Conquanto os últimos dias de governo não tenham a esperança e as promessas de um início de mandato, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva se despede do palácio em atmosfera que pouco tem a ver com o que arrosta a grande maioria de seus predecessores.
Não é apenas a circunstância de que, para o que der e vier, obteve completo êxito em seu projeto de fazer o próprio sucessor. Nunca tal expressão se há de afigurar mais veraz. Por iniciativa sua, sem que tivesse qualquer interesse de partido ou instituição, Lula criou a respectiva sucessora. Não ouviu partido, nem quem quer que fosse. De sua algibeira a retirou, sabendo da ingente tarefa que lhe defrontava.
Dilma Rousseff não tinha experiência política, nem jamais enfrentara eleição para qualquer cargo. A tarefa não o assustou, e já no ano precedente ao pleito, ela começou a crescer, para no ano decisivo galgar o primeiro lugar na escala da preferência, lugar este que nunca mais cederia.
Lula não poupou esforços, nem todo gênero de manobra, que lhe fortalecesse a candidata. O tropeço do primeiro turno terá sido uma provação a mais, que ele soube superar, com a tenacidade e a disposição ferrenha que tudo subordinava à conquista do ambicionado laurel.
Como um dos coronéis do seu Nordeste, a que tanto se tem assemelhado, seja pelas relações, seja por comportamento e métodos, a presença de Lula, no intervalo que medeia entre os comícios e a posse da sucessora, continuou a brilhar com uma força que não é a usual para os presidentes a atravessarem o respectivo ocaso.
Em quase tudo o ministério futuro se parece com o atual. No seu inchamento, nas diferenças entre os ministros – os da Casa, os com poder, os que tão só compõem o quadro, sem chance ou pretensão de despachar com a Presidente. Será também um gabinete de experiência, como o foi o primeiro de Vargas em seu último governo, e muitos não se animam a augurar-lhe vida longa. A sua intrínseca mediocridade repete a dos ministérios de Lula pós-mensalão. E não deve surpreender que assim seja, dada a sufocante influência do Presidente Lula na composição da equipe de Dilma.
Lula se terá inteirado do que disse Itamar, um digno antecessor seu, que também saíu popular do Planalto – posto que sem o exagero do atual – ao recordar das diferenças da planície e da falta do ‘moço da mala’.
Lula, o taumaturgo, quiçá acredite que poderá igualmente driblar tais contingências. O seu desconforto com a partida se afigura bastante evidente, a despeito da discrição da sucessora. Ainda se julga com títulos para dar puxões de orelha em ministros que tratam de matérias além primeiro de janeiro.
Tampouco deixa dúvidas a circunstância de que medita sobre o seu eventual retorno. A sua frase de não poder excluir tal hipótese, não deve tê-la como simples resmungo ou veleidade inconsequente.
Lula é um animal político que se enamorou da presidência. Os deuses podem ser volúveis, a sua sucessora é ainda uma caixa preta, mas Nosso Guia continua irrequieto, inconformado quiçá com uma separação definitiva.
sábado, 25 de dezembro de 2010
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