terça-feira, 30 de junho de 2015

Novo round na Crise grega

             

         Hoje seria o dia de pagamento de parcela de Euros 1,6 bilhão ao FMI. Autoridades do governo helênico já disseram que tal pagamento não será feito.

          Também nesta terça-feira, 30 de junho, se encerra o presente acordo de ajuda dos países da Zona do Euro à Grécia. Igualmente deixam de operar as linhas extras de liquidez  do BCE (Banco Central Europeu).

           Mantido por muito tempo com o auxílio de instrumentos, o paciente grego é observado nervosamente, e não só pela equipe encarregada de mantê-lo em vida e se possível atuante, na Zona do Euro.

           As inquietudes que desperta entrarão em nova fase.  Através das diversas cortinas dessa divisão especial, elas são ainda imprecisas e, por conseguinte, mais angustiantes para os nervosos mercados, que como parentes de milionária senhora circulam ansiosos à sua volta.

           E, no entanto, toda essa expectativa acerca da partida ou não da velha Hellás do exclusivo clube do Euro, semelha à primeira vista reação despropositada. Com efeito, de que modo uma economia que corresponde apenas a 2% daquela da União Européia pode provocar tanta celeuma e a paradoxal aparência de que um tão diminuto mercado possa colocar a Europa Ocidental à beira de ataque de nervos.

           Enquanto a velha senhora da Bolsa de Atenas ficará recolhida por uma semana, a apreensão igualmente tomou conta de todas as demais. A maior queda foi na bolsa italiana de Milão, com 5,17%. Ainda na Europa, a sua principal economia, encarnada pela bolsa de Frankfurt, teve queda de 3,56%, enquanto o recuo em Paris foi de 3,74% e em Londres, de 1,97 %. Do outro lado do oceano,  o Dow Jones caíu 1,95%, e o S&P, de 2,09%. Na Ásia, Tóquio teve perda de  2,88%. A menor queda foi a da Bovespa, com 1,8%.

            Antes de examinar as perspectivas desta crise após o referendo, parece-me oportuno transmitir a opinião do economista Prêmio Nobel Paul Krugman.

            Para ele, “ficou óbvio já por algum tempo que a criação do Euro foi um terrível equívoco. A Europa nunca teve os requisitos  para uma exitosa moeda única – acima de tudo, dispor de uma espécie de união fiscal e bancária que possibilitasse, por exemplo, se uma bolha residencial estoura na Espanha, Bruxelas protege automaticamente os seus idosos contra quaisquer ameaças a tratamento médico ou a seus depósitos bancários.”[1] 

            Por outro lado, Krugman frisa que abandonar união monetária  é decisão muito mais difícil e assustadora do que não ingressar nela. Por isso, mesmo as economias com os maiores problemas repetidas vezes preferiram não testar o abismo da respectiva saída e os governos comunitários têm optado por submeter-se às exigências dos credores por uma rigorosa austeridade, enquanto o BCE tem atuado para conter o pânico do mercado. 

            No seu artigo, datado de 29 de junho, o economista se manifesta pessimista quanto à evolução da crise. Como os bancos estão fechados temporariamente, o governo impôs controles de capital, o que vem a ser  limites ao movimento de fundos para fora do país. Nesse quadro, lhe parece provável que o governo comece a pagar pensões e salários em ‘scrip’ (papel-moeda provisório para a emergência), o que equivaleria a criar moeda paralela. E na próxima semana o país realizará um referendo se aceita ou não as exigências da ‘troika’ (as instituições que representam os interesses dos credores por ainda mais austeridade).

            Ao ver de Krugman, a Grécia deveria votar Não, e o governo helênico careceria de estar pronto, se necessário, para abandonar o Euro.

            O Prêmio Nobel de Economia explica por que toma tal posição. A maior parte de o que se tem ouvido sobre a gastança e a irresponsabilidade grega é falsa. Procede que o governo grego gastava acima dos próprios meios no fim da primeira década deste século. Mas desde então, tem repetidamente cortado despesas e aumentado os impostos. O funcionalismo caiu em 25% e as pensões – onde havia abusos – tiveram cortes profundos. Se todas as medidas de austeridade fossem somadas, elas seriam suficientes em tese para eliminar o déficit original e gerar um superavit !

            Por que isso não aconteceu?  Pela simples razão de que a economia grega entrou em colapso, basicamente por causa dessas medidas de austeridade,  que fizeram com que os rendimentos caíssem.

           Este colapso, segundo Krugman, tem muito a ver com o euro, que colocou a Grécia em uma camisa de força.  Os casos de bem-sucedida austeridade, em que os países restringem os déficits sem provocar uma depressão, decorrem em geral de desvalorizações da moeda, que tornam as suas exportações mais competitivas.  Isto foi o que aconteceu no Canadá, nos anos noventa, e, mutatis mutandis o  ocorrido com a Islândia, mais recentemente.

            O problema com a Grécia é que ela, sem o dracma, não tem mais  esta opção. No entanto,  Paul Krugman precisa que não está propondo a saída grega do Euro.  Para ele, o principal problema dessa ‘saída’ está no risco do caos financeiro, de um sistema bancário esfacelado, de retiradas em pânico, e dos negócios prejudicados seja pelas dificuldades bancárias, seja pela incerteza quanto ao status legal das dívidas. Esta teria sido a principal razão por que sucessivos gabinetes gregos aceitaram as exigências de austeridade, e igualmente a explicação de por que a coalizão Syriza estava disposta a aceitar austeridade que já tinha sido imposta. Tudo o que pediu era que houvesse uma parada quanto a mais austeridade.

             Para Krugman, a causadora da crise é a troika. Apresentaram à Grécia uma oferta que era na verdade um ultimatum. No seu entender, ao fazer a imposição, prepararam a chamada oferta-padrinho, que Tsipras não poderia aceitar.

             Já hoje, os prognósticos aparecem um pouco menos pessimistas. Cresce a idéia de uma solução, na linha da proposta do professor do Insper, Gino Olivares: ‘a situação só será resolvida com boa vontade política, tanto de credores, quanto do governo grego. Está na hora de os técnicos saírem de campo e entrarem os políticos.’

             Para Jens Nordvig o referendo tem importância política significativa e será decisivo para a eventual permanência da Grécia na Zona do Euro. Para Nordvig, se o “sim” for maioria (i.e., o povo corroborando a escolha para continuar na zona do euro) será praticamente impossível  que a Coalizão Syriza//Anel permaneça no poder.

               Como não poderia deixar de ser, o próprio premier grego Alexis Tsipras admitiu a contingência, ao afirmar que respeitará a decisão popular.

               Assim, se o Não vencer, não será o fim do mundo, mas o ingresso em faixa de mais adversidades e turbulências...

               A campanha para o Plebiscito tentará mostrar quais são as perspectivas. Os que favorecerem o SIM estarão votando por mais do mesmo, com a eventual flexibilização política.

               Para os partidários do NÃO, o que é um voto de confiança ao Syriza, mas isto não implicará necessariamente na saída da Grécia da Zona do Euro. Há muita especulação quanto aos efeitos dessa eventual saída da Grécia, e a sua volta ao dracma.

               Por outro lado, os grandes efeitos previstos precisam ser redimensionados, pelas modestas dimensões da economia grega.

               Afinal, a crise helênica não pode ser comparada à falência do Banco Lehman Brothers. Esta, com o seu efeito cumulativo, causou a Grande Recessão Internacional. Pelo tamanho reduzido da economia grega, não é provável que surja uma  crise financeira internacional. Dentro dessa hipótese, com prejuízos incidentais para outra economias, serão sobretudo os gregos que pagarão a conta. Somente um encaminhamento desse problema de forma exageradamente desastrada fará com que esse prognóstico não se efetive.

 

( Fontes: The New York Times ( artigo de Paul Krugman);  O  Globo ) 



[1] Nas últimas duas linhas adaptei os exemplos da citação à situação na Europa.
 

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