sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Carter, um grande presidente


  
       Jimmy Carter, hoje com noventa anos, foi presidente de um só mandato (1977-1981).  É o trigésimo-nono presidente dos Estados Unidos.

       Durante o seu mandato, enfrentou muitas dificuldades e os Estados Unidos muitas contestações. De feitio liberal – foi ele quem colocou na agenda americana a defesa dos direitos humanos – e exerceu pelo mundo afora uma influência muito positiva. Em nosso país, então sob ditadura militar, o fator Carter em termos de direitos humanos também se fez sentir.

        O seu maior feito em política externa foi o acordo de Camp David entre Israel e Egito, que levou à conclusão da paz entre os dois países, por intermédio do entendimento entre Menahen Begin e Anuar Sadat, e a consequente devolução por Israel do território conquistado no Sinai.

        Ainda no campo das relações externas, Carter conseguiu estabelecer relações diplomáticas, posto que em nível de representação de baixa hierarquia, entre a Cuba de Fidel Castro e os Estados Unidos. Subsistem poucas dúvidas que o que somente há pouco logrou o Presidente Barack Obama, seria com muita probabilidade implementado em segundo período de Carter.

         Sem embargo, por uma série de problemas internos (inflação, crise do petróleo) e sobretudo a magna crise com o Irã, com a renúncia do Xá em 1979, e a chegada em seguida ao poder do Imã Khomeini, as relações entre os dois países desandariam, e aconteceria o famoso episódio do sequestro da embaixada americana em Teerã, e dos  52 reféns americanos da missão.

         A tentativa da Administração Carter de salvar os reféns, transportando-os de volta aos Estados Unidos, não se concretizaria através da tentativa de missão de oito helicópteros. Em um intento marcado pela desorganização, três dos helicópteros foram perdidos, e por causa do choque de um dos helicópteros  com avião de transporte, oito soldados americanos morreram.

       Carter ainda tentou pela negociação diplomática lograr a libertação dos reféns, mas o governo revolucionário iraniano preferiu aguardar a posse de Ronald Reagan para acertar a libertação dos reféns e o seu regresso aos Estados Unidos. Como é do conhecimento geral, Carter perdeu a possibilidade da reeleição para um segundo mandato com esse grande tropeço.

       No entanto, se os presidentes de um só mandato são vistos como exemplos de governo ou fracassado ou incompetente, pode-se considerar sem medo de erro que Jimmy Carter, o filho de um agricultor da Geórgia, foi o maior presidente americano de um só mandato.

       Se a superstição pelo estigma da derrota para o segundo termo sempre impediu que Jimmy Carter colhesse as atenções que são em geral prodigadas aos candidatos democratas, quando tentam a presidência (assim como a reeleição), o 39º presidente americano fica em um quadro à parte, pelo seu número de realizações, sobretudo em relações exteriores (há pouco tempo Carter visitou a China Comunista, eis que foi o presidente que normalizou as relações com Beijing).

           Carter, após o seu mandato, fundou o Centro Carter em Atlanta, que tem tido atuação de grande valia no combate às endemias e através de atividade incessante no campo da saúde e dos direitos humanos. A mais recente grande realização do Centro Carter está na virtual erradicação de uma enfermidade – o verme da Guiné –  que pode ser assinalada pelos números respectivos. Quando o trabalho do Centro começou havia de três a cinco milhões de casos por ano, na África e na Ásia. Em 2014, o enorme êxito alcançado se reflete em que a incidência de casos se cingiu a 126.

           Com o seu conhecido otimismo, Carter espera que antes de sua morte a doença esteja extinta.

           Aliás, apesar de terem aparecido no cérebro  metásteses do melanoma, que havia sido retirado do fígado, Carter conta poder ainda ir ao Nepal, com vistas a  participar de encontro promovido por Habitat para a Humanidade (uma das ONGs apoiadas pelo Centro Carter).

          Dada a quantidade e o mérito de suas múltiplas iniciativas em termos de relações internacionais e no campo da saúde,  Jimmy Carter – que enfrenta talvez o seu desafio terminal – constitui uma daquelas pessoas que depois de mortas surgem ainda maiores do que em vida, como as grandes árvores que o homem abate nas florestas.

 

( Fonte:  The New York Times )

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