Em sua recente visita à ilha de Chipre – a primeira feita por um Sumo Pontífice - o Papa Bento XVI se referiu não só à situação da ilha, mas também não deixou de ocupar-se das dificuldades enfrentadas pela comunidade cristã no Oriente Médio.
Na véspera da jornada a Chipre, de que o Santo Padre enfatizou o caráter antes religioso do que politico, houve acontecimento que ensombrecera a missão pontífícia. O bispo Luigi Padovese, cuja sede apostólica se acha em Iskenderum, cidade turca no mar Egeu, fora assassinado por seu chofer. Segundo assinalou o advogado de Murat Alun, a ação criminosa não teve motivação religiosa, devendo-se a problemas mentais.
Ao ensejo da viagem pastoral, o Papa ouviu homilia do Arcebispo ortodoxo Chrysostomos, em que este verberou a atuação da Turquia. Como se sabe, por causa de tentativa de golpe realizada por cipriotas gregos, em 1974, a Turquia invadiu a parte norte da ilha, lá constituindo a República Cipriota Turca que até hoje se mantém, com a presença de considerável contingente militar turco.
O arcebispo ortodoxo em alusão ao papel de Âncara declarou: “Sob os olhos de humanidade supostamente civilizada, continua a conduzir o seu obscuro plano que inclui a anexação das terras atualmente sob ocupação militar e, em seguida, a conquista de toda a ilha de Chipre.”
Chrysostomos acusou a Turquia de levar avante “um plano de destruição nacional” : “expulsou os cristãos ortodoxos de Chipre de seus lares ancestrais, enquanto povoou a Chipre do Norte com centenas de milhares de colonos da Anatólia, alterando radicalmente o caráter demográfico da população de Chipre.”
Embora o objetivo precípuo da visita papal a Chipre fosse a divulgação de documento de trabalho para um Sínodo de Bispos Católicos do Oriente Médio, a realizar-se no Vaticano, em outubro próximo, as palavras do Arcebispo Chrysostomos chamaram a atenção para a permanência do surdo conflito entre gregos cipriotas e turcos. A eleição, em princípios deste ano, de Dervis Eroglu, para presidente da República Turca Cipriota, não contribuíu de resto para apaziguar os ânimos, diante da oposição de Eroglu ao esforço internacional com vistas à eventual reunificação da ilha.
A situação dos cristãos.
A presença cristã no Oriente Médio, em terra tão simbólica para o surgimento do cristianismo, tem acusado, em tempos recentes, regressão preocupante.Em poucas décadas, o contingente cristão na região passou de 20% a menos de 5% da população.
Tal diminuição dos cristãos se deveria, consoante o documento, às tensões da região, à crescente politização do Islã, e ao conflito entre israelenses e palestinos.
Em sua cuidada linguagem, dada as idiossincrasias prevalentes, e o baixo quociente de tolerância religiosa, o documento papel não deixa, sem embargo, de evocar alguns dos problemas existentes. “Hoje a emigração se assinala na área por causa do conflito israelo-palestino, e a resultante instabilidade que se manifesta nessa área.”
Menciona igualmente “a ameaçadora situação social no Iraque e a instabilidade política no Líbano ainda mais intensificam o fenômeno”.
Para o documento, as relações entre cristãos e muçulmanos são muitas vezes “difíceis, porque os muçulmanos não distinguem entre religião e política, o que os leva a relegar os cristãos a uma posição considerada como de não-cidadania, não obstante o fato de que os cristãos eram cidadãos do país respectivo muito antes do surgimento do Islã”.
A despeito das perspectivas sombrias levantadas pelas diversas tensões regionais e os problemas políticos conexos, e a consequente diminuição das comunidades cristãs, que se vêem na contingência de emigrar, o documento busca dar uma nota de esperança: “A História nos transformou (no Oriente Médio) em um pequeno rebanho. Todavia, através do que logramos realizar, podemos ainda nos tornar uma presença de grande valor.”
O assassínio do bispo Luigi Padovese, de sessenta e dois anos, que era o presidente da conferência episcopal católica na Turquia, não deverá, no entanto, turvar ainda mais as relações do Vaticano com Âncara. Sublinhada a índole “pessoal” do crime, ele não será incluído na pauta daqueles atribuídos a intolerância seja ela política ou religiosa.
De qualquer forma, o retrato dos cristãos no Oriente Médio – hoje uma sombra das grandes comunidades existentes no passado – não é de molde a estimular as remanescentes minorias em seus planos de estada nas terras de seus antepassados.
( Fonte: International Herald Tribune )
terça-feira, 8 de junho de 2010
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