quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A Pergunta que não sai da garganta

                              

        Gostaria de pedir a atenção dos leitores deste modesto blog sobre uma pergunta que parece ficar na garganta - ou permanece não digitada pelos políticos, comentaristas e jornalistas de nomeada.
        Não estou me referindo a alguma ditadura como a Bielo-Rússia, ou a um regime daqueles ditos forte ou autoritário, como a própria  pátria do grande Vladimir V. Putin.
        Lamentavelmente me estou reportando a uma indagação que não costuma passar nos grandes jornais, seja na sua versão nas bancas, seja naquela digital. E este respeitoso silêncio - como de alguém que evita falar de cadeia em casa de algum larápio de nomeada - ele reponta, incômodo, nessa inaudita incapacidade de expressar o que não deveria ser calado.
        O que parece esquisito - como se acerca da questão sobrepairasse uma espécie de ordem de silêncio, a exemplo de antigas comunidades, ou até mesmo sociedades, imposta por uma interdição - é que o tema será circundado, de forma a mantê-lo ausente do discurso.
         É um estranho silêncio, a um tempo difuso e sobrepairante, como se sobre o tema tivesse sido pronunciado, como na antiga Grécia, quando recaísse sobre algum rincão ou mesmo pessoas o PëÜóôùñ[1], o que impunha o silente respeito à maldição imposta.
         Ocorre assim de parte de comentaristas políticos e mesmo simples observadores, uma espécie de respeitoso mutismo quanto à existência daquele fenômeno. É como se existisse algo pesteado no tema ou nas suas implicações, e o melhor que pensam fazer é circundar o tópico, que é tratado como off-limits.[2]    
         Com efeito, é natural, por exemplo, que se façam prognósticos sobre como evoluirão na iminente próxima eleição as maiorias respectivas no Senado (estima-se que é provável que os democratas recuperem a maioria na Câmara Alta, ainda mais pela circunstância de que há um maior número de cadeiras hoje ocupadas por republicanos, o que dá para os democratas uma vantagem comparativa). Os prognósticos podem ser feitos também sobre os governos estaduais e, obviamente, a eleição presidencial, em que a balança da opinião, por compreensíveis motivos, pende para a candidata Hillary Clinton (daí o afã do GOP de tentar virar o jogo recorrendo a expedientes jurídicos, como de resto é um hábito característico desse partido).
            Sobre tudo se emitem palpites, ou avaliações sérias, baseadas em cômputos de institutos respeitados, menos sobre a Câmara de Representantes dos Estados Unidos da América.
             Não importa quem assine o artigo ou coluna, a tendência prevalente é que declare apenas que não há previsões a fazer sobre a Câmara Baixa, na qual os republicanos ganharam a maioria em 2010, no tristemente famoso shellacking, que foi o castigo - com a ajuda dos irmãos  petroleiros Koch - aplicado por essa eleição intermediária, com a irrupção do nascente movimento de direita Tea Party na jovem e inexperiente Administração Obama. Por conta dessa eleição, a Câmara de Representantes, biênio  após biênio, continua sob o firme controle do GOP. Esse peculiar desenvolvimento é responsável por uma virtual paralisia em Washington - entra eleição, sai eleição - se o Senado pode passar de republicano para democrata, ao sabor dos pleitos bienais, desde 2010 a Casa de Representantes permanece sob o domínio do Partido Republicano! O mais estranho é que isso ocorre mesmo em eleição que se caracteriza por uma maioria nacional concedida aos democratas. O reflexo disso se sente no Senado, na Casa Branca, mas não na Câmara de Representantes, que persiste como um feudo dos republicanos, qualquer que seja a tendência prevalente na Nação Americana.
                Será por isso que os comentaristas evitem fazer prognósticos sobre a composição da Câmara de Deputados?  
                 Ou será que talvez se imponha adotar novos critérios para lidar com esse suposto desafio?
                  Por quanto tempo a grande democracia americana pode conviver com tal situação, em que os articulistas, a mídia, a imprensa em geral e os meios de comunicação continuem a proceder como se nada houvesse a comentar... Ou como avestruzes permaneçam  com a cabeça enterrada na areia...

( Fonte: The New York Times )



[1] alástor - divindade vingadora, anjo destruidor.
[2] fora dos limites.

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