quarta-feira, 4 de maio de 2016

Quase certo Trump x Clinton

                             
         A meio surpresa foi a vitória decisiva de Donald Trump sobre o adversário que lhe deu mais trabalho, o Senador Ted Cruz (Texas). No dizer do New York Times, pouco simpático, amargo e mesmo corrosivo às vezes, Cruz afinal rendeu-se às evidências.
           Permanece na corrida o Governador de Ohio, Joe Kasich, que os observadores pensam fará apenas papel de figurante nas diversas primárias que ainda faltam. No entanto, política é política, e não semelha aconselhável riscar do quadro alguém  que persiste em campanha.
           Cruz tentou tudo, e assim aludiu às infidelidades maritais por atacado de Trump, chegando mesmo até ao cúmulo da baixaria de reportar-se às contraídas doenças venéreas do adversário.
           Poderia ter saído da refrega com  uma postura que lhe deixasse um pouco melhor no retrato da campanha. Mas pelo visto, tal não está no DNA do Senador Ted Cruz, o ambicioso líder da facção Tea Party, que alguns chegam a comparar a Joe McCarthy, seja pela desenvoltura, seja pelos pendores demagógicos.
            Trump foi sábio em não esfregar demasiado a total vitória sobre os adversários. Chegou mesmo a referir-se de modo simpático ao seu tenaz adversário, no que decerto mostrou grandeza.
             Fora o super-inesperado, Donald Trump parece reunir todas as condições para chegar em Cleveland já como o virtual nominee, mas dado o ódio que lhe vota a turma de cima do Grand Old Party (Magnífico Velho Partido)  afigura-se mais prudente esperar pela chamada ritual das representações estaduais. De qualquer forma, como os números o favorecem de forma esmagadora,  Trump pode mesmo controlar-se e parecer mais modesto e cordato do que é, para facilitar  aos grandes da direção republicana a ingestão dessa indigesta drágea.
              Por outro lado, e não por primeira vez, o incansável e na aparência inamovível Bernie Sanders logrou cortar em Indiana a série de triunfos de Hillary Clinton.
              Pesquisas anteriores já tinham revelado que o público - na grande maioria branco - de Indiana favorecia ao runner-up (principal adversário) de Hillary, o senador pelo Vermont, Bernie Sanders.
              Por isso, a principal candidata democrática na prática tirou o time de campo, não mais aí fazendo campanha, nem gastando com publicidade.
              Hillary tem, no entanto, que voltar a aguentar a retórica do adversário democrata.  Na prática, como disse Sanders "eu até entendo que a Secretária Clinton pense que essa campanha já era. Tenho más novas para ela: esta noite alcançamos grande vitória em Indiana. Na próxima semana, vamos para a Virgínia Ocidental. Temos boa chance de ganhar naquele estado".
              E enumerou os seguintes: Kentucky e depois Oregon. "E nós pensamos ter uma boa chance de igualmente ganhar lá."
               Embora Hillary Clinton tenha, por enquanto, vantagem substancial sobre o seu adversário republicano, tudo indica que a campanha será difícil e mesmo penosa (bruising)[1]. A pré-candidata democrata, se  o adversário Sanders continuar ganhando (embora pareça não ter mais condições de alcançar a nomination) tenderá a fazê-la gastar muita energia até que chegue à Califórnia, a última primária, numa via para a convenção de Philadelphia assaz desgastante.
                Enquanto tiver de aguentar o briguento rival interno, não poderá concentrar-se no objetivo precípuo do esforço, a saber encetar a campanha propriamente dita, i.e., o enfrentamento entre o candidato-surpresa e ela própria.
                Nesse sentido, toda a série de primárias que faltam representará um senhor desafio para Hillary. Ela terá de aguentar o tranco, a par das provocações e eventuais mesquinharias do adversário Sanders, enquanto Trump assiste de camarote a luta interna que enfrenta a rival democrata, com todas as suas possibilidades de escorregadelas e de golpes baixos.
                 Sem qualquer ironia, não nos resta senão desejar boa sorte à candidata Hillary, porque ela é de longe a melhor desse campo.

( Fonte:  The New York Times )

 
 


[1] com a implicação de troca de ofensas pesadas, que podem machucar.

Nenhum comentário: