Obama, presidente de um só mandato ?
Elizabeth Drew, experiente e respeitada comentarista política, escreve sobre Obama e Washington oportuno e interessnte artigo no número de Natal de The New York Review.
Sob o título Na Amarga Nova Washington[1], a propósito do significado das eleições intermediárias de novembro último, Drew se reporta sobretudo ao comportamento do Presidente Barack Obama e o que possa pressagiar.
A derrota dos democratas nessas eleições foi bastante grande. Assim, ela varreu todos os ganhos dos pleitos de 2006 e 2008 (a maior reviravolta em 70 anos). Tampouco são animadoras as perspectivas de pronta recuperação da maioria na Câmara de Representantes, em função dos ganhos republicanos em mais de uma dezena de assembleias estaduais, o que se refletirá em muitos distritos eleitorais redesenhados em favor dos candidatos do G.O.P.
Não obstante, nos três exemplos de presidentes em seu primeiro mandato que perderam a maioria em pelo menos uma Casa do Congresso (Truman (D) em 1948, Reagan (R) em 1982, e Clinton (D) em 1994), o nível de aprovação de Obama (45%) é mais alto do que os demais, ao cumprir os seus dois primeiros anos de mandato. Não deixa de ter relevância o fato de que tanto Reagan, quanto Clinton superariam esse obstáculo, logrando a sua reeleição.[2]
A contraposição entre democratas e republicanos se acirrou muito nos últimos anos, mas a reconquista da Casa Branca é sempre objetivo prioritário dos dois grandes partidos estadunidenses. No entanto, a ênfase do líder da minoria no Senado Mitch McConnell afigura-se bastante emblemática de o que espera o 44º Presidente dos Estados Unidos: “De todas a coisa mais importante que queremos alcançar é que o Presidente Obama seja presidente por um único mandato.”
Por isso, os republicanos terão aprendido a lição da vitória de Newt Gingrich e o seu Contrato com a América. Não mais haverá exageros – como a tentativa de fechar o governo em 1995. O escopo de vencer nos comícios de 2012 não os fará esquecer os erros cometidos contra Bill Clinton.
No entendimento de Drew a atitude do Presidente e da Casa Branca pode ser tão determinante na eleição presidencial de 2012, quanto o foi no pleito de 2010.
Obama tem um alto conceito a respeito de si mesmo, o que não é, em principio, um dado negativo. Contudo, ele tende a fechar-se e a não se empenhar em traduzir para o povo americano os principais objetivos de sua presidência. Tal falta de comunicação também se assinalou na circunstância de que teve de implementar providências derivadas de seu antecessor George Bush. O fato de não registrar-lhes a origem o levaria a ser culpabilizado pela opinião pública por situações que não eram de sua responsabilidade.
Outra característica da Casa Branca de Obama é a relativa juventude de seus principais assessores, e de sua consequente falta de maior experiência política. O próprio Obama teria demonstrado que não capta uma das principais missões do Presidente, que é a de liderar o povo americano. Para E. Drew, Barack Obama e a sua equipe julga que o relevante seja fazer aprovar leis importantes.
O único membro da Administração com grande vivência política – o Vice Joe Biden – não teve muita influência no primeiro biênio. Há indicações de que o tropeço de 2012 tenha levado Obama a decidir ouvi-lo mais no futuro.
Talvez um dos grandes erros de Barack Obama haja sido pensar que o dia-a-dia da Administração era suscetível de ser conduzido como o foi a exitosa campanha de 2008. A sua eleição se baseou na dupla promessa de realizar a mudança (change) em Washington e fazer aprovar grandes reformas. Para John Podesta, que chefiou a equipe de transição de Obama (e que fora chefe de gabinete de Clinton), resultou que não logrou emplacar as duas.
A presente Administração não deveria esquecer que a época atual não é exatamente uma que veja com naturalidade ostentação e extravagâncias. Nesse sentido, as inúmeras férias do casal e, em particular, a viagem de Michelle Obama para a Espanha não tendem a ser bem recebidas nesses tempos difíceis.
Há muitos outros aspectos citados. Sem embargo, eles são decorrência da personalidade do Presidente e do círculos de assessores com que se sente mais à vontade.
Se os dados não estão lançados e tudo ainda seria possível, semelha oportuno ter presente que aí se acha o grande enigma. Terá Barack Obama condições de repensar a sua própria atitude e a respectiva maneira de lidar com a realidade ?
O Escândalo dos Salários dos Congressistas.
Já me ocupei do tema no blog de 16 de dezembro corrente – Terá Jeito Esse País? - mas creio que a reportagem da Folha sublinha aspectos tão oportunos, quanto vergonhosos. Em um Congresso que trabalha dois dias e meio por semana, com longas e generosas férias e recessos, não pode senão revoltar que os nossos parlamentares sejam os mais bem remunerados do planeta (com a concorrência de outro país emergente, o México). Deputados e Senadores brasileiros têm uma relação entre o respectivo salário e a renda média da população de 19,5, enquanto nos Estados Unidos é de 3,7, na Argentina 4,4 e na União Europeia 3,3 (na Alemanha é 3,0 e no Japão 4,4). Até mesmo a Itália de Berlusconi só chega a 5,5 !
Tudo isso espelha desgoverno e desrespeito à população, de que os escândalos no Senado e na Câmara constituem outra vertente.
Sequela na Trajetória de Silvio Berlusconi
O resultado nas votações da Moção de Desconfiança contra o Gabinete Berlusconi tanto no Senado, quanto na Câmara, se saldou com apertadas maiorias em favor do atual Primeiro Ministro. Só o futuro dirá o que terá sido empreendido para evitar a queda do ministério. Os motivos dessa salvação in extremis – e na Câmara com apenas um voto de vantagem para o atribulado Berlusconi – resultarão mais de eventuais investigações do que da imprecisa atribuição ao temor de uma crise no atual contexto econômico da União Europeia.
São desenvolvimentos futuros. Não obstante, a circunstância de dispor de apenas um voto de maioria na Câmara dos Deputados já constitui por si só forte indicação de situação de virtual ingovernabilidade.
Nesse cenário pouco favorável a Berlusconi – a despeito das aparências – pende ainda, como gigantesca espada de Dâmocles, a sentença da Corte Constitucional sobre a legalidade da leizinha que de novo concede ao Primeiro Ministro imunidade quanto a processos nos tribunais. Se o desfecho for desfavorável ao Cavaliere, teremos talvez um golpe mais forte contra a sua fortuna política que os vibrados pelas recentes votações em Montecitorio (Câmara) e Palazzo Madama (Senado).
O Fardo de Ser um Madoff
Mark David Madoff, o filho mais velho do falsário Bernard L. Madoff, lutou até o fim contra a pecha de inevitável e infamante associação com o escândalo do pai e seu esquema Ponzi. Era o editor de Carta Circular denominada Sonar Report (que tratava de propriedades imobiliárias). Na privacidade do apartamento de Manhattan, na manhã do dia onze antecipou o seu encontro com a morte, enforcando-se.
Além da enorme pressão sentida nos últimos dois anos, com a descoberta, prisão e condenação do pai, Mark enfrentava desafios mais sutis, porém não menos angustiantes, através das desconfianças de conhecidos, na sárcina do sobrenome, e, mais recentemente, nos novos processos movidos pelo encarregado das questões relativas à fraude de Madoff, um dos quais dirigido contra os seus filhos.
As acusações e potenciais implicações de ulteriores responsabilidades contra a massa de credores terão sido a gota d’água para entornar o próprio copo, já alimentado profusamente pela sua grande raiva contra o que pai fizera não só no que concerne aos clientes do hedge fund, mas também no que tange aos respectivos familiares.
Mark D. Madoff tinha quarenta e seis anos de idade.
As Perseguições contra os Cristãos no Iraque
Os cristãos caldeus são a prova da extensão da fé de Cristo e das igrejas relacionadas com a Sé Apostólica. O que não sofriam nos tempos de Sadam Hussein – em que um deles chegou a ser ministro das relações exteriores[3] - agora os força às incertezas da fuga e do exílio. Estranha campanha de violência sob encomenda (targeted violence) leva a minoria cristã a transferir-se para o norte do Iraque – na região curda – ou mesmo para o exterior.
O êxodo se segue ao cerco em 31 de outubro de uma igreja em Bagdá. Nessa ocasião, morreram 51 fiéis e dois sacerdotes. Ulteriormente, houve uma série de explosões e de assassínios, em que o motivo do crime se cingia unicamente à fé da vítima. Determinou a fuga sensação de crescente insegurança, dada a incapacidade das forças da ordem em proteger os cristãos, ou, o que é mais grave, a impressão de que não desejem prestar tal serviço aos caldeus.
Pelo visto, os apelos do Primeiro Ministro Nuri Kamal al-Maliki, em um país de grande maioria islâmica (e dividido entre as comunidades xiita e sunita), em favor da tolerância religiosa cairam em ouvidos moucos, inclusive os dos responsáveis pela ordem dentro da sociedade.
A intolerância aumentou muito desde a infausta invasão do Iraque, por ordem de Bush e Blair. Ela não se restringe aos cristãos caldeus, atingindo as comunidades xiita e sunita, com diversas matanças.
No entanto, a diferença entre o discurso das autoridades e a prática, é, em última análise, o que causa a resolução dos cristãos caldeus em buscarem asilo. Nas palavras do Reverendo Gabriele Tooma, o Abade do Mosteiro da Virgem Maria, pertencente à Igreja Católica Caldeia em Qosh, que deu guarida a 25 famílias: “É forte a sua fé em Deus. Foi a fé no governo que enfraqueceu.”
( Fontes: New York Review, International Herald Tribune e Folha de S. Paulo )
[1] The New York Review of Books, December 23,2010, In the Bitter New Washington.
[2] Truman não se candidatou à reeleição.
[3] Tarik Aziz, recentemente condenado à morte pelo presente regime xiita no Iraque.
domingo, 19 de dezembro de 2010
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