terça-feira, 4 de agosto de 2015

Agora só falta um ?

                                          

         Já era esperada a nova prisão do ex-Ministro José Dirceu. O próprio comportamento do ex-todo poderoso Ministro da Casa Civil fornecera indicações nesse sentido. Tanto ele se sentia ameaçado uma vez mais pelo longo braço da Lei, que o próprio não trepidou em requerer um habeas corpus preventivo.

         A posterior denegação da medida acautelatória não prenunciava nada de bom para o indigitado operador de mensalão e petrolão. No seu afã de manter à distância as visitas da Polícia Federal, com mandatos das diversas fases da Operação Lava Jato, a sua ansiedade apenas fazia com que eventuais névoas de remanescentes dúvidas se dissipassem.

         E foi o que ocorreu ontem, na noite de segunda-feira, três de agosto de 2015.

         Não há negar que a fisionomia e a aparência do líder petista, cassado pela Câmara dos Deputados em dezembro de 2005, tráem, na magreza e nas rugas, as preocupações e os tropeços da travessia.

         O segundo mais importante capo petista se mostrou pronto desde que os planos de predomínio começaram a falhar a assumir amplas responsabilidades que ao ver de gente bem informada lhe extravasavam os confins do respectivo mando. Contudo, como é consueto em certo tipo de fechada organização, ele não hesitou em assumir altas contas que para muitos não lhe competiam.  Era postura de impressionar pelo que de generosa tinha. E se recorda outras organizações,  a          que manieta  a entrega absoluta e sem condições ao chefe dos chefes, é atitude humana e, portanto, não de todo imune aos solavancos, choques e desilusões dos caminhantes.

         Quando o ritual de mais uma prisão, sob o manto da noite brasiliense, antes fonte de grandes satisfações, se completou com a vinda dos oficiais da Polícia Federal, não mais se viu a jactância do gesto do erguido punho fechado, que,ainda um pouco fora de lugar, fora exibido em outra passarela a conduzir para a detenção.

         O gesto sério, mas escalavrado pelas vicissitudes por ele mesmo provocadas, o acompanharia nesse ritual da midiática passarela. E mais tarde a Nação saberia que o seu ex-Ministro – o qual, no discurso de despedida do Planalto, chegara a reportar-se ao “seu governo” – ao submeter-se uma vez mais na Polícia Federal ao cerimonial que precede a detenção determinado por magistrado sentiu um ‘pico de pressão’. Já conhecedor do universo prisional – primeiro, para sua honra, nos calabouços da ditadura militar, mas agora, desabava sobre ele a manopla do poder judicial, movida em públicos processos e a pública autoridade do juiz Sérgio Moro, a determinar-lhe novo confinamento em cárcere público, submetido ao Império da Lei.

          Há muitas perguntas ainda a serem respondidas. O comportamento de José Dirceu dá a impressão que Mensalão e Petrolão são apenas faces diversas de uma mesma triste realidade de um projeto criminoso. Espanta a sua audácia, que se liga à inegável ingenuidade, como se tal implantação dessa rede delituosa pudesse manter-se blindada, como se o Brasil fosse  republiqueta, um país de là bas, como o definiu há muito tempo atrás o general Charles de Gaulle, então presidente da República Francesa.

           A faina da Justiça, posto que avance, não está completa por ora. As tragédias antigas se desenrolavam em cinco atos. Muitas no seu desenrolar, do apogeu e da húbris dos primeiros atos, sucedem as peripécias e a dúvida nos seguintes.  O quinto e último costuma ser breve. Cáem os véus e as máscaras e, ao cabo, diante do olhar dos cognoscenti[1], tudo se aclara e todas as peças voltam a encaixar-se, para que a carga de toda a culpa recaia sobre quem realmente fê-lo por merecer.

 

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, VEJA.)



[1] Conhecedores.

Nenhum comentário: