segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Jarbas Vasconcelos tinha razão?

                    

        O leitor me perdoe a interrogação. Esse resquício de dúvida teima em desaparecer, apesar de que as evidências continuem a acumular-se, mais esclarecedoras do que impiedosas.
        Não teriam piedade se ainda persistissem motivos válidos de dúvidas.  Como a então prometida resposta à entrevista do deputado Jarbas Vasconcelos às páginas amarelas de VEJA, que nunca veio das instâncias nervosas dos reunidos peemedebistas, paira inarredável no horizonte político a presença da corrupção nas instâncias partidárias da maior frente política brasileira, hoje longínqua lembrança dos dias de Ulysses Guimarães e da luta, ao lado do Povo brasileiro, a favor da Democracia, e contra o regime militar.
         A memória política semelha demasiado curta no Brasil. O deputado Jarbas Vasconcelos, na entrevista à VEJA, dissera da presença da corrupção nas fileiras do PMDB.
         Esperou-se resposta à acusação, decerto frontal para a Frente partidária, embora nomes não houvessem sido pronunciados. A Frente reuniu-se. Então como hoje, o chefe ou primus inter pares era e é Michel Temer. Reuniões nervosas e acaloradas se seguiram. Se o contexto é previsível, não vazaram as intervenções. Apenas o teor da resolução, ou talvez melhor seria dizê-lo, anti-resolução.
           Pois as altas instâncias partidárias do maior partido nacional - que, na verdade, mais parece a agremiação da República Velha, que consistia em aliança de partidos estaduais, todos eles firmemente concordes em manter o poder na então capital federal do Rio de Janeiro (hoje ela está em Brasília).  Essa mudança é tópica e decerto superficial, pois a férrea vontade de manter o mando na capital, hoje por artes de JK, em Brasília, continua a mesma inquebrantável determinação de, seja como for, conservar  o controle sobre todas as máquinas, municipais, estaduais e federal, nessa República - e me perdoe o leitor a interposição, o igual querer de ter a última palavra no que se trate do exercício do poder continua a mesma.
             E foi por tal razão, compreensível no seu meio, mas ainda combatida por núcleos de deputados éticos - por mais rara que vá ficando tal composição - que a direção do PMDB de então não pôde responder àquele deputado egresso de outros tempos e outros costumes. Aconselhados pelo respectivo chefe - que não por acaso continua a dar as cartas na maior frente política nacional - a liderança peemedebista preferiu responder com o silêncio às colocações do deputado Jarbas Vasconcelos.
                O que Ricardo Noblat hoje frisa na sua coluna me parece difícil de responder: "Mesmo que se prove o que Marcelo (Odebrecht) contou em sua delação, dificilmente Temer será processado. (O alegado crime) foi cometido antes de ele ser reeleito vice-presidente em outubro de 2014. A partir do próximo mês, com a (previsível) cassação de Dilma pelo Senado, Temer deixará de ser interino (para virar) presidente da República.
                  O pior seria o que vem em consequência: "Com popularidade baixa, obrigado a promover duros ajustes na economia, como Temer conseguiria governar uma vez acusado de crime de caixa dois?"
                  Em outras palavras, mudada a situação radicalmente, continuam, no entanto, a pairar sobre Temer e seu partido as mesmas irrespondíveis acusações.
                   Não foi em vão que ressoara atroador silêncio às acusações colocadas por remanescente ético dentro do PMDB, a saber, Jarbas Vasconcelos.
                    O que fazer?  Confiar na habilidade política (com p minúsculo) de Michel Temer, ou ouvir a voz que brada no deserto de Brasília, e que porta, malgrado tudo, o ético galardão de Jarbas Vasconcelos?
                    Essa pergunta pode parecer retórica, mas tragicamente não o é.


(Fontes: artigo de Ricardo Noblat - Odebrecht mira em Temer - em O Globo; VEJA)

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