Ainda é cedo para determinar qual
será a conta da crise Dilma Rousseff.
Como reza o antigo conselho de que as assertivas de personalidades que
fizeram por merecer um baixo crédito no que concerne à veracidade das
confissões respectivas devam ser tomadas com boas doses de ceticismo, já de
saída elas podem ser sacudidas nessa peneira e muito pouco sairá de
aproveitável.
Assim as boas
intenções da Presidente que terá pensado em partilhar com o eleitor eventuais
dúvidas sobre a situação econômica e
financeira do Brasil, que ela desvelou ao público na última entrevista, fazem
parte da farsa pós-eleição. No segundo turno, mais ainda do que no primeiro
(quando conseguira ver-se livre de Marina, a quem os estrategas do PT temiam mais do que o demo como adversária no
segundo turno), com arrogância ela vestiu os andrajos da situação econômica
com roupas de gala.
O Brasil
mergulhou e não por acaso na situação em que ora está por causa da herança de
Lula e do primeiro mandato de Dilma. Não é só o que ora inquieta Nosso Guia com o avanço da Lava-Jato,
as revelações na imprensa sobre o escândalo do Petrolão, e a ação segura do Juiz
Sérgio Moro, mas também a mega-crise política que desabou sobre a
segunda presidência da Rousseff. Nunca dantes na história de nosso país um
primeiro mandatário se achou tão enfraquecido quanto a candidata da algibeira
de Lula.
Dirão que ela
dispõe na sua retaguarda de um grande partido. No entanto, a política diz
respeito sobretudo ao hoje e ao amanhã.
O que o PT ora apresenta em termos de bancada é o reflexo de um ontem que só
persiste porque a sua obra alcançou as bancadas inchadas da atualidade, agora
consumidas pelas revelações e escândalos que não cessam de espoucar nesse
prolongado pós-eleição.
De certa
maneira, repetiu-se neste pleito o
estelionato eleitoral do boi-gordo e do Plano
Cruzado, que já a dois dias do resultado estava esvaziado pela manobra do
Cruzado II. Como dizia Magalhães Pinto, política é como
nuvem, pela sua mutabilidade. Para o eleitor, porém, a raiva aumentará
exponencialmente, se desmascarada a circunstância de que a vitória baseou-se na mentira.
Aí tudo muda.
Com a credibilidade perdida, desabam os Ibopes
e os Datafolhas da vida. A política e
as suas representações refletem o passado, mas também o futuro, porque é este o
amálgama que aponta para o rumo a seguir e as alianças a firmar, se se deseja
manter o poder. Se um partido ou aliança de partidos é julgado como se fora uma
mentira ou embuste, ele passará a sofrer as consequências antecipadas do seu
próximo inelutável castigo pelo corpo eleitoral.
É esta a
situação presente, não só do governo Dilma, mas também do PT. É enorme a
rejeição à porta-estandarte e à escola, como se reflete na última pesquisa do Datafolha quanto à primeira mandatária
(e, por consequência, ao cliente PT).
Como a força
política se compõe de dois elementos básicos (avaliação presente e o número da
bancada de apoio), os dois elementos não se podem dissociar, como se verifica
de resto na impossibilidade de o Governo Dilma sacar os seus supostos direitos
sobre a sua chamada base de apoio. Por
falta de credibilidade política, os seus clientes tendem a rever as respectivas
posições. Daí o fiasco quanto à aprovação do Ajuste Fiscal, e de qualquer outra
medida que envolva o futuro. Além disso, a fraqueza política do governo Dilma
aumenta o preço da respectiva sustentação, como se verifica pelas centenas de milhões
desperdiçadas com bondades para os
parlamentares, bondades essas que trarão muitos poucos dividendos para as
questões do interesse da Fazenda e da situação econômica do Brasil.
( Fonte: O Globo )
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