domingo, 8 de maio de 2016

Colcha de Retalhos D 20

                             

Rejeição a Donald Trump


       Não há de surpreender que a rejeição a Trump, enquanto vencedor das primárias republicanas, não haja esmorecido.
       Essa repulsa das altas instâncias do GOP por ser visceral, poderá ao fim e ao cabo reduzir-se, mas ela tenderá a persistir.
       Não é de hoje que a elite republicana tem demonstrado o seu desprazer com a liderança nas pesquisas do candidato Trump. A princípio, ignorado como se fora um fenômeno do verão, aos poucos a incômoda verdade se foi entranhando nos chamados 'altos mandos' do Grand Old Party, em uma atitude que rescende à negação da elite partidária em ver a nomination  em Cleveland atribuída a alguém que não consideram um igual aos grandes nomes do partido.
       Na verdade - e as primárias foram até cruéis em demonstrá-lo - o Partido Republicano atravessa uma óbvia crise em termos de expoentes. Se o número de pretendentes era grande, quantidade não quer dizer qualidade.
       E na peneira dessas consultas populares, não tardou que fossem descartados os descendentes de grandes famílias presidenciais como Jeb Bush, políticos tidos como populares (Sen. Mario Rubio), o gov. de New Jersey, Chris Christie, derrubado pelo Bridgegate, até que o numeroso grupo ficou restrito ao Sen. Ted Cruz (Tx.) e ao Gov. de Ohio,  Joe Kasich.
       De todos esses, o que mais resistiu foi Cruz, mas tampouco teve perfil presidencial, por posturas demasiado rígidas e conservadorismo extremo. O próprio governador Kasich, derrotado como Cruz em Indiana, também desistiu, deixando sozinho o candidato que se pensara fosse fenômeno fugaz, pontificando no verão, para ser afastado durante as primárias...
       Apesar de toda a má-vontade, Donald Trump - o estranho no ninho - como uma moto-niveladora afastara todos os respectivos rivais, e agora chega à Convenção de Cleveland com a nomination no  bolso.
       Não podendo mais repudiá-lo, dada a sua aceitação pelo eleitorado do Partido, a hierarquia republicana não tem outra saída senão aceitá-lo e colocar-lhe como vice alguém que preencha duas condições: (a) ponha-se de acordo com o cabeça de chapa; (b) represente o restante das fileiras partidárias, altas e baixas, de modo a garantir uma eleição que não seja desastrosa para o GOP.


Compor-se com o virtual nominee Trump  


         Não surpreende que o Speaker da Câmara de Representantes, Paul Ryan, que já compôs chapa, enquanto vice do candidato republicano derrotado em 2012 Mitt Romney, venha a público declarar que ainda "não está pronto" para apoiar a candidatura de Donald Trump.
         Nisso Ryan não se diferencia de outros grandes republicanos, com a diferença, porém, de que esses últimos são has been  (foram) no passado e hoje não passam de retratos na parede como George W.H.Bush (presidente de um só mandato), o filho George Walter Bush e Mitt Romney (candidato derrotado em 2012 por Barack Obama).
          Quero crer que a próxima Convenção de Cleveland servirá para remendar as rusgas e resistências no GOP, atendida a circunstância que não pode ser ignorada, de que Trump, com todos os seus defeitos, ganhou de forma limpa a disputa nas primárias, vencendo a todos os 'campeões' que a hierarquia partidária trouxera para enfrentá-lo.
          Está na interesse da democracia americana que as duas partes se disponham a acordar-se, pela simples circunstância de que o Povo assim o determinou.
          Paul Ryan é apresentado como a maior autoridade política no Partido Republicano, pela circunstância de ser o Speaker (presidente) da Câmara dos Representantes. Por enquanto, a Câmara Baixa está destinada a ser um feudo do GOP pelo extenso gerrymandering que se sucedeu à real derrota em 2010, consequência então da inexperiência política de Barack Obama. Por isso, Nancy Pelosi foi afastada da cadeira de Speaker, pela votação  maciça no GOP e no nascente Tea Party (dos irmãos Koch). Por isso, Obama chamou a reação de shellacking (tunda). Como tenho relembrado amiúde, essa rebordosa, causada por uma eleição intermediária (em que o afluxo de eleitores costuma ser baixo) teve, no entanto, consequências duradouras em inúmeros estados, dada a sua coincidência com o censo decenal.  Foram criadas condições em diversos estados republicanos (vermelhos) para redistribuir os votantes em distritos eleitorais, congregados de tal forma a favorecer - dentro da prática do gerrymander - aos eleitores do GOP... Não tenho simpatias pelo Partido Republicano, como meus leitores não desconhecem, mas aconselho a Ryan a, no interesse da democracia, compor-se com o virtual candidato do GOP à presidência, sem muitas exigências, para evitar que ocorra ao Partido Republicano um desastre natural como sofreu o Democrata em 2010, com as bem-conhecidas consequências...
      O Speaker Ryan declarara: "Não quero minimizar o que ele já conquistou.  Nós esperamos que nosso indicado queira ser como Lincoln ou (discursar) como Reagan, e que seja alguém que atraia a maior parte dos americanos.
       E acrescentou: "Os conservadores querem ter certeza de que ele compartilha dos nossos valores e princípios. Há muitas questões  para as quais os conservadores desejam obter resposta".
       Em resposta, Trump divulgou a seguinte nota, declarando "não estar pronto para apoiar a agenda de Ryan." Contudo, acrescentou: "Talvez no futuro  possamos trabalhar juntos para chegarmos a acordo sobre o que é melhor para o povo americano."
       
        Sem embargo, a indecisão de Ryan não foi seguida pelo líder republicano no Senado Federal, Mitch McConnell.  Nesse sentido, afirmou "ter-se comprometido a apoiar o escolhido pelos eleitores republicanos. Donald Trump, o provável nominee está à beira de conquistar a nomination".




( Fontes:  O Globo;  Estado de S. Paulo )

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