segunda-feira, 7 de junho de 2010

Notas não-Diplomáticas

Ilustríssimo Senhor Roberto Dinamite
Presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama

Gostaria de não ter de escrever-lhe esta carta. Como velho torcedor do Vasco, o senhor, infelizmente, não me dá outra opção.
Como pensa que a segunda maior torcida do Rio de Janeiro está vendo a lamentável campanha vascaína neste início do campeonato brasileiro ? Em sete partidas, quatro derrotas, dois empates e uma vitória ! Não é por acaso, portanto, que o Vasco se acha em penúltimo lugar, na companhia dos três Atléticos, na chamada zona de retrocesso. Se descrevêssemos apenas os traços essenciais da trajetória vascaína nessa primeira parte do campeonato brasileiro, sem designar o nome do clube, alguém menos avisado imaginaria que se trataria de um time pequeno, que por alguma sorte imprevista acabara na primeira divisão.
Na penúltima derrota, mais uma vez ocorrida em São Januário, a torcida já começou a saudar-lhe com o refrão ão, ão, ão – Segunda Divisão !
Mas vamos por partes.
Não tenha qualquer dúvida, senhor Presidente, que o que está acontecendo com o Vasco, é de exclusiva responsabilidade sua. Depois da queda para a Segunda Divisão, quando a torcida, em faixa no Maracanã, soube assinalar a responsabilidade de Eurico Miranda. Com o técnico Dorival e a equipe formada foi possível vencer o desafio, coroado inclusive com o campeonato inédito na Segundona.
Na preparação para o reingresso do Vasco na Primeira Divisão, o senhor, lamento dizê-lo, pensou pequeno. Não fez maiores esforços para reter o técnico Dorival – que soubera forjar time capaz de assumir a dianteira da competição e mantê-la para gáudio da torcida. Eis a primeira pergunta: por que o senhor não tentou manter Dorival, negociar com ele, dada a sua relevância para o time ? (É uma estranha ironia que ele tenha assumido a brilhante equipe do Santos, que ontem nos aplicou uma merecida goleada, não acha ?)
Depois, na montagem da equipe para enfrentar a primeira divisão, o senhor continuou a pensar pequeno. Este time tem muito pouco a ver com o grande Vasco de que o senhor foi um craque. E que, em passado não tão remoto, chegou a constituir até a base para a seleção brasileira !
Hoje em dia não duvido que os jogadores se empenhem, mas o que lhes falta é o trato com a bola, senhor presidente ! É literalmente um timinho, de jogadores que, com pouquíssimas exceções (Carlos Alberto, Philippe Coutinho, este ainda em formação) jamais poderão aspirar serem escalados em grandes equipes.
Pensando pequeno, contratando jogadores veteranos ou de terceiro ou quarto escalão, o senhor não engana, além de si próprio, a mais ninguém. O técnico pode mudar, mas como o próprio Muricy – que vai muito bem obrigado – orça em 20% o que o técnico pode influenciar em matéria de atuação de uma equipe...
O senhor não deveria se acomodar na montagem de um timinho, cuja única ambição seria se esconder nos lugares intermediários da classificação, para tentar escapar do retrocesso.
Presidente, a única ideia de renovação do Vasco que o senhor teve foi esta camisa de mau gosto, que não tem a nada a ver com a tradição gloriosa de nossa equipe. Melhor enterrá-la nessa campanha vergonhosa e confiná-la em algum museu, como memento desses tempos díficeis e atribulados.
Senhor Presidente,
não escapará ao Senhor que, se o Vasco for parar na Segunda Divisão, além das consequências desastrosas do retrocesso (a começar pelo definhamento da torcida, porque os jovens e os muito jovens não gostam de torcer por perdedores), uma coisa o senhor deverá ter muito presente: não haverá mais ninguém com quem possa partilhar a dúbia honra desta ‘realização’. Eurico Miranda pode ser uma má lembrança, mas agora o senhor terá de assumir a plena e total responsabilidade pelo malogro.
E, no entanto, se o senhor deixar de pensar pequeno, nada em verdade pode se considerar perdido. Ainda estamos em pleno começo do campeonato, ainda na primeira metade do primeiro turno.
O senhor tem que partir para reformular o Vasco, reconstituir-lhe a equipe com jogadores dignos desse nome. O Vasco precisa de craques e não de pernas de pau, ou de jogadores veteranos, sem mais condições de atuarem no campeonato brasileiro.
Para tanto, o importante é deixar de pensar pequeno. O Vasco sempre contou com o apoio da torcida, e nesta torcida, de muitos companheiros com condições economico-financeiras suscetíveis de auxiliar nessa empresa.
Em termos de montante de dívida, todos os grandes clubes estão em situação similar. E, no entanto, o único que parece sofrer mais por essa condição é o Vasco.
Quanto mais o senhor pensar pequeno, menor se tornará o universo de nosso clube, com menos compromissos, menos oportunidades de renda nos torneios que só estão abertos para os times de primeiro escalão. Pensar pequeno, portanto, é uma senda perigosa que nos poderá colocar em futuro não tão longínquo na companhia de outros campeões cariocas do passado, como o América e o São Cristóvão.
Não creio que seja isto o que o senhor deseja para o Vasco da Gama. Mas o terá certamente que afrontar, se continuar na trilha que escolheu.
Ainda é tempo !
Sem mais, subscrevo-me atenciosamente
,


Mauro Mendes de Azeredo

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