sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Baleia e o Japão

Parece difícil acreditar mas o jornal britânico Sunday Times documentou através de gravações até onde vai o empenho do Japão em garantir a liberação da pesca da baleia.
Desde muito havia indícios quanto ao oferecimento de “incentivos” japoneses a delegados de países pobres do Terceiro Mundo no sentido de ‘orientá-los’ em votações determinantes durante as reuniões anuais da Comissão Internacional da Baleia (CIB).
Desta feita, no entanto, os repórteres do Sunday Times foram mais cuidadosos na coleta de dados incriminatórios.
Fingindo-se de representantes de milionário suiço, lobista contrário à caça de baleias, contactaram diplomatas de países africanos, caribenhos e do Pacífico. Com vistas à próxima reunião anual marcada para Agadir, no Marrocos, a iniciar-se na segunda feira, dia 21 de junho, ofereceram dinheiro em troca de mudança de posição – ao invés de aliados dos japoneses, votariam com os países conservacionistas.
Sem saber que estavam sendo gravados, negociadores como Ibrahima Sory Sylla, da Guiné, contaram que o Japão paga viagens, hospedagens e diárias para eles.
Por outro lado, Geoffrey Nanyaro, representante da Tanzânia na CIB igualmente declarou que delegados também ganham viagens ao Japão com todas as despesas pagas. Chegam ao ponto de perguntar: Você vai querer massagem de graça ? Não está sozinho ? Não quer relaxar ?
Diante das documentadas acusações – de que os japoneses pagavam de passagens aéreas a prostitutas em troca do voto – o Ministro do Ambiente da Austrália, Peter Garrett, pediu uma ‘reforma importante’da CIB, que tem 88 países membros, entre os quais promotores da caça às baleias, como Japão, Islândia e Noruega, bem como a maioria de nações, entre as quais o Brasil, que defendem medidas em prol da preservação das espécies desse grande mamífero marinho.
Posto que esteja documentada a desfaçatez e o procedimento antiético nipônico, nada existe no regulamento da CIB que torne ilegal essa peculiar ‘ajuda’ do Japão para engordar a bancada favorável as suas propostas.
Desde 1986 acha-se em vigor moratória que determina a suspensão parcial da pesca industrial às baleias. Essa moratória, se permitiu que a baleia não desapareça dos mares, não é completa, pois se permite uma suposta pesca com alegado objetivo de pesquisa, com o abate de trezentas baleias por ano.
Esta suposta pesca científica – como já foi demonstrado neste blog – não passa de um cínico expediente do Japão de arranjar carne de baleia para os ávidos consumidores nipônicos.
No que concerne a tais acusações – cuja seriedade e veracidade se afiguram dificilmente questionáveis – o governo japonês as nega categoricamente. O autismo da posição do governo mais se evidencia no total desprezo por qualquer proteção a essa espécie em perigo de extinção. A tal respeito, o ministro da Pesca, Masahiko Yamada, ameaça deixar a CIB se a conferência de Agadir não levantar a moratória à caça.
Nunca um país ousou mostrar a própria sanha de trucidar uma espécie ameaçada de forma tão ignóbil. Não só pelas baleias, mas também pelo auto-respeito do homo sapiens, façamos sinceros votos que, na semana vindoura, em Agadir, haja maioria de delegados honestos e responsáveis.

Rodapé da Copa.

Não sei como a Copa do Mundo da África do Sul passará para a história desportiva. Em termos de árbitros, o panorama não se afigura dos mais animadores. No jogo entre França e México, que terminou 2x0 em favor dos aztecas, a Fifa escolheu um juiz inexperiente em termos internacionais, Khalil al Ghamdi, de nacionalidade saudita. A sua relativa ignorância dos artifícios de muitos jogadores, permitiu que visse um penalty contra a França que não existiu, como o demonstrou a ótima cobertura da televisão. O beque francês Abidal desarmou Barrera, atacante mexicano na área com um carrinho que visava exclusivamente a bola. O que fez o atleta do México? Uma interpretação digna do César [1]na França e do prêmio Molière no Brasil – um mergulho para a frente, para fazer crer ao árbitro que tinha sido derrubado pelo adversário francês. Para azar dos gauleses, o juiz engoliu como veraz o que deveria na verdade ser punido com cartão amarelo, como simulação. Como na véspera, no jogo entre Uruguai e África do Sul, o gol decisivo foi virtualmente marcado pelo juiz !

( Fontes: Folha de S. Paulo e O Globo )

[1] O equivalente do Oscar para o cinema francês.

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