terça-feira, 15 de junho de 2010

A Candidata Verde

Não, leitor, não estou me referindo à Senadora Marina Silva, Candidata do Partido Verde e do Movimento Ambientalista. Posto que o título seja suscetível de induzir em temporário erro, também nesse caso o ‘verde’ entra no cabeçalho como característica da candidata.
As coisas tenderão a se tornarem menos ambíguas quando se assinalar que o adjetivo é empregado nos sentidos ‘que ainda não amadureceu’ e, mais precisamente, na acepção metafórica, dada no verbete do Dicionário Houaiss ‘a que falta vivência, experiência’.
Entende-se que me reporto à candidata do PT à presidência da república, a Senhora Dilma Rousseff.
Com efeito, a antiga Ministra-Chefe da Casa Civil, que assumira o cargo no Palácio do Planalto em função de acidente na carreira política de José Dirceu, colhido, como se sabe, pelo escândalo do mensalão, cassado em consequência, como vítima sacrificial, pela Câmara dos Deputados.
Recentemente Dilma desincompatibilizou-se desse importante cargo, que, na presidência Lula, equivale à virtual posição de Primeiro Ministro. O próprio José Dirceu, ao despedir-se das responsabilidades planaltinas, aludira, talvez não exatamente em lapso, a esse período como a “meu governo”.
Não há negar, portanto, a relevância de tais funções e a experiência burocrático-administrativa havida pela Ministra-Chefe Dilma Rousseff. Não lhe falta autoridade, como, de resto, o sentiram diversos personagens da República.
Desejo referir-me a um outro gênero de falta de experiência. Jamais tendo sido eleita para qualquer cargo, seja nas esferas municipal, estadual e federal, compreende-se que se mostre insegura no diálogo e nas reuniões políticas, pelo seu desconhecimento do público partidário e das idiossincrasias da política, máxime nos níveis locais e estaduais.
Nesse sentido, e com a inquieta assessoria do partido oficialista, também conhecido como dos Trabalhadores, a nobre candidata tem fugido de entrevistas públicas como antes o diabo da cruz.
Dessarte, pretextando uma súbita viagem à Europa – quatro paises em cinco dias, em que logra encontros de photo-opportunity com Sarkozy amanhã (hoje, assiste ela em Paris, nós no Brasil, submetidos ao verbo do inamovível Galvão Bueno, mas privados dos judiciosos comentários de Falcão, ao jogo da seleção contra a Coreia do Norte); no dia dezessete, em Bruxelas, com José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, no dia dezoito, com José Luis Zapatero, Primeiro Ministro da Espanha e no dia dezenove, com José Socrates, Primeiro Ministro de Portugal. Ao cabo dessa gincana política, volta exausta ao Brasil no dia vinte de junho corrente.
A tournée europeia veio muito a calhar para a candidata. Teve que cancelar a sua participação na ‘Sabatina da Folha’, entrevista pública, marcada com grande antecedência pela Folha de São Paulo. Pelo realce que deu ao descumprimento do compromisso, o prestigioso jornal parece que não apreciou muito seja a súbita ausência, seja os motivos aduzidos pela candidata do Presidente Lula.
Felizmente para a Folha, tanto o candidato do PSDB, o ex-governador José Serra, quanto a do Partido Verde, a Senadora Marina Silva permaneceram na raia, dispostos a responder às soezes e traiçoeiras questões que costumam colocar os jornalistas.
Não é a primeira vez que a candidata do PT opta por não comparecer a entrevistas e eventos públicos de que os quesitos não são conhecidos de antemão. Pelo visto, a antiga militante do P.D.T., hoje membro de carteirinha do P.T. prefere aquelas ‘entrevistas’ a que se possa responder pela internet, como a concedida às páginas amarelas da Revista Veja.
No entanto, se a candidata ungida pelo Presidente Lula deseja ser a escolhida pelo Povo brasileiro é difícil entender por qual razão queira evitar os debates e as entrevistas públicas. Se há um terreno em que o político deva lançar-se com desenvoltura é a área consagrada aos debates e às livres perguntas (e não as dirigidas e sopesadas por assessores, apparatchiks e aspones).
Por qual processo poderá o Povo brasileiro melhor conhecer e avaliar a real capacidade de cada candidato, senão através do livre embate das ideias ?

( Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo )

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