quinta-feira, 19 de maio de 2016

A Cega Ambição de Sanders

                           

         Apesar de inferiorizado em votos nas primárias - ele teve até agora quase dez milhões de votos contra os treze milhões de Hillary - o Senador por Vermont, ao contrário de sua adversária, que renunciara antes da Convenção em 2008, não quer saber disso.
         Transtornado pela ambição, ele quer chegar à Convenção de Filadelfia, onde pretende arrancar os superdelegados de sua adversária e de algum modo alcançar a nomination. Para tal, ele não trepidou em radicalizar ainda mais a própria linguagem. Mas por detrás dos altissonantes princípios  - "o partido encara a escolha de permanecer "dependente das milionárias contribuições de campanha e ser um partido com limitada participação e limitada energia" ou "acolher no partido gente que está preparada para lutar por uma real mudança econômica e social", não é difícil entrever o próprio interesse.
         Dessa retórica, de quem não trepida em radicalizar o partido e dividi-lo, Sanders se vê estimulado pelo próprio gerente de campanha, Jeff Weaver, que tem atacado como se foram inimigos e não companheiros sob a mesma legenda os aliados de Hillary e o próprio establishment do Partido Democrata.
         Sanders, como todo dissidente, não pensa na unidade, mas sim nos próprios interesses que confunde com aqueles do Partido Democrata.
         Por isso, ele tem ouvidos moucos para os apelos de líderes, mesmo aqueles neutros e acima da refrega. Variando de interlocutor, ele apenas repete a própria sovada retórica, com as modulações apropriadas, para sublinhar que por trás de tanta sanha e violência verbal, que não teme em dividir o Partido Democrata, se esconderia apenas um militante, sem dúvida radical, mas sobretudo interessado em abrir aos novos ventos no Partido de FDR e Lyndon Johnson.
         O que a liderança democrata teme é que Sanders, movido por interesses da própria candidatura, parta para o quanto pior melhor, instigando a dissensão entre os delegados, e buscando arrancar quantos possa dos super-delegados para o seu lado.
         Ironicamente, a direção democrata contava com a baderna na convenção do GOP. Com a vitória antecipada de Donald Trump, essa perspectiva, como os eflúvios da manhã, desapareceu de todo no lado adversário. Ela continua, no entanto, pela ambição desenfreada de Sanders, que na verdade não é um militante do Partido Democrata.
          Na política do estado de Vermont, ele é um independente, e como tal já foi derrotado por candidatas mulheres - que menosprezara nos debates - para a governança do Estado.  No Senado, por questões conveniências regimentais, abrigou-se no grupo democrata, mas é e será sempre integrante da sociedade do eu-sozinho. Por falta de opção - como associar-se ao GOP? - ele hoje integra no Senado a bancada democrata, mas isso é apenas um movimento ditado pelo estreito interesse  pessoal, sem qualquer motivação ideológica.
          Com efeito, o verdadeiro partido de Bernie Sanders é aquele do eu-sózinho, que melhor reflete os interesses pessoais, que lhe ditam a conduta. Como todo  solitário, é um oportunista, e nunca seria capaz do gesto de Hillary - que contrariou o próprio marido, o ex-Presidente Clinton - renunciando à sua candidatura em 2008, porque reconhecia em Barack Obama melhores condições de vencer o embate com o candidato republicano.
           Não se peça desprendimento e integração partidária a Bernie Sanders, porque será bater em ouvidos moucos, incapazes de entender  interesse  maior que se sobreponha à ambição individualista.
            Hillary sempre foi uma lutadora, e não se deve desencorajar pela divisiva retórica de Bernie Sanders.
             Hillary Clinton não chegou onde está por acaso. Se Sanders prefere forçar a batalha, movido apenas pelo interesse próprio que esconde sob frágeis palavras de defesa de convenientes ideais, que podem mascarar a sua desenfreada ambição para os desinformados, a candidata deve redescobrir a antiga disposição e dedicação à luta. Não é por acaso que Hillary recebeu mais de três milhões de sufrágios que o seu adversário.  Deve concentrar-se nas primárias que faltam, mostrar ao eleitorado ao que vem, e chegar enfim a Filadelfia com o número de delegados para enfrentar esse senhor que pensa mais na própria ambição do que no Partido Democrata.  E basta ver-lhe a trajetória, para determinar que, debaixo das palavras e das promessas, o que realmente a ele importa é a magna causa de Bernie Sanders.



( Fonte:  The New York Times )
   

Nenhum comentário: