terça-feira, 9 de agosto de 2016

A Corrupção dá as cartas?

                           


         O que parece ser a política no Brasil?   Será exercício azeitado pela corrupção?
         Os defensores da honestidade e da lisura - que não são sinônimos, mas que devem complementar-se - estão na imprensa, mas não se vêem amiúde na política.
         Não me atreveria a dizer que, por aqui, não existam. Há de convir-se, no entanto, que procurar tal personagem é faina prenhe de fadigas e de desilusões.
         Muitos decerto cuidam de parecer honestos, quando simplesmente deveriam apenas sê-lo, deixando o efeito demonstração para quando necessário for deles folhear o respectivo caderno.
         A famigerada lei de Gerson - de que até o próprio se dissocia - parece dar as cartas, nesta segunda década do século XXI.
         Não seria o que hodiernamente quase todos deem a impressão: querer levar vantagem em tudo?
         O mundo pós-petista mostra como esse pequeno partido, que repontou na agonia do regime militar, e que surgira como se fora novo Robespierre - e este foi realmente incorruptível. Muito depois de morto, continua a provocar ódios e radicais censuras: o próprio presidente François Mitterrand - que presidiu às cerimônias do bicentenário da Revolução Francesa - não é que mandou apagá-lo dos festejos? O homem de Arras, oriundo da pequena nobreza, chamado de incorruptível pelo povo parisiense Maximilien de Robespierre, ultra-jacobino, admirador do filósofo Jean-Jacques Rousseau, guilhotinado pela direita vencedora em 9 de Thermidor (1794), não é que receberia do ultra-moderado Mitterrand a maior homenagem? O seu nome não deveria ser designado com qualquer destaque! No bicentenário da Revolução, recebia, pois, homenagem de porte:  a menção do próprio nome deveria ser evitada, porque há dois séculos da respectiva morte, Robespierre continuava a motivar paixões políticas e, sobretudo, a ser pertinente e estranhamente presente, como se vivo fora - após duzentos anos!. Por conseguinte, para a direita, persistia como  ameaça !
          Quando o PT de Lula poderá pretender tal feito? Pequeno partido, surgiu jacobino e ultra-zeloso, expulsando de suas fileiras o punhado de deputados que votara em Tancredo para Presidente. Supostamente intransigentes na democracia, assumiam a postura de negar qualquer tergiversação na regra  do voto direto popular, mesmo que fosse destinado a um político por excelência como Tancredo Neves.
          O  PT continuaria a assumir a postura dos ultra-zelosos, quando - folhas adiante - se recusaria a assinar a Constituição de 1988. Ulysses e os líderes de então deixariam que mais tarde, na calada dos meses subsequentes, se permitisse aos Zelotes do PT pudessem assinar aquela mesma Constituição! Os políticos brasileiros pecam pelo bom-mocismo, que passa a mão na cabeça de demagogos como Lula et caterva.
           Não carece de falar mais sobre o quanto mostrou o Partido dos Trabalhadores estar longe do jacobino código de conduta que professavam exercer enquanto fora do poder.
           Quando assumiu o mando, com o Lulinha paz e amor, em 2003, o PT já carregava o proto-escândalo, aquele do assassínio do prefeito Celso Daniel. Todo o engruvinhado desse affaire resulta da ânsia de apagar do mapa os registros da corrupção estatuída pelo Partido dos Trabalhadores em prefeitura paulista, presidida por Celso Daniel. E a tentativa de apagar esse escândalo se estende incongruamente até os dias de passado bem-próximo, com o pagamento de chantagens, além de mecanismos supostamente complexos envolvendo personagens como o empresário Ronan, e tantos outros, sem esquecer os manda-chuvas do PT em Brasília.
             Terá sido a mega-corrupção, com a exploração desavergonhada da nossa maior indústria, a Petrobrás, que criou o escândalo do Petrolão - que viria superar outros escândalos menores do PT -  e que, em dando nascimento a Lava-Jato, criaria as condições para implodir o poder petista.
              A própria Dilma Rousseff - que unia a ineficência à suspeitas de corrupção - viria a preparar a desmoralização do regime petista. 
               A corrupção não é privilégio do Partido dos Trabalhadores, mas desde os primórdios do primeiro mandato de Dilma Rousseff, o petismo vai-se confundindo com a corrupção (ação penal 470 do Supremo - o chamado Mensalão). O seu relator foi o Ministro Joaquim Barbosa, e muito a ele se deve para que essa ação do Supremo não tenha virado a sólita pizza.
                 Dona Corrupção continua a dar as cartas em Brasília. O último exemplo aparenta ser de gravidade. Logo, na reta terminal do processo de impeachment de Dilma Rousseff - hoje presidente afastada - ao aproximarmo-nos do seu julgamento final (que a decretará destituída ou a reporá no poder), estoura mais um escândalo, desta feita contra o Presidente interino, Michel Temer (PMDB).  Segundo negociação de acordo de delação, o preso Marcelo Odebrecht revelou que Michel Temer recebeu, em nome do PMDB, a 'contribuição' de 10 milhões da Odebrecht, em dinheiro vivo, como caixa-dois.
                   Tal ocorreu na abertura das Olimpíadas.  Tal "contribuição" de "caixa dois"  pode levar a implodir o governo Temer, com consequências imprevisíveis.              
                   Mas isto é matéria que exige análise detida,a ser aprofundada oportunamente.
         

( Fonte:   O Globo )           

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