quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O segundo julgamento de Dilma

                                   

       Começa a fase final do julgamento de Dilma Roussef, que, de qualquer forma, sendo condenada ou não, deverá passar à história como a Presidenta, este neologismo pouco gracioso, pesado e até meio grosseiro na forma. Poderá parecer uma descrição da própria, na sua atitude, comportamento, e a eventual impiedosa memória.
       Não é de espantar que ela tenha sobressaído pelo jeitão desabrido, cujo nível intelectual vai rasante ao solo. A sua parecença com o respectivo criador mostra que eles são unidos menos por ideias do que pelas fumaças demagógicas de suas expressões.
       O que deixa para trás - não me parece próprio falar aqui de legado - é a sensação de tempo perdido. Essa invenção de Lula da Silva, pelo patamar mental de criador e criatura, ficará na crônica não das oportunidades desperdiçadas - porque só desperdiça nesse nível quem tem carga intelectual digna de nota.
       Por falar em erros - e não me detenho, por demasiado penoso, na estagnação da cultura e no anti-exemplo transmitidos às gerações do presente - sem decerto o desejar - malgrado as suas dúbias escolhas no campo das prioridades, Lula da Silva terá decretado a própria queda do anterior patamar em que pensava estar, ao deixar-se embair pelo eterno plantão dos cortesãos.
         Dentre as lacunas de sua desastrosa escolha - riscando forte a imprescindível exigência do estudo superior, que na sua falta de, menosprezara, talvez empurrado pelas desconforto natural de quem é levado a desfazer da cultura e suas veredas - como ignorar o anti-racionalismo, a par da natural aparência de segurança de quem dispôs de pouco convívio com o estudo. Por tal motivo, ele se acreditou acima da arraigada usança, uma vez atravessado na própria mente o Rubicon das incertezas de quem quer julgar-se como superior a velhas e provadas usanças.
          Começou o julgamento de Dilma Rousseff. O tempo que se perde nessa travessia mostra que uma vez mais o grande irmão do Norte escolheu um ritual mais rápido, e por conseguinte, menos repetitivo e lacerante, do que a longa semana que se pretende transformar na segunda e última fase do julgamento. Menos lacerante e mais objetivo seria fundir as duas fases do processo em uma só, como é a prática estadunidense. Como de hábito, ao copiar mal, perdemos tempo e prolongamos a incerteza muito além do conveniente.
            No pouco que ouvi do Procurador do Tribunal de Contas, ele nos traz duas verdades: de nada serve chamá-lo de 'informante' e não de testemunha, porque ele, pela forma incisiva e a precisão terminológica mostrou não só ao que vinha, mas também de que fonte traz argumentos que, por serem cogentes, dispensam a prolixidade.  
             Isto posto, o julgamento é ainda uma criança. Muita água resta a passar debaixo dessa ponte. Por ora, Michel Temer é interino. E não condiz com tal condição queimar as etapas da justiça, como se o espetáculo se bastasse a si próprio, e desde já se possa antecipar-lhe o resultado.
              A antiga sapiência mineira tal desaconselha e por muitas razões. Baste a primeira para o beneficiário putativo: a sofreguidão é má-conselheira, na medida em que transforme em alvo ou quase-partícipe, aquele que se contenta em esperar que o fruto colimado caia no próprio cesto.

( Fontes: Rede Globo, Magalhães Pinto, João Guimarães Rosa )




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