domingo, 22 de maio de 2016

Segurança: Olímpica Vergonha?

                              


        Os cariocas sabem muito bem o quanto a segurança no Rio de Janeiro se tem deteriorado nesses últimos tempos.
        A despeito da cercania do festival olímpico, os assaltos e as mortes, que o carioca enfrenta no dia-a-dia do Rio de Janeiro, ao invés de diminuirem, continuam  aumentando.
        Lembro-me bem de reunião de condomínio em prédio de Ipanema, localizado em artéria movimentada, mas mesmo assim os próprios moradores temiam pela segurança, se entrassem na garagem depois da meia-noite.
        Como um dos condôminos de ingresso mais recente, perguntasse aos demais: "da segurança, quem se ocupa?", um dos mais antigos, após trocar olhares com os demais, cognoscenti[1] como ele, respondeu: "meu amigo, nesta cidade quem cuida da segurança é Deus!"
         Com a frase, que me ficou na memória, e a reação desanimada dos demais, se expressava a verdade permanente da enorme insegurança que prevalece no Rio de Janeiro.
         O que me surpreende é que a Olimpíada se aproxima, e os assaltos e os assassínios ao invés de diminuirem, vão crescendo!
          A cara-de-pau deveria ser o símbolo desta mui leal e heróica cidade, pois em Copenhague, quando os governos de Lula (federal), Sérgio Cabral (estadual) e Eduardo Paes (municipal) prometeram o imaginável e o inimaginável para arrebatar a sede olímpica para o Rio de Janeiro, não foram decerto econômicos em promessas.
          Nesse quadro, há um aspecto em que a simpatia do brasileiro (e a habilidade em preparar filmetes de propaganda e fazer todo tipo de promessa) tem crescido bastante. O diabo, no entanto, é que as autoridades prometem tudo (e o céu também), e quando os países partícipes vem cobrar,  se chocam muita vez com cínicas negativas.
           O exemplo da promessa de despoluição da baía de Guanabara vem logo à lembrança, pela maneira desavergonhada com que os anfitriões reagiram, quando confrontados com a situação da baía (em que nada foi feito em termos de combate à poluição), já constitui um exemplo de mau-caratismo e inconfiabilidade que não deixará de perseguir-nos no futuro.
           Este blog já publicou reclamação de nadadora americana, que está preocupada com os eventos a céu aberto, em Copacabana, recordando-se de o que lhe ocorreu em prova no Rio Nilo, quando desmaiou pelas mefíticas condições daquele célebre curso d'água.
           Perdemos uma boa ocasião para sanear a baía de Guanabara, e nem sequer consideramos a eventualidade de limpar pelo menos a lagoa Rodrigo de Freitas, conhecida pelos dejetos que são nela lançados por saídas de esgoto ilegais.  O que mais surpreende não é nem a grande baía, que irresponsavelmente prometera para não cumprir a autoridade de então, mas essa Lagoa - onde serão as disputas de remo - que pelo tamanho - e com um pouquinho de boa vontade e caráter - poderia ser saneada adequadamente.
           Mas as contrariedades e a falta de mínimo de atenção e de condições para salvaguardar os atletas,  tampouco se vê nos dias que precedem o festival olímpico. Com chamada de primeira página "Rio 2016 - Bandidos assaltam atletas espanhóis" o Globo já nos prepara para a série de vexames que nos aguardam.
           "Dois atletas olímpicos da Espanha e o treinador deles foram assaltados, na manhã de anteontem, em Santa Teresa. (...) Cinco bandidos armados os abordaram.
            "A Polícia Civil (em óbvio procedimento a  posteriori, pois não se vêem polícias nesta mui leal e heróica cidade) informou que os assaltantes levaram uma bolsa com dinheiro, documentos e uma máquina fotográfica."
             Eis o drama, em resumo. Segue-se a encenação: "A corporação acrescentou que um procedimento foi instaurado para apurar o assalto e que operações estão sendo feitas para identificar os autores e recuperar os pertences roubados."
              Quantos estórias como esta teremos de, com crescente vergonha, registrar?

( Fonte:  O  Globo )   



[1] conhecedor (do italiano)

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