O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva só surpreende àqueles que desconhecem a sua maneira de agir quando se defronta com questões difíceis.
De início, é importante determinar o que constitui ‘questão difícil’ para Lula. É aquela em que a assessoria técnica responsável preconiza uma determinação que vai contra a medida proposta. Chamemo-la de alcance popular, demagógico ou eleitoreiro, os efeitos do fator em causa não terão alterado o próprio caráter prejudicial.
Embora o cenário possa variar – e.g., pode ser econômico ou ambiental – a evolução da postura do personagem de quem se esperam as melhores decisões para a sociedade em geral tem mostrado em diversos episódios uma comovente coerência.
Em que se explicita essa admirável coerência ? Consiste sobretudo em esperta sequência de passos que, a despeito de não determinarem o desfecho, supostamente manifestam a atitude preclara, sensata e de estadista de ‘Nosso Guia’.
Tenhamos presente o demagógico e eleitoreiro reajuste de 7,7% para 8,4 milhões de aposentados e pensionistas do INSS que ganham acima de um salário mínimo, o que corresponderia a 6% do eleitorado. Concedido por um Congresso às vesperas dos comícios de outubro, a medida entra naquele cesto de irresponsáveis ‘bondades’ que assinalam tristemente os anos eleitorais.
Qual é o figurino de Lula para decidir tais questões ? Primeiro, ouve os responsáveis técnicos e políticos na área em apreço, no caso os ministros da Fazenda e do Planejamento. Como o primeiro mandatário já deveria sabê-lo, tanto Mantega quanto Bernardo se expressaram contra o aumento, não só por não existirem fundos orçamentários para prover a tal disposição, senão e sobretudo pelo efeito cumulativo sobre o já preocupante situação do deficit da Previdência.
Era então a hora de luzir o Lula estadista, aquela personalidade responsável, que zela pelas finanças pátrias, e que não se abala em tomar determinações impopulares, desde que bem fundadas.
Nesse sentido, com a necessária divulgação, mandou dizer que vetaria os 7,7%, e que de modo algum seria influenciado pela eleição. Valendo-se da imprensa, deu sequência à vulgarização continuada desta persona de Lula, o estadista sem medo, fazendo circular rumores de que até a sexta-feira passada, dia onze de junho, continuava ‘firmemente a pensar em vetar’ a cláusula em tela.
Eis que senão quando – no que se mantém o roteiro secreto das árduas decisões de Lula – intervêm as lideranças do Congresso para ponderar ao grande Chefe que se ele levar avante a difícil determinação, existe grande probabilidade de que tal veto seja derrubado, e, o que seria ainda mais terrível, Câmara e Senado poderiam ainda elevá-lo.
Antes que suceda a metanoia[1] presidencial, um parêntesis cabe: caberia perguntar a que servem tais lideranças – que o Presidente Jânio Quadros, em tempos idos, apostrofara de ‘líderes de trampa’ - se não é para aparecer diante da imprensa e choramingar acerca da impossibilidade de controlar os próprios liderados ?
Contudo, não retardemos mais dessa estória o fim – se não peca pela originalidade, semelha pelo menos uma cartilha bem apreendida por ‘Nosso Guia’. Surpresa ! Tangido pelas circunstâncias – e para não prejudicar a candidatura de sua pupila, aquela a quem comparou a Nelson Mandela, Lula se resigna a assinar o deletério aumento para os aposentados.
Como compensação, manda a justiça recordar, ele se animou a vetar o famigerado fator previdenciário. A campanha contra tal fator é um dos carros-chefes do partido do ínclito Roberto Jefferson que, apesar de cassado, foi escolhido como presidente do P.T.B. Melhor não falar dos desastrosos efeitos em cascata da eventual queda do fator previdenciário, com a previsível enxurrada na justiça de ações reivindicatórias.
Mas isso é uma outra estória, que esperaria não ter de escrever.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
Rodapé da Copa
O Globo resumiu em sua manchete a reação do povo brasileiro diante da performance da seleção de Dunga: Tanto segredo para isso ? O caráter burocrático da tática do time brasileiro, com o exagero dos passes laterais e da penosa lentidão, que tornava previsíveis quase todos os lances, o caráter chamativo mas inútil das pedaladas de Robinho infundiram coragem na a princípio atemorizada pobre seleção da Coreia do Norte. Se para vencer a última equipe do ranking mundial da Fifa custa tanto sacrifício, o que serão os próximos matchs ? Armemo-nos de confiança, ó torcedores brasileiros, porque a jornada do Hexa ainda não está traçada, e será certamente muito dífícil. Esperemos que o roteiro final nos conduza ao exemplo de Filipão.
[1] Conversão.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
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