Passo a ocupar-me do compromisso assumido
no blog anterior. Em mais uma batalha
perdida pelo Ministro Joaquim Levy, prevaleceu a ideia que mais impactou a
Presidente. Sem lograr equilibrar as contas públicas, o governo Dilma II
decidiu enviar ao Congresso no dia de hoje o Orçamento de 2016 com previsão de
enorme déficit.
A decisão
de abandonar o projeto de reinstituir a CPMF se deveu à reação negativa de
parlamentares, empresariado e até de governadores de estado. A geral avaliação
foi a de que o novo imposto não seria aprovado pelo Congresso. Cumpria, pois,
evitar um desnecessário desgaste.
Por
primeira vez, desde o governo Fernando
Henrique, que passou a apresentar orçamentos equilibrados – um resultado
do êxito no controle das contas - se
volta – e se há de convir, com certa propriedade – aos orçamentos que não
batem, por causa do déficit que contêm e para que, se presume, o Congresso
deverá encontrar solução.
Novamente,
o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy é voto vencido. A proposta de Levy se
orientava por uma ampla reavaliação de programas e de despesas, para não
precisar recorrer ao aumento de impostos ou ao déficit. Ao ser derrotado mais uma vez, o Ministro não
escondeu a sua insatisfação seja para a Presidente, seja para o
Vice-Presidente Michel Temer, a quem Dilma chamou a palácio na tarde de ontem, para
inteirá-lo da sua decisão.
Sem dúvida,
a mais pesada derrota parlamentar do Dilma II se reflete na previsão dos gastos
com a Previdência. A falta de controle
do Poder Executivo sobre um Congresso – em que nominalmente deveria ter maioria
– começa a custar caro à Nação. Prevaleceu a demagogia, e, dessarte, os
dispêndios com as infladas aposentadorias – além do abandono do fator
previdenciário, a que contribuíu igualmente de forma irresponsável a bancada do
PSDB esquecida de que o tal fator
havia sido criado por FHC - desequilibraram as contas (em cotejo com o
atual déficit). Desse modo, o déficit só com
o INSS será de R$ 125 bilhões (a
previsão anterior para 2015 era de R$ 89 bilhões. Não obstante, o que dá ideia da improvisação
que preside aos trabalhos, não estava ainda fechado na noite de ontem.
A área
econômica trabalhava com uma possível elevação na projeção do PIB, o que
tenderá a ajudar na previsão de receitas. Como o Brasil está em recessão, o
Congresso poderá perguntar-se de onde virão tais montantes, em um período que
se caracteriza pelo encolhimento da disponibilidade de recursos.
Pela
descrição dos embates, pode-se ter uma idéia mais precisa da causa do choque de
opinião entre a Fazenda de Levy e os partidários de Dilma. Levy defendia a verdade fiscal, i.e., ampla reavaliação de programas e
despesas, para não precisar recorrer a aumento de imposto ou ao déficit. Ao ser
novamente derrotado, o Ministro externou o seu desconforto tanto para a
presidente, quanto para Temer.
Embora o projeto de orçamento já esteja
no Congresso, o Ministro da Fazenda ainda acredita que um corte mais profundo
nas despesas é necessário para mexer em programas ineficientes.
Na Fazenda,
a avaliação a 30 de agosto era de que, diante da impossibilidade de recorrer a
um imposto e de assim mascarar o Orçamento, seria preciso envidar esforços para
que o Brasil não venha a perder o grau de investimento.
Dilma
comunicou, ontem pela manhã, ao telefone, para o Vice que havia dificuldade em
fechar o Orçamento. Temer defendeu então
que o governo tratasse a questão com transparência e fizesse uma peça realista.
A partir desse momento, o PMDB passou a defender a posição mais responsável.
O Senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator do Orçamento para o corrente ano
de 2015, passou a defender “um
Orçamento real. Se não tem receita, tem que fazer Orçamento com déficit. Isso
refreia a criação de novas despesas, discute com o Congresso e com a Sociedade
ações para mudar o jogo. Não adianta maquiar.”
Parecer similar é dado pelo Relator-geral do Orçamento de 2016, o
deputado Ricardo Barros (PP-PR): “O
Congresso terá de encontrar uma forma de equilibrar as contas, fazendo cortes
de despesas mais profundos do que o governo se dispôs a fazer, ou criando novas
receitas. O Congresso tem que ter coragem de arrumar as contas, não dar, por
exemplo, reajuste aos servidores. Como a iniciativa privada está arrumando suas
contas? Demitindo. O servidor público não pode estar fora, tem que dar sua cota
de sacrifício.”
Em meio
dessas declarações – v.g., ‘dar sua
cota de sacrifício’ em relação ao funcionário público. Isso depois do aumento
geral do Judiciário muito acima da inflação e resta saber se Suas Excelências
os parlamentares se darão novos aumentos, o que seria outra prova de desconexão
com o Brasil vivido por seu Povo.
A casa pode
estar indo abaixo, mas Dilma não quer saber de cortes em seus programas. Apesar
de ordens de Dilma e dos Ministros de refazer os cálculos, no final das contas “não houve espaço para novos cortes”. Aí está uma das principais dificuldades para
que um Ministro da Fazenda que procure traçar orçamento real, compatível com as
atuais condições do Tesouro possa ter êxito.
Nelson Barbosa, do
Planejamento, lá está para garantir que os projetos de Dilma sejam respeitados,
mesmo que faltem fundos para tanto.
De certa
forma, não é difícil compreender que Levy seja derrotado pela turma da Dilma
(ela incluída). O procedimento do Dilma
II é, na verdade, a continuação do Dilma
I.
E depois eles
se perguntam por que o orçamento não bate e faltem as receitas para os custosos
e ambiciosos programas de Dilma Rousseff, descambando para a demagogia, a
exemplo do custeio dos eletrodomésticos para os moradores do Minha Casa, Minha Vida.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )