quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Richard Holbrooke: in memoriam

Richard C. Holbrooke, aos sessenta e nove anos, faleceu na segunda-feira, treze de dezembro. Operado de urgência por ruptura na aorta, não resistiu às complicações derivadas da cirurgia com 21 horas de duração.
Desde os anos sessenta, serviu a todos os presidentes democratas. Sempre empenhado em missões diplomáticas, o simbolismo da atividade se marca até nas circunstâncias que cercam a intervenção de emergência a que teve de submeter-se.
Com efeito, o problema médico se manifestou em reunião que mantinha, no State Department, com a Secretária de Estado Hillary Clinton. E entre as suas últimas palavras está o que disse para médico atendente: ‘devemos encontrar um jeito de acabar com a guerra no Afeganistão’.
Designado pelo Presidente Barack Obama Representante Especial para o Afeganistão e o Paquistão, Richard Holbrooke recebeu tais árduas missões com a seriedade e disposição que sempre haviam assinalado as suas empresas anteriores.
Os Acordos de Paz de Daytona de 1995 constituiram, sem dúvida, a obra prima de sua carreira de negociador. Máxime nessa ocasião memorável, o intraduzível termo inglês troubleshooter [1]lhe cai como uma luva, a ele que pelo seu estilo no modo de atuar, pela coragem e competência em arrostar os desafios estaria longe de evocar qualquer semelhança com a diplomacia de punhos de renda.
A complexidade dos problemas étnicos e religiosos relativos à antiga Iugoslávia, Holbrooke os enfrenta com o mesmo destemor com que estabelece o seu relacionamento com Slobodan Milososevic, então presidente da Sérvia. Pode-se afirmar com segurança que boa parte de seu sucesso como arquiteto dos acordos de paz que terminaram com o conflito na Bósnia-Herzegovina se deve à franqueza com que confrontou o principal responsável pela eclosão do conflito.
Ao se afirmar diante de alguém com o temperamento de Milosevic, Holbrooke realiza o que para outros seria impossível – manter a relação e o diálogo com o ditador sérvio em nível de respeito mútuo e de igualdade.
Ante a complexidade da tarefa, o êxito alcançado pelo negociador de Daytona avulta-se a ponto de redimensionar-lhe todas as outras missões, pregressas ou não.Dragan Cavic, antigo presidente da Bósnia, disse: ‘É de surpreendente simbolismo que Holbrooke tenha morrido no dia do décimo-quinto aniversário do Acordo de Paz na Bósnia, o dia que configura a principal realização de sua existência política.’
Os encargos recebidos do Presidente Obama – Afeganistão e Paquistão – consumiram-lhe os últimos anos. As características de tais missões nestes dois países as aproximam do impossível, mesmo para alguém com o denodo, o tirocínio e a inventiva de Richard Holbrooke.
Por outro lado, não obstante a capacidade de trabalho e obra diplomática, Holbrooke não alcançaria a sua ambição precípua de tornar-se Secretário de Estado. Em 1997, Bill Clinton escolheu Madeleine K. Albright, ao invés dele. E estava na short-list quando Obama indicou Hillary Clinton, em 2008.

( Fonte: International Herald Tribune )

[1] Mediador; reparador de problemas.

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