No dia primeiro de janeiro, após ter levado o seu criador até o carro da partida, em que, despojado da faixa, se terá afinal transformado em ex-presidente, Dilma Rousseff subirá a rampa com o futuro à frente. Quem partiu, quer queira, quer não, será um ex-presidente. Não importa que talvez não deseje ser como tantos outros e no peito acalente anseios de poder.
Dilma, no entanto, sabe que a construção do porvir, se é obra caprichosa, muito dela há de depender, primeiro pela confiança que se sói outorgar aos principiantes, segundo pela consciência de que agora é dela a caneta. Se está cercada de olheiros, se a quase-presença do antecessor paira por toda a parte, ela tampouco desconhece que tem condições sobejas para administrar – o que seu augusto protetor não possuía – e que a política, por mais infiel e traiçoeira que se afigure, será sempre decorrência da boa gestão.
Se conseguir dominar o monstrengo das trinta e sete cabeças, a trajetória promete ser menos acidentada e poderá conduzi-la a um outro patamar, que Dilma terá o direito de considerar como próprio.
Esse ministério, que ainda não é o seu, pela inchação ou pela mediocridade, ela não há de lograr aceitá-lo, pelo mero fato, que como concepção e arranjo nada ou muito pouco tem a ver com seus propósitos.
A alternativa com que se defronta, na verdade é simples na sua falsa complexidade. Ou se anima a vê-lo como um todo, ou se dispõe a governar com um núcleo de gente capaz.
Sendo a primeira tarefa mais do que impossível, desarrazoada, sua escolha de trabalho e de construção recairá sobre uns poucos, que buscará moldar à sua própria imagem.
Quanto aos muitos, entre podres e maduros, ou cairão nas primeiras refregas, ou se quedarão, conformes à inútil, insinuante necessidade de não abrir demasiadas frentes aos mouros que sempre os haverá.
Todos conhecemos o temperamento da Presidente. Forte como é, muita vez será o bastante para que seja respeitado. O ânimo imperioso pode ser válido instrumento de mando, desde que Dilma não se esqueça de tê-lo sob controle, para ficar ao longe dos problemas inúteis e das conspiratas urdidas por afrontas e explosões desmedidas.
A pressa será sempre inimiga da perfeição. As longas caminhadas começam com um simples passo. Se a gratidão é virtude necessária, não lhe servem nem a timidez, nem a impetuosidade. O bom governo se enceta desde o primeiro dia, sem arroubos, nem rupturas, mas também com o toque pessoal, que com beneditina tenacidade se dispõe a empreender o que tantos milhões de brasileiros esperam.
Acerca-se a hora de virar a página e dar a palavra a quem de direito.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
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