terça-feira, 10 de maio de 2016

Entre empulhação e judicialização

       

         Para que os sórdidos detalhes da manobra fossem desvendados, não tardaram vinte e quatro horas.
          De início, a conjura começou a fazer água quando o Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado, a rejeitou e manteve o rito do impeachment.
          Tampouco tardou muito para que se soubesse que o Deputado Waldir Maranhão (PP) viajara com o Governador Flávio Dino, que é do PCdoB, partido que mantém virtual união carnal com o PT, e mais tarde jantara com o irrequieto José Eduardo Cardozo.
          Dadas as consequências de tais contatos, não há dúvidas de quem jantou quem nessa refeição vesperal.
          O próprio antigo mentor, o deputado Eduardo Cunha, judicialmente afastado da presidência da Câmara, fez ouvir alto e forte o respectivo protesto.
           Mas a manobra - que Renan bem definiu como 'brincadeira com a democracia' - teve a vida de certas encabuladas criações da natureza. Afinal ignorada pela sua irrelevância, o autor revogou a própria criação, na solidão que lhe é costumeira.
            Como criaturas de vida curta, deixou suas marcas no primeiro sorriso de Dilma Rousseff, após tantas tristes carantonhas de um não-findar de atos públicos no Planalto.
             Para quem não sabe fazer canoas que naveguem por cursos mais alentados, um daqueles trezentos pícaretas de que nos falou talvez o maior deles, a cobertura durou um dia se tanto, mas se estendeu às margens de Hudson,  Tâmisa e  Sena, para só ficar no badalado circuito de Elizabeth Arden. De uma certa maneira, terá mostrado que a democracia brasileira pode ser jovem, mas defende-se bem.
            Mas alto lá, que o novelo dessa estória promete ainda enrolar-se, pois conhecido leguleio - que se tem mexido ou quiçá debatido muito nas últimas semanas - nos promete um enésimo recurso, dirigido este ao círculo dos xamanes maiores, a que ele comparece quando lhe aproveita.
             Não é que, fundado na esperança dos desesperados, fará mais um recurso ao Supremo, esperando que judicializem de vez o processo, e continuem na perigosa senda de mais  uma intervenção, agora na Casa mais alta.
             Quiçá não devera insistir, porque já diz o dito que o vasilhame muito usado, acaba por quebrar ou perder a serventia.
             Ao invés de bater na aldrava dos tribunais, melhor seria respeitar o querer do Povo, a quem acabam por cansar demasiados truques e falsas mágicas.


( Fonte:  O Globo )  

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