sábado, 27 de agosto de 2016

Café Society

                                        

        Saudado por parte da crítica como um de seus grandes filmes, a obra anual de Woody Allen tem bons momentos. O seu humor, que pode ser ferino, mas não é jamais cáustico, se a tradição judaica de auto-irônia e o agnosticismo do autor, já são bastante conhecidos, ainda são capazes de provocar extremos de hilaridade na plateia.
        A estória em si, como é sobre a volatilidade do amor e as eventuais escolhas, boas ou más, tem um pouco de carrossel, no ir e vir das situações dos principais personagens.
        A dupla formada por Jesse Eisenberg (Bobby) e Kristen Stewart (Vonnie) gira em torno de Steve Carell, grande agente de Hollywood (Phil).
         Vindo do Bronx para Los Angeles - o filme transcorre nos anos trinta - a fim de tentar algum emprego ligado ao cinema,  o tio Phil, que é grande agente de Hollywood, com o seu contínuo name-dropping (arrota nomes de grandes atores e diretores), acaba por dar um emprego a esse parente pobre seu (de quem ele mal se lembrava o sobrenome).
          De qualquer forma, Phil pede a sua secretária que cuide do sobrinho, o que ela fará, ainda que por pouco tempo. Em um seguinte período, a bela Blake Lively  (também Veronica) igualmente se relaciona com Bobby, e de forma ainda mais intensa.
           Neste período, Vonnie (Kristen Stewart) se casa com o doppelganger de Woody Allen, Jesse, e em New York ele se torna diretor de um restaurante de seu irmão gangster (Corey Stoll). É irreconhecível ao personagem tímido dos começos em  Hollywood, e ganha uma ascendência sobre o belo sexo, que o seu criador sempre quisera ter.
           Por um breve período, renasce o romance entre a segunda Vonnie (Blake Lively), mas apesar do interesse comum da dupla, será apenas um episódio efêmero, e Jesse volta para a sua primeira namorada de Hollywood.
            Os filmes de Woody Allen, com o passar do tempo, tocam amiúde na tecla do passado próximo, aquele que ainda está presente em alguns cinematografistas, a começar pelo próprio Woody. Na Recherche du Temps Perdu Proust concentra a sua evocação em madeleine[1] e outros detalhes de eras passadas, mas ainda ao alcance da memória.
             Com a mágica do cinema, Woody nos fez revisitar a mítica Paris dos anos vinte ao toque da meia-noite, com a magnífica limousine e os seus personagens com a aura da imortalidade. Se Los Angeles e New York dos anos trinta não terão o mesmo surreal encanto, este  filme de Allen repete com gosto o exercício com uns tons do passado já inatingível, que esse infatigável artista nos proporciona a módico preço, nessa grande feira em que às vezes se transmuta a tela do cinematógrafo.

( Fontes: Woody Allen  (Café Society); M. Proust, À la Recherche du Temps Perdu )



[1] pequeno bolo leve.

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