Jimmy Carter, hoje com noventa anos,
foi presidente de um só mandato (1977-1981).
É o trigésimo-nono presidente dos Estados Unidos.
Durante o seu
mandato, enfrentou muitas dificuldades e os Estados Unidos muitas contestações.
De feitio liberal – foi ele quem colocou na agenda americana a defesa dos
direitos humanos – e exerceu pelo mundo afora uma influência muito positiva. Em
nosso país, então sob ditadura militar, o fator Carter em termos de direitos
humanos também se fez sentir.
O seu maior
feito em política externa foi o acordo de Camp
David entre Israel e Egito, que levou à conclusão da paz entre os dois
países, por intermédio do entendimento entre Menahen Begin e Anuar Sadat, e a
consequente devolução por Israel do território conquistado no Sinai.
Ainda no campo
das relações externas, Carter conseguiu estabelecer relações diplomáticas, posto
que em nível de representação de baixa hierarquia, entre a Cuba de Fidel Castro
e os Estados Unidos. Subsistem poucas dúvidas que o que somente há pouco logrou
o Presidente Barack Obama, seria com muita probabilidade implementado em
segundo período de Carter.
Sem embargo,
por uma série de problemas internos (inflação, crise do petróleo) e sobretudo a
magna crise com o Irã, com a renúncia do Xá em 1979, e a chegada em seguida ao
poder do Imã Khomeini, as relações entre os dois países desandariam, e
aconteceria o famoso episódio do sequestro da embaixada americana em Teerã, e
dos 52 reféns americanos da missão.
A tentativa
da Administração Carter de salvar os reféns, transportando-os de volta aos
Estados Unidos, não se concretizaria através da tentativa de missão de oito
helicópteros. Em um intento marcado pela desorganização, três dos helicópteros
foram perdidos, e por causa do choque de um dos helicópteros com avião de transporte, oito soldados
americanos morreram.
Carter ainda
tentou pela negociação diplomática lograr a libertação dos reféns, mas o
governo revolucionário iraniano preferiu aguardar a posse de Ronald Reagan para
acertar a libertação dos reféns e o seu regresso aos Estados Unidos. Como é do
conhecimento geral, Carter perdeu a possibilidade da reeleição para um segundo
mandato com esse grande tropeço.
No entanto, se os presidentes de um só
mandato são vistos como exemplos de governo ou fracassado ou incompetente,
pode-se considerar sem medo de erro que Jimmy Carter, o filho de um agricultor
da Geórgia, foi o maior presidente americano de um só mandato.
Se a
superstição pelo estigma da derrota para o segundo termo sempre impediu que
Jimmy Carter colhesse as atenções que são em geral prodigadas aos candidatos
democratas, quando tentam a presidência (assim como a reeleição), o 39º
presidente americano fica em um quadro à parte, pelo seu número de
realizações, sobretudo em relações exteriores (há pouco tempo Carter visitou a
China Comunista, eis que foi o presidente que normalizou as relações com
Beijing).
Carter,
após o seu mandato, fundou o Centro Carter em Atlanta, que tem tido atuação de
grande valia no combate às endemias e através de atividade incessante no
campo da saúde e dos direitos humanos. A mais recente grande realização do
Centro Carter está na virtual erradicação de uma enfermidade – o verme da Guiné
– que pode ser assinalada pelos números
respectivos. Quando o trabalho do Centro começou havia de três a cinco milhões
de casos por ano, na África e na Ásia. Em 2014, o enorme êxito alcançado se
reflete em que a incidência de casos se cingiu a 126.
Com o seu
conhecido otimismo, Carter espera que antes de sua morte a doença esteja
extinta.
Aliás,
apesar de terem aparecido no cérebro metásteses
do melanoma, que havia sido retirado do fígado, Carter conta poder ainda ir ao
Nepal, com vistas a participar de
encontro promovido por Habitat para a Humanidade (uma das ONGs apoiadas pelo
Centro Carter).
Dada a
quantidade e o mérito de suas múltiplas iniciativas em termos de relações
internacionais e no campo da saúde,
Jimmy Carter – que enfrenta talvez o seu desafio terminal – constitui
uma daquelas pessoas que depois de mortas surgem ainda maiores do que em vida,
como as grandes árvores que o homem abate nas florestas.
( Fonte:
The New York Times )
Nenhum comentário:
Postar um comentário