Sem o apoio das bancadas democratas em Câmara e Senado, Barack Obama chegou a um acordo tentativo com os republicanos. Ao fechar o entendimento com os líderes do GOP, o presidente, para assegurar a governabilidade nos próximos dois anos, concorda com medidas que lhe deverão alienar o apoio de sua base liberal-progressista. Não está certo, de resto, que Obama obtenha suficientes votos dos representantes de seu partido para ratificar o acordo. O mais provável é que seja ratificado com a votação maciça das bancadas republicanas.
A principal concessão feita por Barack Obama foi o abandono temporário de uma proposta sua na campanha de 2008: acabar com as isenções tributárias feitas por George W. Bush para o 2% de famílias mais ricas constituía uma de suas principais promessas. O amargo recuo que teve de aceitar – na manutenção por dois anos das isenções – teve como contrapartida a prorrogação por treze meses da ajuda aos desempregados a longo prazo, um corte temporário na taxa sobre pagamentos para auxiliar a classe trabalhadora e a continuação de benefícios fiscais para pais e estudantes.
Esse pacote terá um custo de aproximadamente novecentos bilhões de dólares para os dois próximos anos. O seu financiamento importará em incremento correspondente da dívida nacional.
Ironicamente, quando dispunha de maioria nas duas Câmaras, a Administração Obama logrou a aprovação do estímulo econômico, da reforma da saúde, e das medidas de regulamento financeiro sem praticamente nenhum apoio do Partido Republicano. Ao perder a maioria na Câmara e não mais dispor de votos em número suficiente para impedir a filibuster no Senado, Obama tem condições de chegar a acordos com a oposicão embora tais acordos pouco tenham a ver com o programa pelo qual foi eleito em 2008 pelo povo americano com grande maioria.
Para a esquerda democrática que o apoiara, Obama desperdiçou muitas oportunidades de levar avante reformas importantes: muito modesto no seu pacote de estímulo à economia, muito tímido para lutar por uma opção governamental no programa de saúde,e demasiado deferente com Wall Street (dois de seus principais auxiliares nesse domínio tem estreitos laços com o mundo financeiro – Larry Summers e Timothy Geithner).
Há o precedente de Bill Clinton que teve igualmente de negociar com os republicanos, ao perder a maioria no Congresso em 1994. No entanto, Clinton manteve sua popularidade o que lhe assegurou a reeleição em 1996, por manobrar com habilidade na tentativa do Speaker republicano Newt Gingrich de provocar a parada no funcionamento estatal. A dúvida é se Barack Obama terá a garra e a firmeza necessárias para levar a melhor sobre as hostes republicanas em um relacionamento que tende a ser difícil e marcado por constantes contestações.
Como se refere na ala progressista do partido Democrata não se poderá excluir que surja em 2012 um candidato alternativo forte que lhe dispute a indicação para a presidência na Convenção. Historicamente, presidentes fracos e/ou impopulares, como Jimmy Carter enfrentaram rivais (v.g., Ted Kennedy) durante as primárias. Por sua vez, Lyndon Johnson optou em 1968 por renunciar à tentativa de reeleição, diante da grande dissidência nacional motivada pela guerra do Vietnam.
Se é demasiado cedo para prognósticos mais definidos, por ora não se apresentam favoráveis as perspectivas de reeleição para Barack Obama. Acoimado de tímido e inseguro por boa parte da opinião pública, o homo novus do Illinois desiludiu boa parte de seu eleitorado, pelas promessas não concretizadas de mudança. Outras medidas não-implementadas – sumariamente descritas acima – e as concessões ora feitas aos republicanos são suscetíveis de trazer-lhe prejuízos eleitorais ainda maiores.
Não obstante, mal começa a travessia para 2012. Se o reino da política se afigura prenhe de surpresas e reviravoltas, neste momento, no entanto, o comandante da nave depara mar agitado e horizontes borrascosos.
( Fonte: International Herald Tribune )
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
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