi o que ocorreu com
Dilma Rousseff. Conseguiu vencer por 3% a Aécio, mas nisto ficou. Ganhou o primeiro e o segundo turno com
enxurrada de mentiras. Os escândalos da Lava-Jato
e do Petrolão
começaram a espoucar. Não estamos em junho, mas a artilharia continua.
A recusa do Povo Soberano à
candidata - que se apoiara num cenário cor de rosa que a realidade pós-eleição
destruiu impiedosamente - se vai firmando em uma série de manifestações
populares, que se mantêm malgrado as ânsias de seus partidários. O desprestígio
é tal que funcionário Cerimonial do Planalto chega a barrar-lhe a presença em
cerimônia. Antes os funcionários demoravam em trazer o cafezinho, agora inovam.
No entanto, pesa-me dizê-lo que ela
é como o jabuti da anedota. Se ele está num galho de árvore, alguém lá o
colocou. E assim a inefável Dilma está em Palácio por vontade exclusiva de Lula
da Silva.
Ao olhar em torno e ver o descalabro
produzido pela Rousseff no seu primeiro mandato e hoje por nós colhido no
segundo, seria injusto atribuir-lhe a maior parte da culpa. É verdade que por
sua imprudência e incompetência, ela nos trouxe a inflação de volta, e com o
dragão o seu séquito de miséria e incerteza.
Estamos agora,pelas mesmas causas, em
recessão. A nossa economia, estagnada por uma série de fatores, alguns deles
dignos de impeachment, se apresenta nesse
estado causado pela conjunção do egoismo de Lula e a incompetência de Dilma.
E ainda para esfregar sal na ferida,
nos vem dizer que o nosso PIB caíu tanto que só está melhor que o da Rússia
(vítima do despencar de seu principal produto de exportação, i.e.,o petróleo) e
o da pobre Ucrânia, de que tanto tenho escrito, e por causa da cínica agressão
imperialista por ela sofrida de parte do
presidente russo, o Senhor Vladimir V. Putin...
( Fontes: O Globo, Folha de S.
Paulo, Ricardo Noblat )
[1] Uma explicação para quem
não leu a minha série ‘Cartas ao Amigo
Ausente’: Pedro Neves da Rocha
sempre se recusou a votar para Presidente (ou outro cargo executivo) em quem
não tivesse curso superior.
[2] Mais tarde voltaria atrás,
e pela porta dos fundos, com a conivência do Congresso, deu o dito por não dito,
e ora consta como se a tivesse firmado a seu tempo.
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