Os efêmeros líderes japoneses
Quando Yukio Hatoyama, do Partido Democrático, venceu as eleições para a Câmara de Deputados, em setembro de 2009, o triunfo da oposição quebrou um domínio quase ininterrupto de mais de meio século pelo Partido Liberal Democrático.
Hatoyama ganhou com folgada maioria, com uma plataforma bastante ambiciosa. Propunha-se enfrentar o grave problema da incapacidade da classe política em vencer a estagnação e mesmo declínio da economia japonesa em cerca de duas décadas. O quarto primeiro-ministro japonês em quatro anos, prometeu enfrentar a burocracia nipônica, havida como responsável pela prolongada estagnação da segunda economia mundial, antes assinalada pelo próprio dinamismo.
Igualmente comprometeu-se a pôr fim à dependência do Japão do pós-guerra dos Estados Unidos, e desenvolver laços mais estreitos com a China e outros países asiáticos.
Em tal contexto, o seu propósito de construir uma parceria mais egualitária com Washington escolheu como símbolo alcançar a retirada da base aérea americana de Futenma na ilha de Okinawa.
Bastaram oito meses de governo, considerado indeciso pela opinião pública, para que Hatoyama se visse forçado a renunciar. Não só o seu caráter vacilante e o insucesso na tentativa de obter qualquer mudança no status da base militar americana, mas também uma série de investigações acerca do caráter do financiamento político de sua administração e de seu aliado e suporte no partido, Ichiro Ozawa.
Em lágrimas ao renunciar, Hatoyama declarou que Ozawa, secretário-geral do Partido Democrático também pediria demissão.
Já escolhido para sucedê-lo, Naoto Kan – que ocupava a pasta das Finanças no gabinete anterior – é conhecido pela sua disposição de enfrentar a burocracia, assim como a sua oposição ao controverso Ozawa.
Ao preparar-se para a magna tarefa, afirmou que faria uma política de mãos limpas, livre de escândalos. Engajou-se, outrossim, a enfrentar os poderosos burocratas de maneira a livrar a economia nipônica da estagnação em que se acha há duas décadas.
O futuro dirá se Naoto Kan realmente tem a têmpera não só de afrontar, senão de vencer o desafio. Se porventura o conseguir, terá assegurado o próprio lugar na história do Japão, ao invés de seus quatro antecessores, que malograram diante da stasis tanto econômica quanto política do Império do Sol Nascente.
A Crise do Jornal Le Monde
O jornal Le Monde pode ser considerado como instituição francesa do pós-guerra.
Em 1944, na Paris recém-liberada do longo pesadelo da ocupação nazista, foi o diário fundado pelo jornalista Hubert Beuve-Méry. Dentro do espírito da Resistência e da refundação do Estado francês, enfim derrotado militarmente pelos aliados o governo de Vichy, do Marechal Pétain, que encarnara a submissão ao poder da Alemanha de Hitler, Beuve-Méry se comprometeu a editar um jornal politicamente, economicamente e moralmente independente.
Depois de longa trajetória, assinalada pela independência e qualidade da respectiva informação e avaliação, confronta hoje Le Monde a mesma mudança de paradigma da informação, que tem ceifado ou ameaçado nos últimos anos tantos títulos prestigiosos, entre os principais diários mundiais. A revolução da informática como todo fenômeno desse gênero – cuja importância só pode ser medida se cotejada com a distante revolução na imprensa encetada pela descoberta de Johannes Gutenberg – não costuma distinguir dentre as suas eventuais vítimas. Está na chamada ordem das coisas que leve de roldão aqueles que acaso se atravessem no seu caminho, e não encontrem respostas satisfatórias para lidar com o respectivo desafio.
Nesse aspecto, a qualidade do veículo ameaçado não terá influência determinante na sua eventual situação diante das novas condições colocadas pela revolução cibernética. Dessarte, e infelizmente, não só os medíocres e os ruins sofrerão. Se Le Monde – que foi e continua a ser um grande jornal em termos de excelência e da relativa independência política mantida através das décadas – não adaptar-se às exigências revolucionárias do novo mercado, estará decerto destinado ou a vegetar, como ocorre com alguns veículos que teimam em permanecer, malgrado a crescente irrelevância, ou passará a integrar a extensa lista dos grandes jornais que entraram para a história.
Um novo líder para a India ?
A Índia, a maior democracia do planeta, membro do grupo dos BRIC[1], que se assinala nos últimos anos por grande crescimento econômico, parece hoje destinada a ter mais um Gandhi – a mais carismática linhagem política naquela imensa nação – dentre os políticos em condições de empolgar a chefia do executivo.
Sonia Gandhi, italiana naturalizada indiana e viúva de Rajiv Gandhi (1944-1991), é a atual presidente do Partido do Congresso, a mais importante agremiação política indiana. Apesar de sua grande popularidade, ela sempre se recusou a assumir o cargo de Primeiro Ministro, depois da morte do marido em maio de 1991, abatido por um terrorista de movimento revolucionário do Sri-Lanka. Sonia Gandhi é a mãe de Rahul Gandhi, que vem sendo preparado para assumir o posto de seus antepassados.
Como a genitora, Rahul Gandhi pelo simples fato de ser descendente dessa família que se confunde com o destino da Indía independente, desfruta de enorme popularidade, sobretudo em meio às grandes massas do povo.
Esse carisma dos Gandhi – que não são parentes do Mahatma Gandhi – é instantaneamente verificável pelas multidões superiores a cem mil pessoas que se formam apenas com a indicação de que Rahul – que desce de helicóptero – se apresta a aparecer e transmitir-lhes mensagens em geral assaz breves.
Com efeito, Rahul é bisneto de Jawaharlal Nehru (1889-1964), o primeiro chefe do gabinete da Índia independente (e presidente do Partido do Congresso), cujo mandato se estenderia de l947 a 1964.
Foi sucedido por sua filha, Indira Gandhi (1917 - 1984), Primeira Ministra de 1966 a 1984, quando foi assassinada por dois elementos sikhs de sua guarda pessoal, como vingança à ofensiva militar contra o chamado Templo de Ouro, que é o santuário da seita sikh.
Rajiv Gandhi, seu filho, a sucederia como Presidente do Partido do Congresso, e Primeiro Ministro (1984-1989). Na verdade, Rajiv acedeu ao pedido da genitora, depois da morte por acidente de seu irmão Sanjay Gandhi, em 1980.
Considera-se provável que Rahul Gandhi, bisneto, neto e filho de primeiro ministro, venha a ser convocado para assumir o lugar do atual Primeiro Ministro Manmohan Singh (1932), que é o primeiro sikh a exercer a chefia do governo. Sendo um tecnocrata, não tem força política comparável àquela de Sonia Gandhi e de seu filho Rahul. Assinale-se, no entanto, que está à testa do governo desde maio de 2004, havendo concluído exitosamente o primeiro mandato de cinco anos, e se acha agora no segundo ano do cargo de premier.
Sendo regime parlamentarista, o mandato na verdade pertence ao Partido do Congresso e se estende até 2014. Haja vista a preeminência política de Sonia Gandhi e a movimentação em torno de seu filho Rahul, avoluma-se a especulação de que antes dessa data, o presente executivo, Manmohan Singh, tenha que ceder a cadeira ao seu sucessor.
Assumir a chefia do executivo indiano pode ser o destino da família Gandhi. É, no entanto, um dúbio privilégio, eis que dos seus três antepassados, que ocuparam a chefia do governo, somente o fundador dessa dinastia política, Jawaharlal Nehru, teve morte natural.
( Fonte: International Herald Tribune )
[1] Ao lado do Brasil, Rússia e China.
domingo, 6 de junho de 2010
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