sábado, 5 de junho de 2010

De Novo a Guerra dos Dossiês ?

A campanha presidencial entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) parece tomar uma direção que, se não é original, continua a ser reprovável.
Trata-se do antigo vezo da elaboração de ‘dossiês’. Em 2006, o chamado ‘escândalo dos aloprados’ ajudou a abater a candidatura de Aloizio Mercadante ao governo paulista. Segundo Serra, houve igualmente a montagem de um grupo petista em 2002 com o mesmo escopo.
Por que o pré-candidato do PSDB volta agora a bater nesta tecla ? O jornalista Luiz Lanzetta, responsável pela área de imprensa da pré-campanha de Dilma à Presidência, teria montado um ‘grupo de inteligência’ para atuar em tal sentido. O que irritou Serra foi a circunstância de que a sua filha Verônica foi objeto de investigação desse grupo.
A esse propósito, o PT de São Paulo teria alertado o Diretório Nacional do partido sobre a possibilidade de o grupo voltar a trilhar o caminho da montagem de alegados dossiês sobre o pré-candidato do PSDB.
Provavelmente, por causa desse alerta os ‘documentos’ não apareceram, enquanto o Diretório do PT tratou de sufocar atividades dirigidas para esse gênero de denúncia.
A evocação do eventual preparo de mais um dossiê levou José Serra a afirmar: “A principal responsabilidade desse dossiê é da candidata Dilma. Não tenho dúvidas.”
Terão os partidários de Serra tido acesso a indicações mais concretas acerca da eventual montagem de mais um dossiê, que incriminaria a filha do pré-candidato do PSDB ? Além do calor da campanha, o que terá induzido José Serra a dizer que não tem dúvidas sobre a responsabilidade de Dilma Rousseff ?
Não é decerto a prmeira vez que Dilma Rousseff tem sido acusada de responsabilidade quanto a esse tipo de ‘dossiê’. Nesse contexto, o presidente do PTB, Roberto Jefferson declara: “O dossiê de dona Ruth estava no colo de Dilma. Ela não tem coração.”
Entre a retorsão (reação em nível similar) e a represália (reação que extrapola o nivel anterior), a direção do PT optou pela segunda, entrando pela senda da judicialização da campanha.
Segundo anúncio do Partido dos Trabalhadores, será providenciada interpelação na Justiça para que o pré-candidato do PSDB, José Serra, confirme a declaração que atribuíu à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, responsabilidade pela confecção de um dossiê contra os tucanos.
Consoante adiantou o presidente do Partido dos Trabalhadores, José Eduardo Dutra, Serra será processado por danos morais, caso confirme haver feito a dita asserção. E acrescentou José Eduardo Cardozo, secretário-geral do PT: “ Um candidato à presidência não pode ficar fazendo acusações ao léu.”
Quanto a isso, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, asseverou que Dilma deveria explicar “quem fez o dossiê”. E aduziu: “querem transformar o Serra, vítima de uma politica nefasta, em réu.”
A evolução do tema em apreço pode contribuir para mostrar que o recurso ao fabrico de dossiês tende a desviar e a baixar o nível da campanha. A preferência por esse tipo de acusação pode ser interpretada como menosprezo à capacidade do corpo eleitoral em decidir pelo voto qual é o candidato que apresenta o melhor programa e semelha ter mais condições de levar a termo as respectivas propostas.
Nesse contexto, a pré-candidata Dilma declarou ontem: “O presidente do PT tomou a decisão cabível (i.e., promover a interpelação judicial). Se tais documentos existem, não foram produzidos por nós. A verdade aparecerá. Estou sendo claramente injustiçada.”
Por sua vez, o pré-candidato do PSDB, José Serra acusou o PT de factóides para desviar a atenção da imprensa quanto a um suposto dossiê que teria sido preparado contra ele pelo partido.
Segundo José Serra o factóide diz respeito à decisão petista de interpelá-lo judicialmente: “Eles é que têm de explicar o que está acontecendo, não os outros, que são vítimas. O PT tenta criar factóide para enganar a imprensa e tem tradição nessa matéria (de dossiê).“ “
Essa judicialização da campanha, como se transferi-la para os tribunais, aproveitasse a alguém, faz lembrar outros recursos, com que no passado se buscou prejudicar a candidatos à Presidência na República. O famoso caso das cartas, na República Velha, em que Artur Bernardes teria apodado de ‘sargentão’ ao ex-presidente, Marechal Hermes da Fonseca, se insere nessa melancólica veia. As cartas eram falsas e o candidato mineiro acabou sendo eleito...

( Fontes: Folha de S. Paulo e O Globo )

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