quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Irã e a Diplomacia de Lula

Muitos procuram entender o porquê da aventura diplomática de Lula com o Irã dos ayatollahs. Por conseguinte, a motivação do intento do chamado acordo tripartite é pergunta que paira em muitas mentes e governos.
A razão de tal perplexidade se fundamenta na verificação de que Brasil e Irã são países que sempre se pautaram por relações amistosas porém distantes. Mesmo antes de o Brasil integrar o bloco das quatro principais nações emergentes (os BRICs), os seus espaços geopolíticos de atuação já eram diversos do iraniano. Por outro lado, a despeito de grandes propósitos em décadas passadas, tampouco cresceu o intercâmbio comercial brasilo-iraniano, devido à circunstância de que no principal ítem de exportação de Teerã – o petróleo – logramos alcançar a auto-suficiência.
A separação, marcada por tais aspectos econômicos e comerciais, também se mostra acentuada nos respectivos regimes políticos e na ideologia. O Irã, sob o Ayatollah Ali Khamenei, dito o Supremo Líder, e o seu Presidente, Mahmoud Ahmadinejad, é uma ditadura clerical, em que o exército constitui a força emergente, crescendo em poder tanto político, quanto econômico.
O suposto resultado do pleito de doze de junho de 2009, afrontou a vontade popular iraniana. A pronta proclamação pelo Líder Supremo de uma reeleição fraudulenta sequer se preocupou com aparências, ao atropelar as veleidades democráticas do corpo eleitoral.
Apesar de que o processo das passadas eleições não tenha sido plenamente democrático – eis que os candidatos tinham de ser pré-aprovados pelo estamento clerical dominante – houve comícios anteriores em que a preferência do povo foi respeitada, como na eleição do Presidente Mohammad Khatami. Tais concessões democráticas foram ignoradas nos presentes comícios, com a recondução de Ahmadinejad à presidência, como mostraram ao mundo as manifestações em prol da democracia, de que participaram os candidatos esbulhados (Mir Hussein Moussavi e Mehdi Karroubi).
O apressado reconhecimento dado pela administração de Lula à ‘vitória’ de Mahmoud Ahmadinejad já trazia no seu bojo os fatores que continuam a caracterizar a relação: a superficialidade no juízo e o artificialismo ideológico.
Especulou-se, outrossim, que a participação do Presidente Lula no acordo tripartite se deveu à mosca azul do Prêmio Nobel da Paz. Tal consagração, malgrado o caráter discutível dos critérios que por vezes a determinam, teria probabilidade tendente a zero, dado o apreço que Teerã tem evidenciado por sua firma em atos internacionais.
É muito mais provável que, por sopro de assessor diplomático, Lula tenha imaginado que tal empresa valesse a pena, sob a chancela de confusa afirmação ideológica terceiro-mundista.
Para essa insana marcha, o Presidente Lula acreditou poder ignorar a posição de Washington e de outras nações integrantes dos BRICs, como se a firma do acordo tripartite vibrasse golpe letal na articulação das sanções contra Teerã.
Na verdade, além do desgaste diplomático – que é o efeito colateral do amadorismo açodado – que mais colheu o exultante Lula senão uma sensação de vazio e de irrelevância ?
Para quem não é do mister – e dá ouvidos a quem tampouco o é - a paga de tais tolas empreitadas pode ser amarga. Guindado aos seus quinze minutos de notoriedade por gesto amável de um novel Presidente, ora o ressaibo tende a ser desagradável, na lenta e gradual conscientização do próprio erro, e do consequente retorno aos tempos da planície que pensava para sempre superados.

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