sexta-feira, 12 de junho de 2015

Obama, Assad e o ISIS


                                      

         Depois que a Liga Rebelde deixou de ser uma ameaça real para o ditador Bashar al-Assad, o que se deve à decisão de Barack Obama de não armá-la[1] como lhe recomendavam as suas principais autoridades em segurança e política externa (inclusive Hillary Clinton), a situação do presidente da Síria melhorou de forma relativa.

         Se a vasta área a leste continuou fora do controle de Bashar, a guerra civil se tornou conflito de média e até baixa intensidade. Não mais o ameaça ,de forma terminal, a ida para o Tribunal Penal Internacional que vira desbotada imagem, e  as deserções e fugas de altos funcionários do regime alauíta não mais figuram no noticiário. 

         Tampouco se fala  dos acordos de Genebra, com que o novo Secretário de Estado John Kerry pensara preparar a paz, no que foi, na aparência, atendido pelo hábil Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Sergey Lavrov.

         O tempo cuidaria de mostrar que esse acordo de Genebra – como tantos outros no passado - era outro papel que a realidade  tornaria irrelevante. Com o enfraquecimento da Liga, os fiéis aliados de Assad trataram de gradualmente reforçar a posição do ameaçado Raiz. No mesmo barco estavam – como sempre estiveram – o Hezbollah,  milícia do clérigo Hassan Nasrallah, com base no Líbano, que passara a ajudar Assad, além dos velhos aliados, o Irã de Khamenei e a Rússia, de Vladimir Putin, este último cuidando de preservar quem lhe assegura base naval no Mediterrâneo, e aquele com o interesse estratégico de manter vivo o seu cliente Hezbollah, além de cuidar do grande jogo no Meio Oriente, no eterno embate com a Arábia sunita.

          Sem as armas que Barack Obama preferira negar aos rebeldes – que, sem embargo, ameaçavam Bashar al-Assad e eram apoiados pela Liga Árabe – essa decisão, tomada contra os quatro chefes competentes na matéria, virou verdadeiro ovo de serpente.

          O por vezes imprevisível Obama – que vencera Hillary na luta pelo nomination  no Partido Democrata pelo seu pressago discurso contra a Guerra de Bush no Iraque – por temor de mais um interminável conflito e querendo cortar nefárias alianças no futuro, resolveu investir contra plano de armar a parte no conflito que defendia os propósitos de liberdade surgidos no sul da Síria, em Derah, que era a mais próxima do Ocidente.

           Decisões erradas em matéria de política exterior e militar da Superpotência têm o vezo de voltarem mais tarde, com situação ainda mais deteriorada. Boas intenções por vezes, como reza o ditado, sóem pavimentar o caminho do Inferno.

           Vejamos o que ‘conseguiu’ o Presidente Obama ao vetar o conselho do quarteto de política externa no sentido lato. Que o leitor me perdoe a insistência. Mas decisões errôneas e apressadas relembram aquele que pensa resolver uma questão com credores batendo-lhes a porta.

            Não é necessário ser profeta para prever que esses senhores descontentes hão de voltar, em breve futuro, e em maior número. Problemas mal resolvidos tendem a ficar mais graves e menos manejáveis.

            Não me proponho delongar-me nessa questão, mas releva ter presente que ao negar armas e apoio para o grupo mais próximo do Ocidente, Obama não resolveu o problema ao enfraquecer o lado que tinha o apoio da Liga Árabe.

            O que vemos hoje com o ISIS é  decorrência não tão longínqua daquela apressada decisão de recusar apoio ao grupo que se ligava aos anseios libertários da revolta contra Assad.

            Hoje, surgiu não só na Síria, mas em boa parte do Oriente Médio um movimento que é decorrência da al-Nusra, que é por sua vez uma versão médio-oriental da al-Qaida do falecido Osama ben-Laden.

            É uma máxima quase prosaica de que o poder abomina o vácuo. Não deixa, no entanto, de ser verdade. A trajetória do ISIS que o leitor não desconhece e de que me tenho ocupado em meu modesto blog – é  demonstração quase embaraçosa de o que poderia ter sido evitado se o Presidente Obama não se tivesse precipitado ao recusar a já mencionada proposta de seu quarteto de política externa, no lusco-fusco da primeira Administração Barack H. Obama.

            Enfraquecendo de forma determinante a Liga Rebelde, a guerra civil na Síria involuíu para uma inesperada – posto que limitada – recuperação do regime de Bashar al-Assad.  Para quem se achava diante do aut-aut entre o asilo em alguma ditadura amiga, e o descobrir-se nas malhas do Tribunal Penal Internacional, até que o filho de Hafez al-Assad não se pode queixar. A sua Síria está destroçada, o seu domínio da parte ocidental parece assegurado, mas para leste se estende uma terra contestada.

            No entanto, no seu quintal surgiu um novo e perigoso elemento. O Exército Islâmico, de que me tenho ocupado nas passadas semanas, aparece como uma ameaça ao Ocidente e sobretudo aos países do Oriente Médio.

            Para maiores detalhes – seu califa, Abu Bakr al-Bagdhadi, a capital Raqqa, a sua governança - me permito remeter o leitor para os blogs pertinentes.

            O que me parece importante aqui assinalar é o vultoso dispêndio, notadamente dos Estados Unidos, mas também de outros países ocidentais – com os bombardeios contra o ISIS,  sua capital, e igualmente contra os avanços de suas formações em províncias do Iraque.

             Só na capital Raqqa as baixas do Isis seriam de dez mil pessoas, por quatro mil missões de bombardeio aéreo. É uma enorme despesa da Superpotência. Quanto aos efeitos dessas ações aéreas, elas são decerto destruidoras, mas se não houver uma força terrestre, o efeito dessas ações carece de ser secundado por forças operacionais terrestres.

             Até o momento, nessa vasta área que inclui parte da Síria, grande parte do Iraque, fronteira da Turquia, e Jordânia, para mencionar apenas as regiões mais afetadas pelo Exército Islâmico. A ação aérea da Superpotência e de seus aliados pode levar às areas ocupadas pelo itinerante Exército do Califa Abu Bakr o flagelo do poderio destrutivo do Ocidente. No entanto, esse temível poder não domina o terreno. Pode, em determinados casos, fazer a balança pender em favor de seus eventuais aliados, mas as forças de infantaria e artilharia que se defrontam com o ISIS – até mesmo os bravos peshmerga do embrião de um sonhado Curdistão – não tem mostrado até agora que possam suprir no terreno a força aérea do Ocidente (máxime os Estados Unidos) e arrostar com sucesso os batalhões do Isis.

              À vista dessas considerações, parece inevitável considerar que teria sido muito mais eficaz para os Estados Unidos que a Liga Rebelde houvesse recebido o apoio de que carecia, especialmente no que toca ao armamento.

              Tampouco se pode evitar o desconfortável pensamento de que os Estados Unidos teriam evitado as atuais grandes despesas da estratégia do combate aéreo se Obama houvesse a seu tempo dada a luz verde à proposta do quarteto de política externa.

              Ao invés disso, ameaçando o fragilizado e patético atual exército iraquiano, Washington tem pela frente um novo desafiante sunita. Comprazendo-se em ilusório intervalo, o Presidente americano pensou poupar dinheiro do Tesouro.

               Agora tem um novo inimigo pela frente, gestado por uma guerra inconclusiva, que pelo visto sairá para Tio Sam os olhos da cara.

 

( Fontes: The New York Times; O Globo )             



[1] Ao final de seu primeiro mandato presidencial.

Nenhum comentário: