segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

E o Rio, dona Dilma ?

Enquanto o Frankenstein já está nas peças finais de sua composição, o Senador-eleito Lindberg Farias – lembram-se da sorridente imagem dele e de Dilma, em campanha na Baixada, fazendo corações ? – nos faz o seguinte desabafo: “Não perdemos a a esperança de que o Rio seja contemplado. Caso isso não aconteça, o estado sairá como o grande derrotado na formação do Ministério”.
Como se sabe, até o momento o Rio de Janeiro só dispõe do nome de Moreira Franco como Secretário de Assuntos Estratégicos. É pouco para estado que no governo Lula dispôs de seis nomes no primeiro escalão federal.
A lamúria de Lindberg parte da constatação que o Rio deu a Dilma ‘a melhor votação do Sudeste’. E daí ? O deputado Luiz Sérgio, um dos cotados, recorda, a propósito, que o PT do Nordeste, “o mais vitorioso nas últimas eleições”, tampouco “tem um figurão no primeiro escalão”.
Sem embargo, dirão outros, o Rio de Janeiro, na hora da onça beber água, não tem recebido todo esse tratamento prioritário. Acaso se esqueceram de Lula que ressonava, enquanto no Congresso Ibsen Pinheiro e aliados urdiam a emenda que espoliou, na distribuição das quotas, os estados produtores de petróleo, com o Rio à frente ? E, por enquanto, só restou ao governador Sérgio Cabral choramingar pelos ‘royalties’ derramados ?
É bem verdade que a precipitação de Cabral terá queimado a indicação do Secretário Sérgio Côrtes. A falta imperdoável de expor ao público a indicação de Côrtes sem que a Presidente-eleita o anunciasse previamente constrangeu Cabral não só ao pedido de desculpas, senão à queima definitiva de seu candidato.
Conforme demonstrado na prática, muitos critérios têm presidido às confirmações de Dilma Rousseff, mas parece fora de dúvida que a qualidade do candidato – se entendida em relação à respectiva função – terá pouco a ver com a sua chancela na equipe ministerial. Se na República houve gabinete de quotas pessoais – do presidente Lula, de PT e PMDB, e até de Dilma – será o que agora laboriosamente se compõe.
Por enquanto, então, o Rio se descobre ao relento, como se a própria sobrevivência dependesse dos paços de Brasília. Além do descartado José Gomes Temporão na Saúde, se assinalam, no Governo Lula, os nomes de Carlos Lupi (PDT), Marcio Fortes (PR) e Carlos Minc (PMDB), a par das Secretarias de Políticas de Igualdade Racial e de Políticas para as Mulheres, a cargo de Edson Santos e Nilcéa Freire.
Alguns já classificam como ‘efêmero’ o primeiro ministério de Dilma. Se for, não será original também nesse aspecto. Quando empossado para o que seria o seu último mandato, Getúlio Vargas diria, de forma intencional ou não, que o seu gabinete era de ‘experiência’. Tanto bastou para limitar-lhe a duração. Talvez falte nesta sua equipe a prevalência do toque pessoal da Presidente. Muitas considerações estranhas carecem de ser admitidas. Faz-se assim necessário um decurso de prazo para que os titulares venham realmente a refletir a vontade da Chefe do Governo.
Nesse ministério futuro é que será mais relevante determinar o ‘peso’ do Rio de Janeiro. Que nunca poderá discrepar muito daquele correspondente à realidade da federação. Que, por circunstâncias várias, já foi maior no passado.

( Fonte: O Globo )

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