Antes de ocupar-me das últimas características
de Dilma Rousseff, consoante
verificadas nesta crise do regime petista, não se deve esquecer o caráter do
chefe supremo. Nas diversas provações atravessadas pelo capo di tutti i capi (o chefe de todos os chefes) ele tem dado
prova de um afastamento de qualquer plano sentimental. Todas as suas grandes
decisões são tomadas no interesse do partido, o que trocando em miúdos
significa seguir o que lhe determina a
sua intuição, que, pelo visto, costuma soprar-lhe que fora dele não há salvação
para o Partido dos Trabalhadores. Assim, para que bem entendamos o pensamento
do Chefe, devemos desnudar todas as suas grandes determinações como pautadas em
obedecer ao estrito interesse do PT. Daí se segue, portanto, que as suas
principais decisões se atêm a essa premissa básica de que nada serve melhor ao partido
do que atender aos direitos de seu fundador e presidente.
Reveja-se o
seu comportamento pretérito, tanto em hora de crise, quanto em momentos de
decisão sobre os rumos a seguir, e a sua posição tem sempre se atido ao
respectivo interesse, eis que isto será sempre visto por ele como a outra face
de o que melhor há de servir ao próprio PT.
E tenha-se
desde já presente que não é o caso de obtemperar acerca do circularismo dessa
posição. Para ele, não há qualquer distinção entre interesse do PT e interesse
dele próprio. Os dois se superpõem e se confundem. Por isso, Sua Excelência nunca
hesitou quando soa a hora das magnas decisões. Foi assim quando, na crise do Mensalão,
aceitou que o companheiro José Dirceu, que passava por seu delfim, se
exonerasse da chefia do governo no Planalto, e partisse para a Planície a fim
de assumir as eventuais responsabilidades pelo magno escândalo.
Tampouco o
Presidente, após dar-se conta de que inexistia em Pindorama espaço para
soluções chavistas em termos de reeleição sem limite, consultou in camera a ele próprio e tirou da
algibeira a destapada Dilma Rousseff, a quem fez passar não por chefe de
gabinete, mas por uma espécie de Primeiro
Ministro, para assim melhor azeitar os trilhos da sua chegada à
Presidência. Diga-se de passagem que tal só foi possível pelo despreparo de
cunho clientelista de boa parte do eleitorado, assim como pela inépcia do
candidato oposicionista.
Por isso, não
se surpreendam com a falta de sensibilidade e o comovente egoismo das decisões
do grande líder petista. Como se pode descrever, de resto, a sua alegada
iniciativa de agora pedir ao companheiro Dirceu que se desfilie do PT, para que a presença do seu ex-delfim não venha a
prejudicar a imagem do Partido?
Por outro
lado, a presidente Dilma Rousseff, que entrou de pé esquerdo no seu segundo
mandato, é a legatária das mentiras (com que se livrou do
desafio, ultratemido pelos petistas, de ter de enfrentar em segundo turno, a
veraz, honesta e carismática Marina), logo mostraria que a sua
segunda versão poderia ser ainda pior do que a do primeiro mandato (quando
bagunçou a economia e trouxe a inflação de volta). Não surpreende, por
conseguinte, que com tal desfaçatez, a sua popularidade despencasse.
Como os
leitores do blog já sabem, segundo José Ingenieros, os medíocres podem ter
valor. Mas convém não exagerar na dose.
Por isso, a Presidente quer e não quer ser ajudada pelo Vice. Seria natural que
alguém tão inepto em termos de articulação política recebesse com ansiosa
gratidão o auxílio de um político tarimbado. Sem embargo, se acaso Michel
Temer conseguir melhorar a situação, dada a insegurança (insuflada
pelos intrigantes de turno) da Chefa, isso pode torná-lo suspeito de querer ir
além.
Para o
circulozinho a sua volta, o sucesso do Vice será havido como prova de desleal
subordinado, que, enquanto primeiro na fila da eventual sucessão, estaria
acintosamente mostrando os respectivos atributos, e por isso mesmo,
desmerecendo do trabalho daquela que
eles continuam a chamar de Presidenta...
( Fontes:
O Globo, Folha de S. Paulo )
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