quinta-feira, 12 de maio de 2016

O drama de Hillary

                                        

        Bernie Sanders tem todo o direito de concorrer à eleição presidencial. Se no plano teórico não há a menor dúvida de que o tenha, a realidade da disputa presidencial já está em outro nível, com a vitória do candidato-surpresa Donald Trump  no campo republicano.
         Com efeito, Trump tem o caminho livre para a Convenção de Cleveland, Ohio, e os problemas que enfrenta, como enunciados pelo Speaker da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, são de apresentar programa para as eleições de novembro que seja conforme às aspirações da militância republicana.
         Hillary, no entanto, se confronta com difícil situação, em que o seu concorrente, que não tem qualquer possibilidade de superá-la na contagem de delegados para a convenção de Filadelfia, na Pennsilvania, mas resolve persistir, em campanha que menos se destina a coroá-lo com a nomination, do que minar as bases e a confiança da front-runner.
         Não é quixotesca essa empresa porque é feita com o intúito de debilitar a candidata natural do partido. Ao invés de imitar a atitude de Hillary Clinton - contra a opinião de seu marido, o ex-Presidente Bill Clinton - que  às vésperas da Convenção renunciara em discurso público à sua pré-candidatura, no intúito de fortalecer o candidato Barack Obama, fundada na conscientização de que não poderia empolgar a nomination.
        Ao invés disso, Bernie Sanders se delicia com os prazeres de um verdadeiro jerk, chegando a encarecer a super-delegados que se juntem à sua pré-candidatura, que no modo vesgo de encarar a realidade seria a única com condições de bater o fenômeno republicano Donald Trump.
        Na verdade, o que o maverick (eu sozinho) Senador Sanders se promete é enfraquecer Hillary, e submetê-la a combate em duas frentes, i.e., enfrentar a artilharia de Trump, que procura destroçar-lhe as bases, enquanto ele - sem qualquer possibilidade concreta de empolgar a nomination -, saboreia, como autêntico estraga-festa, as possibilidades que o calendário eleitoral lhe proporciona nas restantes primárias até a última da Califórnia, para enfraquecer a rival democrata. Na verdade, vê-lo atuar como autêntico bloco do eu-sozinho é vê-lo agir  sem outro qualquer propósito senão o dos picadores nas touradas espanholas. Seu único intúito é o enfraquecimento do touro, que na imagem passa a ser o papel da candidata democrata submetida a um sem-fim de primárias, que se parecem comprazer com a sua debilitação.
         Pois que não se tenha nem se alimente dúvidas. Jungir o Partido Democrata a tal senhor - que promete mundos e fundos e que na verdade não motiva as minorias, e se limita a cativar estudantes e jovens,  a quem acena com as maravilhas de  Xangri-la - não vai adiantar em nada, pois pavimentaria a vitória do candidato do verão, que se lançou candidato prometendo construir outra muralha da China. Quem tem algum conhecimento de história, sabe da utilidade de tais barreiras.
         Colocar Sanders como candidato é condenar os democratas a estúpida derrota, enquanto a crise personificada seria eleita pelo GOP.
         É difícil saber qual seria a saída pior para a grande democracia americana.


( Fonte: The New York Times ) 

Nenhum comentário: