O vazamento de óleo, iniciado a vinte de abril com a explosão de torre de exploração da British Petroleum (BP) no Golfo do México, já se tornou o maior desastre ecológico dos Estados Unidos, tendo superado aquele provocado pelo navio petroleiro Exxon Valdez nas costas do Alaska.
Entrementes, se sucedem as tentativas da empresa responsável para estancar o contínuo derrame do poço submarino danificado. Até o presente, todas elas malograram, embora as derradeiras intervenções possam prenunciar o desejado estancamento do fluxo.
Como é amplamente noticiado pelos meios de comunicação, a mancha de óleo se estende até a Lousiana, e agora se acha a cerca de 15 km das praias de Pensacola, na Flórida.
O prejuizo não só para a fauna daquela vasta região, assim como para a explotação pesqueira, pela sua magnitude, não pode ser por quantificado. A par de aves como o pelicano, afeta os cultivos de crustáceos, de que depende a atividade econômica e portanto o sustento de segmentos importantes da população radicada na área.
Por outro lado, esse mega-vazamento, chegando às praias de tantos estados americanos da costa leste, na prática poderá inviabilizar as temporadas turísticas do verão boreal, além de outros possíveis danos de maior durabilidade.
Desde o acidente inicial, com a explosão na tubulação da plataforma naufragada Deepwater Horizon, que matou onze trabalhadores, a BP tem tentado, de diversos modos, estancar o fluxo. Reconheceu, se necessario fosse, a própria inexperiência nessa área de grande relevância, e que se presumiria fosse igualmente dominada pela empresa concessionária, dados os riscos existentes nesse gênero de explotação submarina.
Conquanto ainda não haja investigação mais detida sobre o desastre, há indícios de que os gerentes responsáveis foram avisados pelos técnicos de perigo de explosão, assim como foram advertidos acerca de providências que, no parecer dos operários no local, poderiam comprometer a segurança dos trabalhos. O próprio Presidente Barack Obama, em discurso em Pittsburgh, assinala que “a catástrofe que ora se verifica no Golfo pode ser determinada como resultante de erro humano, ou de empresas assumindo risco de perigosos atalhos (short-cuts) que comprometem a respectiva segurança (da operação)”.
Nesse contexto, seja pela extensão da catástrofe no litoral do Golfo do México, seja pelo respectivo vulto em termos de vazamento, que supera os desastres naturais anteriores e a consequente poluição, vem crescendo na população estadunidense e, em especial, nas áreas direta ou indiretamente atingidas, uma difusa sensação de insatisfação com a gestão até agora do magno vazamento de óleo (dezenove mil barris de petróleo são lançados por dia nas águas do Golfo).
A respeito, se vai firmando no público a impressão de que este filme já foi visto e em passado relativamente recente. É o chamado efeito Katrina, o furacão que em 29 de agosto de 2005, assolando notadamente a área metropolitana de New Orleans, muito contribuíu para fazer despencar a popularidade e o crédito do então Presidente George W. Bush, pela sua memorável a princípio displicência em responder ao flagelo, e, nos dias e semanas subsequentes, pela deficiência e péssima qualidade do socorro e das indispensáveis medidas de reparação material e apoio às populações pobres envolvidas.
Decerto, a reação do Presidente Barack Obama não se pode comparar, em matéria de alheamento e negligência, àquela de seu antecessor imediato. No entanto, diante dessa crise a resposta de Obama tem deixado a desejar, segundo um círculo respeitável de observadores e de potenciais flagelados.
A indecisão, que seria um dos traços da personalidade do 44º presidente dos Estados Unidos, aqui se manifestaria por mais uma vez. Obama já foi duas vezes à região afetada pelo vazamento, mas não obstante tal fato os críticos – esses de linha liberal - lhe tem acoimado de falta de empatia com as vítimas e populações afetadas. Ao contrário de seu antecessor Bill Clinton, a quem inclusive se culpa de excesso de empatia, Obama não tem sabido transmitir aquela presença emocional e afetiva que levaria aos flagelados a certeza de que o Governo americano está tomando todas as providências para controlar e ao cabo afastar o perigo de maiores danos e devastações, tanto nas praias, quanto nas inúmeras área de cultivo pesqueiro.
As medidas tomadas pela Administração Federal – inclusive a exoneração de Elizabeth Birnbaum, funcionária de segundo escalão responsável pelo Serviço de Gerência de Minerais – tem sido tardas e insuficientes. Não passam ao público, cuja preocupação aumenta com o continuado avanço da mancha petrolífera, ideia de competência e, sobretudo, de presteza em encaminhar os meios indispensáveis para vencer o desafio.
Ter-se-á deixado muito, e em demasiado, a cargo de uma British Petroleum, cujo empenho na questão não se tem acompanhado de igual preparo para lidar com o vazamento que, não obstante inúmeras intervenções ditas resolutórias, ainda continua.
Provoca estranhável assombro que a poderosa máquina da Administração federal americana, com exceção da Guarda Costeira, se mantenha mais como assistente do que participante na solução do problema. Se a catástrofe do Golfo do México prosseguir, sem que haja medidas que denotem tanto a vontade política, quanto a capacidade tecnológica, o povo estadunidense há de fatalmente atribuir boa parcela da responsabilidade ao seu mais alto representante.
Se continuar o mesmo ramerrame, com as mal-sucedidas intervenções da BP e a apatia da autoridade federal, , não carece de dispor-se de bola de cristal para antever, já a partir das próximas eleições intermediárias, marcadas para a primeira semana de novembro do corrente ano, os prováveis reflexos políticos, com pesadas perdas para o Partido Democrata do Presidente Barack Obama.
( Fontes: O Globo e International Herald Tribune)
sexta-feira, 4 de junho de 2010
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