Após
haver tomado conhecimento da questão dos e-mails através do canal
privado de Hillary Clinton, quando foi Secretária de Estado, na primeira
Administração de Barack Obama, devo reconhecer que, uma vez inteirado do
problema, passei a nutrir uma certa desconfiança quanto a pertinência de encarar como se fora algo
tão delicado e merecedor de atenção de tanta gente, alguns partindo para a
instrumentalização política mais descarada,
outros vendo sinistra maquinação com fins nunca bem definidos, além
daqueles que vendem a alma para acusar a temível Secretária de Estado de tentar
continuar em casa a atender as questões mais urgentes das relações externas dos
Estados Unidos da América. Para quem tem cinquenta anos de serviço diplomático,
essa dedicação ao trabalho - e Hillary não é a primeira a servir-se desse
instrumento para melhor executar o seu trabalho, sendo que os dois ou três Secretários
de Estado que a antecederam nessa prática, não colheram a peculiar distinção de
que o próprio empenho haja merecido o mesmo acosso e implacável perseguição de tantas instâncias, seja de
fundações, seja de juízes, seja do próprio diretor do F.B.I., que chegou a
distingui-la com o estranho elogio quanto à qualidade extremamente descuidada
de sua redação. Tolos que fomos nós a pensar que se tratava de um conceito
pouco apropriado para definir o trabalho de uma grande Secretária de Estado,
cuja dedicação à faina diplomática ela a levava para a sua própria residência. A origem dessas estranhas, dúbias
comunicações eletrônicas vem desse prolífico computador - que tem um canal
privado! - e em última análise da então Secretária de Estado Hillary Clinton.
Note-se a importância dessas
comunicações! No entanto, se me permite o distinto público, confesso que toda
essa azáfama, todo esse estardalhaço com tais mensagens digitadas há pelo menos
quatro anos atrás e, na maioria dos casos, muito mais, agora parece voltar-se contra a candidata
democrata à Presidência dos Estados Unidos.
Assinale-se que até agora, apesar do
interesse diplomático - em geral a esse tipo de dedicação se pespega um
adjetivo: louvável, profunda, superficial, exagerada, e até mesmo superficial -
mas a esse cúmulo de trabalho, produto do esforço de uma Secretária de Estado,
e seu resultado que pelos elogios de gregos e troianos (não computo, por que
nessa respeitável produção não se encontram
louvores dos republicanos, por motivo que dispensa explicações) reflete
obra não pequena, no árduo campo da diplomacia, e ainda mais em se tratando da
posição dos Estados Unidos da América.
Questiona-se algum erro, algum
projeto, alguma crise que a então Secretária Clinton tenha provocado, seja por
inépcia, seja por desconhecimento, ou até por falta de tato ou de compreensão?
Não. O conceito colhido pela
Senhora Clinton à testa do State Department tem andado nas alturas dos elogios
dos círculos diplomáticos e governamentais estrangeiros. Dentro do amistoso clima que reina na capital federal,
não se pode ter outras expectativas. O bipartidismo virou cousa do passado. A
cooperação, o companheirismo que havia no passado, creio que não surpreenderei
ninguém ao dizer que - ficções à parte - os republicanos (e vice-versa, os
democratas) temem acima de tudo que uma das bancadas se sobreponha à outra. No
lado oposto da grande sala, o que se vê
senão o inimigo? O mais perigoso, dizem
os pensadores dessa nova política, é que muitos são lobos em pele de cordeiro!
Na verdade, tais luminares não perdem tempo em cogitar acerca de própria
condição. Julgam-se os melhores.
Em atmosfera como esta não se
gastam elogios para proeminentes gestores da causa pública, quando o
partido do outro está na Casa Branca. Os
governantes, para eles, constituem um perigo, pois se a oposição dormitar, essa
gente pode eternizar-se no mando!
Para que entendamos o mau
pedaço por que está passando Hillary Clinton, não devemos esquecer as
características do hodierno mundo político americano.
Ainda por cima, surgem agora e-mails preparados por uma auxiliar direta
sua, nascida nos Estados Unidos, a que o povo americano parece não entender
como possa ela ter nome estrangeiro - Huma Abedin! O quê de horrível se esconde
nas relações entre a Fundação Clinton e o Departamento de Estado?
Que prato para o candidato
republicano, que mal disfarça a sua xenofobia?
E sem embargo, o Diretor do F.B.I., o republicano James Comey,
que a par de não morrer de amores pela candidata como o demonstrou pelo modo cru
com que descreveu a maneira pela qual a candidata democrata tratara os famosos e-mails, sem embargo ele mostraria
correção e zelo profissional, não distinguindo nessa produção da ex-Secretária
de Estado causa bastante que
justificasse incriminá-la penalmente.
E é hora de recordar o
título deste blog. Canard é palavra francesa, de que o
dicionário Petit Robert dá a seguinte
como uma de suas acepções: "notícia falsa lançada pela imprensa para
iludir o público".
( Fonte: The New York Times )
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