Já era esperada a nova prisão do
ex-Ministro José Dirceu. O próprio comportamento do ex-todo poderoso
Ministro da Casa Civil fornecera indicações nesse sentido. Tanto ele se sentia
ameaçado uma vez mais pelo longo braço da Lei, que o próprio não trepidou em
requerer um habeas corpus preventivo.
A posterior
denegação da medida acautelatória não prenunciava nada de bom para o indigitado
operador de mensalão e petrolão. No seu afã de manter à
distância as visitas da Polícia Federal, com mandatos das diversas fases da
Operação Lava Jato, a sua ansiedade
apenas fazia com que eventuais névoas de remanescentes dúvidas se dissipassem.
E foi o que
ocorreu ontem, na noite de segunda-feira, três de agosto de 2015.
Não há negar
que a fisionomia e a aparência do líder petista, cassado pela Câmara dos
Deputados em dezembro de 2005, tráem, na magreza e nas rugas, as preocupações e
os tropeços da travessia.
O segundo
mais importante capo petista se
mostrou pronto desde que os planos de predomínio começaram a falhar a assumir
amplas responsabilidades que ao ver de gente bem informada lhe extravasavam os
confins do respectivo mando. Contudo, como é consueto em certo tipo de fechada
organização, ele não hesitou em assumir altas contas que para muitos não lhe
competiam. Era postura de impressionar
pelo que de generosa tinha. E se recorda outras organizações, a que
manieta a entrega absoluta e sem
condições ao chefe dos chefes, é atitude humana e, portanto, não de todo imune
aos solavancos, choques e desilusões dos caminhantes.
Quando o
ritual de mais uma prisão, sob o manto da noite brasiliense, antes fonte de
grandes satisfações, se completou com a vinda dos oficiais da Polícia Federal,
não mais se viu a jactância do gesto do erguido punho fechado, que,ainda um
pouco fora de lugar, fora exibido em outra passarela a conduzir para a
detenção.
O gesto
sério, mas escalavrado pelas vicissitudes por ele mesmo provocadas, o
acompanharia nesse ritual da midiática passarela. E mais tarde a Nação saberia
que o seu ex-Ministro – o qual, no discurso de despedida do Planalto, chegara a
reportar-se ao “seu governo” – ao submeter-se
uma vez mais na Polícia Federal ao cerimonial que precede a detenção
determinado por magistrado sentiu um ‘pico de pressão’. Já conhecedor do
universo prisional – primeiro, para sua honra, nos calabouços da ditadura
militar, mas agora, desabava sobre ele a manopla do poder judicial, movida em
públicos processos e a pública autoridade do juiz Sérgio Moro, a determinar-lhe novo confinamento em cárcere
público, submetido ao Império da Lei.
Há muitas perguntas ainda a serem
respondidas. O comportamento de José Dirceu dá a impressão que Mensalão
e Petrolão
são apenas faces diversas de uma mesma triste realidade de um projeto
criminoso. Espanta a sua audácia, que se liga à inegável ingenuidade, como se
tal implantação dessa rede delituosa pudesse manter-se blindada, como se o
Brasil fosse republiqueta, um país de là bas, como o definiu há muito tempo
atrás o general Charles de Gaulle,
então presidente da República Francesa.
A faina da
Justiça, posto que avance, não está completa por ora. As tragédias antigas se
desenrolavam em cinco atos. Muitas no seu desenrolar, do apogeu e da húbris dos primeiros atos, sucedem as
peripécias e a dúvida nos seguintes. O
quinto e último costuma ser breve. Cáem os véus e as máscaras e, ao cabo,
diante do olhar dos cognoscenti[1], tudo se aclara e
todas as peças voltam a encaixar-se, para que a carga de toda a culpa recaia
sobre quem realmente fê-lo por merecer.
( Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo, VEJA.)
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