Por bastante tempo o
vice-presidente Joe Biden permaneceu
entre os pretendentes à nomination para candidato pelo Partido
Democrata à sucessão de Barack Obama. No entanto, malgrado ingentes
esforços, a candidatura de Biden não decolou, permanecendo bastante atrás da front-runner [1]Hillary Clinton.
Por isso, Joe
Biden discretamente saíu da disputa, reconhecendo implicitamente a condição de
favorita da ex-Primeira Dama.
No entanto, a história demonstra que não há
fáceis eleições para o casal Clinton. Bill Clinton surgira na década de noventa
como favorito para enfrentar o presidente George Herbert Walker Bush, que
postulava o segundo mandato.
Havia uma
recessão, o presidente não era muito popular, e as perspectivas para o
ex-governador de Arkansas se afiguravam animadoras. No entanto, embaçando a vitória de Clinton , o New York Times, principal jornal americano, publicou artigos
em que se investigava Whitewater.
Nessa série de reportagens sobre o empreendimento dos Clinton, se procurou
responsabilizar o casal. Isso se transformaria em uma cause célèbre que tentou, contra vento e maré, responsabilizar
penalmente o casal. Essa causa movimentaria dois promotores especiais – o primeiro,
Robert Fiske, foi julgado demasiado correto para servir os propósitos do GOP (i.e., inviabilizar Clinton), e
então pequeno grupo de senadores, com o temível Senador Jesse Helms (Rep-NC) à frente, selecionou outro, Ken
Starr, que estava no modelo do Comissário
Javert dos Miseráveis, com a diferença de que o personagem de Victor
Hugo era severo, mas honesto).
Para resumir a
estória, a investigação se arrastou ao longo da presidência de Clinton,
submeteu Hillary à penosa e despropositada audiência de grand-jury, e utilizando o truque judicial das tentativas de perjúrio, acabou em um processo de impeachment contra Bill Clinton. Ken
Starr gastaria, como promotor especial milhões de dólares
do Erário, colocou em grilhões uma secretária[2] e
amiga dos Clinton a quem desejava forçar o testemunho contra o casal, tudo isso
com muitos elogios do jornalão nova-iorquino, mas o zeloso promotor acabou
fracassando no seu intento de vencer o presidente e a própria esposa (que já
contrariara o grande pool médico-farmacêutico
com a sua proposta de reforma da saúde, que tinha o grande defeito de ser muito
boa para o público-alvo, no caso o povo americano).
Já
disse alguém com propriedade que a história tem o hábito de repetir-se, mas
muita vez, quando o faz, ao invés da severidade inicial, passa agora ao plano
da farsa. É o que parece estar acontecendo com a disputa pela nomination para a
eleição de 2016.
A
circunstância de Hillary Clinton apresentar por segunda vez a sua candidatura
presidencial – na primeira, pouco antes da Convenção, resolvera renunciar em
favor de Barack Obama. O ex-presidente Bill Clinton lutara leoninamente em prol
do pleito da esposa através da massacrante série de primárias, em que os dois front-runners se digladiavam pelo primado.
Ao cabo, Hillary teve o bom senso de renunciar à pré-candidatura, no que
enfrentou a acesa resistência do marido.
Agora, o
processo para a escolha de sucessor de Barack Obama se arrastou por muito com a
virtual certeza de que a ex-Secretária do State
Department seria a escolhida pelos democratas para liderá-los na campanha
para a manutenção na Casa Branca de presidente democrata.
Foi por causa
da grande vantagem da pré-candidata Hillary sobre os demais postulantes
democratas, que o Vice Joe Biden optara por sair da competição.
Eis senão
quando o velho conhecido do casal, o maior jornal estadunidense, i.e. The New York Times, resolve patrocinar
investigação acerca da Secretária de Estado Hillary
Rodham Clinton. Ao cabo do primeiro
mandato de Obama, Hillary, com outros representantes democratas no gabinete do
primeiro mandato, resolveu sair da Administração do 44°
Presidente estadunidense.
Hillary saíu do State Department depois de exitosa gestão quadrienal, com alto prestígio
junto ao eleitorado americano. Não obstante isso, em algum momento o Times –
sem dúvida com sinalização de algum amigo
da ex-Senadora por New York – para investigar a eventual utilização de uma
série de e-mails particulares por
parte de Hillary quando de seu quadriênio em Foggy Bottom[3]. O outro problema sério durante a sua
gestão fora o assassínio do Embaixador (e arabista) J. Christopher Stevens, juntamente com outros três funcionários
americanos, na missão em Benghazi, a doze de setembro de 2012.
Malgrado os intentos de Mitt Romney (de
transformar isso em questão na eleição presidencial) e de outros republicanos,
todos interessados em desvendar a verdade dos fatos, desde que eventualmente
prejudicial à Secretária de Estado, não tiveram êxito. Mais tarde, o principal
responsável pela covarde morte do Embaixador Christopher Stevens foi apreendido
e conduzido ao território estadunidense, para ser julgado.
Dirimida a
questão relativa ao infeliz embaixador Stevens (o sexto chefe de missão
estadunidense a ser morto), tudo parecia correr bem para a candidata Hillary
Clinton quando, ó surpresa, reponta o issue
(questão dos e-mails). De repente, consoante despachos de correspondentes
brasileiros em Washington, o que era simples virou complicado para a esposa do
ex-Presidente Clinton, até então havida como virtual candidata democrata para a
sucessão de Barack H. Obama.
No mar de
almirante em que antes singrava a sua pré-candidatura, eis que, por inesperadas
rajadas vindas de Foggy |Bottom o futuro de quem seria a primeira Presidente
mulher nos Estados Unidos torna-se da noite para o dia, céu enegrecido e vagas revoltas.
Embora até o
presente inexistam detalhes incriminatórios – não fossem os insistentes boatos
-, corre a atoarda que a sua posição como líder dos pretendentes democratas à
sucessão de Obama estaria em apuros, em função de uma alegada investigação da
série de seus e-mails particulares,
que Hillary havia utilizado quando Secretária de Estado.
Em função
desses comentários quanto as supostas transgressões por ela cometidas no que
concerne às comunicações oficiais, ficou em polvorosa o círculo do
Vice-Presidente Joe Biden. Diversos artigos na imprensa passaram a rediscutir a
sua suposta reentrada no campo dos pré-candidatos, tudo isso motivado pela
imprevista situação em que se acharia a até poucos dias atrás considerada como
a virtual candidata do Partido Democrata à Presidência.
Assim, em
todas as bocas e computadores da imprensa, favorável ou não, à pré-candidata
com dianteira nas pesquisas, teria, ou voltado à estaca zero, ou submetido
àquele exigente exame que sói ser cobrado de candidaturas que de repente se
descobrem às voltas com sérios problemas.
Dada a
disposição da imprensa – como acima referido – não tende para uma postura que
se ouse qualificar de simpática à pré-candidatura da primeira mulher havida com
grande probabilidade de êxito.
Tendo
presentes os ataques realizados contra Hillary por uma sucessão de questões
marginais, mas que são empregadas no exemplo dos famosos picadores nas touradas
de Madri, em que um touro demasiado vigoroso é objeto de picadores (aqueles com
as temíveis lanças) para sangrar o pobre animal e, dessarte, facilitar o
trabalho do toureiro, que não gosta de arrostar adversários taurinos na
plenitude das respectivas (e perigosas) forças.
O problema
com essa tática é que por vezes ela soluciona de vez a ameaça representada pelo
antes fogoso touro. Os picadores – ou carniceiros,
como são simpaticamente denominados pela imprensa aficionada – tendem às vezes
a dar uma anti-solução para o suposto problema. Resta verificar, por ora, onde
irão parar tais elocubrações.
Quanto às
demais, as que repontaram não merecem a atenção que tem despertado. Reporto-me ao chamado Clinton – cash [4], que
são as interrogações quanto a contribuições para a Fundação Clinton, a qual apesar do nome, concerne apenas ao marido
Bill Clinton.
Se os
precedentes dos problemas enfrentados pelo casal Clinton podem servir de guia,
o mais provável é que esses bem-intencionados
artigos, venham a ter em breve o destino dos anteriores, vale dizer a lata do
lixo.
Resta
aguardar, até que se aclare – espero que favoravelmente – a controvérsia sobre
o emprego dos e-mails particulares pela então Secretária de Estado. Pode até
virar um desses falsos issues, cuja
relevância no caso seja a contrario sensu, vale dizer, para sublinhar a
relevância crescente do emprego do instrumento digital para lidar com as
questões do século XXI.
(Fontes: The New York Times, O Globo, The New
York Review)
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