domingo, 12 de dezembro de 2010

Colcha de Retalhos LXII

O Ministério da Reencarnação

Algum político espirituoso nos mostra que a reencarnação não é apenas um fenômeno do espiritismo, vale dizer do mundo dos mortos para o dos vivos. A reencarnação, Lula, com a obsequiosa colaboração da presidente-eleita Dilma, se revela igualmente possível no mundos dos vivos.
O ministério da novel Presidente, posto que ainda incompleto, nos surpreende pela quantidade de nomes que provêm da equipe de Nosso Guia. Ao compor o seu gabinete, o presidente Lula exibiu para gregos e troianos a sua preferência pela quantidade ao invés da qualidade.
No entanto, Sua Excelência parece acarinhar-se de seus assessores diretos – embora seja questionável o número de vezes que tenham conseguido despachar diretamente com o mestre – a ponto de trabalhar pela sua permanência no ministério, se possível no mesmo posto, mas se houver dificuldade, se arranja outro lugar.
E a Presidente Dilma Rousseff semelha muito propensa a acolher as instâncias de seu ex-chefe e criador.
Dessarte, para que a companheira Dilma encabece plantel com o mesmo brilho e competência daquele de seu antecessor, a maneira mais fácil será a da repetência dos nomes nas pastas respectivas. Pelo noticiário, continuarão Fernando Haddad na Educação, Wagner Rossi na Agricultura, Alfredo Nascimento nos Transportes, Edison Lobão nas Minas e Energia, e Carlos Lupi no Trabalho. Entre os novos valores, cabe ressaltar Pedro Novais, no Turismo, e Garibaldi Alves, na Previdência!
E, valha-nos Deus, há gente por aí de pouca fé que descrê da capacidade dessa plêiade em trabalhar pelo progresso do Brasil !

A Democracia na Rússia

O Primeiro-Ministro Vladimir Putin resolvera incentivar a criação de outro partido, no gênero dos partidos caudatários no antigo regime mexicano. Para dar ares democráticos à ditadura do P.R.I. (Partido Republicano Institucional), os hierarcas priistas toleravam a presença de grêmios menores, representados inclusive no Congresso, porém domesticados o bastante para não exagerarem na oposição. Terá sido esta a ideia de Putin ao incentivar o surgimento de um partído títere, sob a denominação Uma Rússia Justa, para fazer oposição nominal ao seu todo poderoso partido Rússia Unida.
No entanto, a candidata em Nova Sibirsk de Uma Rússia Justa acreditou na força da própria retórica, e começou campanha que logo preocupou a nomenclatura existente em torno do partido governamental. Com os seus discursos fogosos, ela julgou poder valer-se do espírito democrático.
O líder nacional do partido, Sergei M. Mironov, que preside o Senado, e é amigo de Putin, visitou Nova Sibirsk. Dada a sua situação, os partidários de Rússia Unida não ousaram afrontá-lo. Ao retornar para Moscou, a pressão aumentou sobre a candidata Olga Safronova . É importante entender que os quadros do partido – assim como nos tempos da ascendência comunista – se confundem amiúde com os instrumentos do Estado. Na verdade, através de um aparelhamento eficaz, a Rússia Unida controla as administrações regionais, os escritórios dos promotores, as cortes de justiça, os departamentos de polícia e as comissões eleitorais.
Através de sua atuação anterior como a líder regional de grupo denominado Comitê Público Anti-corrupção já criara muitos inimigos. A fúria dos adversários - que incluíu raids pela polícia da sua sede de campanha – correspondeu à sua expectativa.
A despeito de seus esforços e da sua expectativa de que a posição do próprio partido despertasse a simpatia popular, a situação factual tornava tal aspiração altamente improvável. Diante da fraude eleitoral prevalente, que vai do enchimento das urnas com votos para o partido do governo até ordens para batalhões de militares para que entrem em seções eleitorais para votarem em bloco no candidato da Rússia Unida, não há de despertar estranheza que o candidato oficial tenha recebido 49% dos sufrágios. O partido de Safronova acabou em terceiro, com 16% dos votos (o segundo lugar foi dos comunistas).
A democracia russa não é mais sequer aquela tenra plantinha que se deve regar amiúde. Dos tempos de Yeltsin para cá, o seu antigo protegido e egresso do serviço secreto Vladimir V. Putin vai transformando a realidade política naquele país na democracia adjetivada que guarda apenas frágeis lembranças da liberdade e das esperanças dos anos noventa.

Os Controladores de Voo Na Espanha

A falta de sentido de realidade pode às vezes afetar grupos sindicais que deveriam ser mais cautelosos, dadas as suas óbvias fragilidades. Tomemos, por exemplo, o recente episódio da greve selvagem dos controladores de voo na Espanha. Viram no fim de semana prolongado da semana passada a oportunidade de fechar os aeroportos e dessa maneira pressionar o governo a recuar nos seus planos de cortar os seus salários, aumentar a sua carga horária e colocar os dois maiores aeroportos da Espanha sob administração privada.
Deveriam ter sopesado mais a sua iniciativa. Atenazar a vida do espanhol comum e de inviabilizar-lhe o gozo de um feriadão careceria de mais reflexão, sobretudo pelos salários auferidos pelos controladores espanhóis. Por uma série de consequências fortuitas e de fraquezas governamentais, esses controladores ganham entre 350 mil euros, podendo chegar até 970 mil euros por ano.
Dos 2400 controladores em 1999, quando tal situação surgiu, cerca de 1900 continuam na ativa. A maior parte dos outros, ou se aposentou antes do tempo, ou está em licença de saúde. A remuneração dos demais controladores europeus está muito abaixo da dos espanhóis: os alemães ganham cerca de 150 mil euros por ano;e os ingleses, aproximadamente 120 mil. Por sua vez, os americanos recebem anualmente em torno de 109 mil dólares, ou 84 mil euros.
Ao contrário da expectativa dos grevistas, o governo José Luis Rodriguez Zapatero considerou que “o altamente irresponsável comportamento dos controladores não podia sair impune.”
A banca de advogados Cremades & Calvo-Sotelo, que representa milhares de passageiros prejudicados pela greve, prepara uma ação judicial para estabelecer a responsabilidade penal e pessoal de cada um dos controladores grevistas.
‘Haverá um antes e um depois deste acontecimento’, disse Javier Cremades, o advogado chefe da firma. ‘Este fim de semana tem que estabelecer um precedente para mostrar que se os sindicatos põem os seus interesses acima daquele da cidadania, eles têm que arcar com as consequências.’
Por sua vez, os sindicatos culpam a Aena, a Infraero local, por limitar os plantéis de controladores. ‘ Ficou mais barato para a Aena pagar horas extraordinárias do que contratar mais gente e também ter de pagar por mais dois anos de custoso treinamento’.
O jogo de empurra tenderá a continuar, mas será dificil mascarar as enormes diferenças entre os salários dos controladores europeus, que favorecem de forma absurda aos espanhóis.

( Fonte: International Herald Tribune )

Nenhum comentário: