terça-feira, 23 de agosto de 2016

Um 'Canard' ?

                                            

       Após haver tomado conhecimento da questão dos e-mails através do  canal privado de Hillary Clinton, quando foi Secretária de Estado, na primeira Administração de Barack Obama, devo reconhecer que, uma vez inteirado do problema, passei a nutrir uma certa desconfiança quanto  a pertinência de encarar como se fora algo tão delicado e merecedor de atenção de tanta gente, alguns partindo para a instrumentalização política mais descarada,  outros vendo sinistra maquinação com fins nunca bem definidos, além daqueles que vendem a alma para acusar a temível Secretária de Estado de tentar continuar em casa a atender as questões mais urgentes das relações externas dos Estados Unidos da América. Para quem tem cinquenta anos de serviço diplomático, essa dedicação ao trabalho - e Hillary não é a primeira a servir-se desse instrumento para melhor executar o seu trabalho, sendo que os dois ou três Secretários de Estado que a antecederam nessa prática, não colheram a peculiar distinção de que o próprio empenho haja merecido o mesmo acosso e implacável  perseguição de tantas instâncias, seja de fundações, seja de juízes, seja do próprio diretor do F.B.I., que chegou a distingui-la com o estranho elogio quanto à qualidade extremamente descuidada de sua redação. Tolos que fomos nós a pensar que se tratava de um conceito pouco apropriado para definir o trabalho de uma grande Secretária de Estado, cuja dedicação à faina diplomática ela a levava para a sua própria residência.        A origem dessas estranhas, dúbias comunicações eletrônicas vem desse prolífico computador - que tem um canal privado! - e em última análise da então Secretária de Estado Hillary Clinton.
         Note-se a importância dessas comunicações! No entanto, se me permite o distinto público, confesso que toda essa azáfama, todo esse estardalhaço com tais mensagens digitadas há pelo menos quatro anos atrás e, na maioria dos casos, muito mais,  agora parece voltar-se contra a candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos.
         Assinale-se que até agora, apesar do interesse diplomático - em geral a esse tipo de dedicação se pespega um adjetivo: louvável, profunda, superficial, exagerada, e até mesmo superficial - mas a esse cúmulo de trabalho, produto do esforço de uma Secretária de Estado, e seu resultado que pelos elogios de gregos e troianos (não computo, por que nessa respeitável produção não se encontram  louvores dos republicanos, por motivo que dispensa explicações) reflete obra não pequena, no árduo campo da diplomacia, e ainda mais em se tratando da posição dos Estados Unidos da América.
             Questiona-se algum erro, algum projeto, alguma crise que a então Secretária Clinton tenha provocado, seja por inépcia, seja por desconhecimento, ou até por falta de tato ou de compreensão?
              Não. O conceito colhido pela Senhora Clinton à testa do State Department tem andado nas alturas dos elogios dos círculos diplomáticos e governamentais estrangeiros. Dentro do amistoso clima que reina na capital federal, não se pode ter outras expectativas. O bipartidismo virou cousa do passado. A cooperação, o companheirismo que havia no passado, creio que não surpreenderei ninguém ao dizer que - ficções à parte - os republicanos (e vice-versa, os democratas) temem acima de tudo que uma das bancadas se sobreponha à outra. No lado oposto  da grande sala, o que se vê senão o inimigo?  O mais perigoso, dizem os pensadores dessa nova política, é que muitos são lobos em pele de cordeiro! Na verdade, tais luminares não perdem tempo em cogitar acerca de própria condição. Julgam-se os melhores.
                 Em atmosfera como esta não se gastam elogios para proeminentes gestores da causa pública, quando o partido  do outro está na Casa Branca. Os governantes, para eles, constituem um perigo, pois se a oposição dormitar, essa gente pode eternizar-se no mando!
                 Para que entendamos o mau pedaço por que está passando Hillary Clinton, não devemos esquecer as características do hodierno mundo político americano.   
                 Ainda por cima, surgem agora e-mails preparados por uma auxiliar direta sua, nascida nos Estados Unidos, a que o povo americano parece não entender como possa ela ter nome estrangeiro - Huma Abedin! O quê de horrível se esconde nas relações entre a Fundação Clinton e o Departamento de Estado?
                   Que prato para o candidato republicano, que mal disfarça a sua xenofobia?  E sem embargo, o Diretor do F.B.I., o republicano James Comey, que a par de não morrer de amores pela candidata como o demonstrou pelo modo cru com que descreveu a maneira pela qual a candidata democrata tratara os famosos e-mails, sem embargo ele mostraria correção e zelo profissional, não distinguindo nessa produção da ex-Secretária de Estado causa bastante  que justificasse incriminá-la penalmente.
                     E é hora de recordar o título deste blog. Canard é palavra francesa, de que o dicionário Petit Robert dá a seguinte como uma de suas acepções: "notícia falsa lançada pela imprensa para iludir o público".



( Fonte: The New York Times )

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