O Produto Interno Brasileiro (PIB) cresceu 9% no primeiro trimestre de 2010, em comparação com o mesmo período do ano passado, quando se atravessava o período mais difícil da crise financeira internacional. Já em relação ao último trimestre de 2009, a expansão foi de 2,7%., o que implicaria em taxa anualizada de 11,25%.
Dentre os setores que mais contribuiram para tal progressão estão o investimento, com alta de 7,9% em face do último trimestre de 2009 e de 26% quanto ao início de 2009. A formação bruta de capital fixo – que mostra os investimentos da economia e a construç ão civil, foi alavancada pela produção nacional e a importação de máquinas e equipamentos. Nesse contexto, a construção civil cresceu 14,9% frente ao primeiro trimestre de 2009, representando a maior expansão em catorze anos.
Usufruindo dos benefícios fiscais – as chamadas desonerações que estimularam a compra de veículos e de eletro-domésticos – e com o mercado de trabalho aquecido, a demanda interna teve uma inflexão bastante pronunciada para a alta, com elevação correspondente a 12%. Boa parte desse consumo – gastos de famílias, governo e investimentos – foi suprido pelas importações.
Em consequência, as importações registraram um incremento bastante acentuado, da ordem de 39,5%. Esta alça sinaliza desequilíbrio externo. Se tal tendência se mantiver, será difícil senão impossível apresentar um saldo substancial na balança comercial (exportações menos importações). Se o dólar americano continuar relativamente barato em relação ao real – em torno do patamar de R$1,80 por um US$ 1.00 – persistirá a dupla pressão tanto nesta balança (com o encarecimento relativo de nossas exportações e o barateamento das importações), quanto na balança de transações correntes (v.g., com o aumento dos gastos em viagens para o exterior, e a menor atração para o turismo procedente de Europa e Estados Unidos, devida à apreciação relativa do real).
Em termos de variação do PIB, foi Cingapura, a cidade-estado do Sudeste asiático, que marcou o melhor total para o primeiro trimestre de 2010, com 15,5%;
a segunda foi Taiwan, com 13,3%; a terceira, a Tailândia, com 12%. Seguem, em quarto a China, com 11,9%; em quinto, a Malásia, com 10,1%; e por fim o Brasil em sexto, com 9%. Dentre as nossas rivais mais proximas, estão o Peru (8,8%), a Índia (8,6%), Coréia do Sul (7,8%), Rússia (4,5%), e México (4,3%). Nessa classificação, os últimos registraram crescimentos negativos: Espanha (-1,3%); Grécia (-2,3%) e a Venezuela, com menos 5,8% (em que decerto a crise financeira e o desgoverno de Chávez atuam em conjunto).
Ainda no quadro das classificações, o FMI projeta para 2010, em bilhões de US$, as seguintes posições: 1) Estados Unidos, com $ 14.799; 2) a China (que ultrapassaria o Japão estagnado), com $5,364; 3) o Japão, com $ 5.272; 4) a Alemanha, com $ 3.332; 5) França, com $ 2.668; 6) Reino Unido, com $ 2.222; 7) Itália, com $2.121;8) Brasil, com $ 1.910; 9) Canadá, com $ 1.556; e 10) Rússia, com $ 1.507 milhões.
Dentre os pontos negativos desse quadro relativamente favorável para a economia brasileira, devem ser assinalados de início a baixa poupança em relação ao PIB. Enquanto aqui, ela está em 15,8%, na República Popular da China a taxa chega ao incrível patamar de 45%. Enquanto essa primeira diferença se deve a fatores culturais e sociais (notadamente falta de previdência estatal), já no capítulo investimentos – em que a diferença é também bastante dilatada – os chineses têm taxa de 45% e os brasileiros, de 18%.
A nossa baixa poupança doméstica gera, entre outros os seguintes problemas: se na China, mesmo com a larga poupança, o crescimento superior a 10% gera inflação, essa tendência aumenta exponencialmente para nos em um crescimento de dois dígitos, dada a baixa proporção da poupança interna.
Por outro lado, com a poupança nacional escassa, o Brasil se vê forçado a recorrer a recursos externos, para financiar os próprios investimentos, o que tende a aumentar o endividamento externo, e as consequentes pressões acrescidas sobre a balança de transações correntes.
Em meio à euforia dos índices de crescimento, precisamos ter presente, como sublinhou Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que crescemos sobre uma base muito baixa, enquanto os chineses vêm crescendo há anos sobre 10% de expansão.
Em outras palavras, o crescimento deste trimestre, já superada de muito a crise financeira (a chamada ‘marolinha’ de Lula), se cotejado com o crescimento do primeiro trimestre de 2009, no próprio âmago das consequências da retração da economia mundial (e por derivação, da brasileira), tende a deformar o alcance da real elevação, dado o caráter diminuto da referência utilizada.
Essa lente de aumento enseja totais que não se afiguram suscetíveis à continuada sustentação do crescimento, em tal diapasão, nos trimestres subsequentes.
( Fonte: O Globo )
quarta-feira, 9 de junho de 2010
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