quinta-feira, 17 de junho de 2010

Chávez, não-Ditador por graça da OEA

Continuam e se intensificam as tropelias do coronel Hugo Chávez contra as mais comezinhas garantias democráticas na Venezuela. Embora não costume anular os malfeitos realizados – e é prova disto o seu fechamento em 2007 da RCTV, a principal rede televisiva privada do país – no momento presente, talvez querendo valer-se da atenção preponderante concedida à Copa do Mundo, o cripto-ditador tem pisado mais forte no acelerador.
Para amortecer o impacto dos incessantes golpes com que vilipendia o que resta de liberdade democrática na terra venezuelana, o caudilho conta com a ajuda e as melífluas declarações de seus aliados, a partir da Alba – arremedo de organização internacional que congrega os regimes filo-chavistas, a começar pelo sandinista Ortega, passando pelos gerontocratas irmãos Castro, e se estendendo até o ex-bispo Lugo, no Paraguai - , e alargando-se com os ‘muy amigos’ Lula da Silva e Cristina Kirchner.
No entanto, se além da queda pelas vistosas fardas com muitos penduricalhos, Chávez deveria votar especial gratidão – a par de queimar oferendas nos seus pejis privados – à OEA, esta secular e ultra-ineficiente organização dos países americanos.
Por quanto tempo, o seu Secretário-Geral, o chileno José Miguel Insulza, e o colegiado da OEA persistirão em fingir não enxergar as repetidas transgressões de Hugo Chávez e de toda a coorte que montou ao cabo de onze anos de domínio na Venezuela ? Diz o povo que o pior cego é aquele que não quer ver. Para quem teima em manter a exclusão de Honduras do seio pan-americano – culpada de ter cortado pela raiz a jogada de Chávez e Lula para a re-materialização do golpista in pectore José Manuel Zelaya – não são de estranhar os dois pesos e duas medidas em não aplicar ao reincidente infrator venezuelano as normas da Carta Democrática.
Como na fazenda de Orwell, alguns animais são mais iguais do que os outros. Cabe aos partidários, no entanto, do proto-ditador Chávez tomar cuidado para evitar que, ao invés de se tornarem partícipes do opróbio que recai sobre os que se recusam a dizer que o rei está nu, se afundem no chavascal que circunda àqueles que parecem ignorar quão próximo o ridículo está do cinismo.
O silêncio conivente de muitas chancelarias tem dado ao caudilho Chávez a falsa segurança de que tudo lhe é permitido. Desde que, a exemplo das defuntas ditaduras do Leste Europeu que tanto admira, despachou dirigentes da Human Rights Watch[1] - que desejavam publicar relatório sobre a retrospectiva chavista em matéria de direitos humanos -ilegalmente, e com violência, no primeiro avião, que partia de Caracas, o comportamento do quase-ditador e de seu regime se torna cada vez mais atrevido e descarado.
Avolumam-se as infrações e os ataques contra os ‘inimigos’ da pátria – não há adversários políticos para as ditaduras e seus sucedâneos. Todo opositor deverá ser demonizado. Depois do fechamento da RCTV, a última voz de cauteloso dissenso, a Globovisión de Guillermo Zuloaga é acossada de todas as formas, mesmo aquelas que menos compromisso têm com qualquer aparência de equanimidade jurídica. Agora, a acusação capital contra Zuloaga é de possuir carros de procedência duvidosa. Como nos ensina La Fontaine, o poder absoluto não carece de lógica. Basta-lhe a força.
Na paranóia que acomete a ainda vasta irmandade dos castro-ditadores, tais regimes não pecam pela falta de apetite, nem se circunscrevem aos atores principais. Não refugam ‘distinguir’ igualmente aos modestos mas corajosos lutadores contra o arbítrio, como o quase anônimo jornalista Gustavo Azócar Alcalá que vem de ser condenado a dois anos e meio de prisão por delito de opinião. Assinale-se a ‘inventiva’ dos hierarcas do regime, que agora se servem do Código Penal para intimidar e, se for necessário, punir os ‘inimigos’ opositores.
Além da juíza Mariá Afiuni, que foi trancafiada na cadeia por ter a coragem de contrariar o poderoso de turno – para tanto a receita será sempre a infâmia de manipulados processos – não faltam mais vítimas anônimas para aliviar os temores do coronel Chávez.
Infelizmente, Garcia Márquez estava certo em seu prognóstico quanto ao futuro do novel tenente-Coronel Hugo Chávez Frias. Afinal, há na Venezuela uma longa e melancólica lista de presidentes perpétuos.
Somente o Povo venezuelano pode pôr termo às tropelias do caudilho contra a democracia. Lá em seu íntimo, mal encoberto pela própria soberbia, ele saberá o que lhe espera. Mais cedo ou mais tarde, a nêmesis que soi visitar na tarda noite os tiranos estará à sua espera.
Terá sorte se lhe couber o exílio, que é talvez a mais cruel prisão reservada aos ditadores e assemelhados
.

Rodapé da Copa.

Se a simpática equipe da África do Sul não jogou bem contra o Uruguai, talvez sob o peso de excessivas cobranças ao ensejo de um feriado importante acerca de data histórica na luta contra o apartheid, a atuação do árbitro helvético Massimo Busacca lhe foi extremamente prejudicial. A marcação do penalty cometido pelo goleiro foi um crasso erro, eis que o jogador uruguaio supostamente vítima da penalidade máxima estava impedido, cousa que o trio de arbitragem suiço não quis dar-se conta. E o tal aclamado árbitro resolveu extrapolar. Por um penalty inexistente, ainda por cima expulsou o goleiro Khune. Será que agiria dessa forma contra a Itália, França, Alemanha ou Reino Unido ? A África do Sul que se tem prodigado tanto no esforço de acolher este Mundial da Fifa merecia melhor tratamento e mais respeito.

( Fonte: O Globo )

[1] ONG de Defesa dos Direitos Humanos.

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